Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Naquele Fim de Semana", da Netflix, é suspense com final horroroso

Adaptação do livro de Sarah Alderson tem Leighton Meester como uma mulher em busca da verdade após uma balada na qual a amiga desapareceu

Vitória
Publicado em 03/03/2022 às 19h42
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Filme "Naquele Fim de Semana", da Netflix. Crédito: Ivan Šardi/Netflix

As plataformas de streaming se tornaram uma boa casa para filmes de pequeno e médio orçamento que antes sairiam direto para as locadoras e, de lá, seguiriam para a televisão sem grande estardalhaço. Semanalmente, os serviços são inundados por diversas dessas produções, a maioria de gosto bem duvidoso - para cada “Kimi”, intencionalmente feito por Soderbergh para a HBO, ou “Através da Minha Janela”, produzido pela Netflix, há vários “Por Trás da Inocência” ou “Indecente”, filmes que outrora seriam esquecidos pelas distribuidoras até encontrarem espaços no “Cine Privê” ou, no melhor dos casos, no “Supercine”.

“Naquele Fim de Semana”, lançamento da Netflix, se encaixaria com méritos e defeitos na noite de sábado na Globo. O filme dirigido por Kim Farrant (“Terra Estranha”) a partir do livro homônimo de Sarah Anderson tem bom início, desenvolvimento confuso e um final horroroso. Na trama, Beth (Leighton Meester, de “Gossip Girl”) vai visitar a amiga Kate (Christina Wolfe) na Croácia - Kate acabou de terminar um relacionamento e Beth busca um final de semana de folga da vida de mãe.

As duas se hospedam em uma casa linda e partem para curtir as belezas do Velho Mundo. A ambientação do filme é interessante e cria a sensação de a Croácia ser um grande paraíso desconhecido a ser aproveitado, o que até justifica a mudança da ambientação do livro, que se passa em Portugal. Quando vão curtir a noite, no entanto, Beth e Kate conhecem dois bonitões e tudo fica confuso na cabeça de Beth, que acorda com flashes da noite anterior e com a amiga desaparecida. Ela parte então em busca de informação para recriar a noite anterior e encontrar Kate.

Passado o primeiro ato, “Naquele Fim de Semana” perde força em todo seu esforço para construir tensão e manipular a expectativa do espectador. O texto traz muita informação a cada cena, confundindo mais do que envolvendo e criando personagens caricatos - é fácil perceber quem é quem no filme, e até mesmo a grande virada tem seu impacto diminuído por um acontecimento prévio tratado com naturalidade.

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Filme "Naquele Fim de Semana", da Netflix. Crédito: Ivan Šardi/Netflix

Toda a narrativa é sustentada pela busca de Beth, mas também pela ridícula atuação da polícia no roteiro. A polícia croata de “Naquele Fim de Semana” é utilizada como muleta para um texto pouco imaginativo que depende desses recursos para suas viradas repentinas. Assim, com a polícia tropeçando na própria incompetência, cabe à protagonista desvendar a verdade com a ajuda apenas do misterioso Zain (Ziad Bakri), um refugiado sírio.

Todas as viradas e o excesso de suspeitos de “Naquele Fim de Semana” fariam do livro uma boa série, como as adaptações dos livros de Harlan Coben para a própria Netflix. Obras como “O Inocente”, “Não Fale Com Estranhos” ou até as irregulares “Fique Comigo” e "Desaparecido Para Sempre" seguem estrutura similar à do filme de Kim Farrant, mas têm tempo para desenvolver arcos e despertar a empatia do espectador com os personagens. Assim, a virada final não se torna apenas uma surpresa inesperada, mas algo construído ao longo de toda a narrativa.

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Filme "Naquele Fim de Semana", da Netflix. Crédito: Ivan Šardi/Netflix

“Naquele Fim de Semana” guarda suas viradas para o final e as encadeia sem oferecer um respiro. O filme ainda traz um discurso anti-machista repentino que seria melhor aproveitado se presente desde o início, não apenas para justificar atitudes de alguns personagens. Ao final, quando o roteiro deixa tudo explicadinho para que não reste dúvidas, o filme acaba com uma sensação de haver algo errado e até com uma descrença acerca do que acabamos de ver. O que fica é o final atropelado pela falta de desenvolvimento de arcos e personagens da trama, o que faz com que nos esqueçamos da boa premissa, da boa atuação de Leighton Meester e da ambientação. O problema, vale ressaltar, não é o que acontece, mas a maneira como se chega até lá.

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