Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Maligno": ótimo terror absurdo de James Wan chega à HBO Max

James Wan, diretor de "Invocação do Mal", volta ao estilo que o consagrou em um filme de terror que passeia por diversos gêneros e acerta na diversão

Vitória
Publicado em 12/10/2021 às 23h00
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Filme "Maligno", de James Wan. Crédito: Warner/Divulgação

James Wan começou sua carreira com o primeiro “Jogos Mortais” (2004), um filme pelo qual ninguém esperava e que pegou todo mundo de surpresa. Após dirigir o primeiro, Wan se tornou produtor da franquia que fez muito sucesso nos anos 2000 e partiu para outros projetos como o bom “Sentença de Morte” (2007) e duas grandes marcas do terror dos anos 2010, “Sobrenatural” (2010) e “A Invocação do Mal” (2013) - este, inclusive, deu início a um universo compartilhado (sonho de todo estúdio) de terror com filmes como “A Freira” (2018) e “Annabelle” (2014). Quando deu o salto para fora de sua zona confortável ao assumir “Velozes e Furiosos 7” (2015), Wan mostrou não ser apenas um bom diretor de terror, mas um sujeito que entende de entretenimento, impressão confirmada com o sucesso de “Aquaman” (2018).

Agora estabelecido como um dos queridinhos da indústria, James Wan retorna aos filmes de terror com “Maligno”, que chega sexta (15) à HBO Max após uma carreira tímida nos cinemas brasileiros. É importante contextualizar a construção da moral que Wan conquistou em Hollywood (e na Warner) para justificar a sensação de “como o deixaram fazer isso?” de seu novo filme.

“Maligno” é a história de Madison Mitchell (Annabelle Wallis), uma mulher que começa a vivenciar experiências estranhas de assistir a assassinatos brutais como se estivesse na cena do crime. O assassino é uma figura de comportamento estranho e parece escolher vítimas ligadas ao passado de Madison, mas qual seria a conexão entre ele e a protagonista?

O roteiro, coescrito por Wan, Ingrid Bisu e Akela Cooper, não é sutil e não deixa nada nas entrelinhas - “Maligno” é um filme de terror do início ao fim. O filme passeia entre subgêneros, inicialmente nos levando para um caminho, mas logo mostrando haver algo além daquilo. Assim, há terror sobrenatural, gore, alguns momentos de slasher e outros no qual o público se questiona acerca daquilo que vê em tela. E essa é a grande sacada de “Maligno”.

Ao invés de recriar o que já fez com êxito no gênero, Wan confere ao filme uma linguagem de filme “B”. Em determinado momento, por exemplo, após uma revelação, a câmera dá um zoom digno de novelas mexicanas ou de filmes feitos para as TVs americanas nos anos 1990 e 2000. O interessante é que “Maligno” se leva a sério o tempo todo, não utilizando nenhum de seus absurdos para criar alívios cômicos - o espectador se diverte ao entender o que presencia e principalmente se perguntando “como deixaram James Wan fazer esse filme?”.

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Filme "Maligno", de James Wan. Crédito: Warner/Divulgação

“Maligno” é quase sempre absurdo, nonsense, e os personagens tratam tudo com a maior normalidade do mundo desde a sequência inicial, situada em um peculiar hospital durante os anos 1990. É claro que esse cenário será revisitado no terceiro ato, e quando o filme conduz uma personagem até lá, a sua representação é caricata; é óbvio, afinal, que as respostas estarão nesse grandioso hospital gótico abandonado.

James Wan brinca também com estilos de filmagem e ângulos de câmera. O cineasta opta por takes longos em cenários em que pouca coisa acontece para criar uma tensão, gerando uma sensação de algo está para aparecer, mas posiciona sua câmera, por exemplo, embaixo da cama. Em outro momento, o diretor registra de cima uma sequência em que Madison entra na casa, explorando andares e ambientes enquanto a protagonista vai rumo ao desconhecido. Já durante a ação, Wan mantém sua câmera sempre em movimento - a sequência inicial remete aos filmes de terror de Sam Raimi, enquanto outra, já no terceiro ato, se assemelha aos filmes de ação modernos estilo “John Wick”.

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Filme "Maligno", de James Wan. Crédito: Warner/Divulgação

Por mais que divirta pelo absurdo, “Maligno” é também recheado de problemas. O roteiro é um festival de exposição e diálogos didáticos para que absolutamente tudo seja explicadinho. Wan faz questão de deixar claro estar fazendo um filme de terror como entretenimento estiloso e nada além disso. Para explicar toda a trama para os personagens (e para o público), o texto utiliza fitas antigas convenientemente guardadas e das quais se lembram em momentos mais do que oportunos. Ainda na lista dos pontos baixo, a atuação de Annabelle Wallis é irritante e superficial, dando vida a uma Madison inócua e pouco interessante, uma personagem com a qual nunca nos importamos tanto.

“Maligno” é um filme que paradoxalmente se leva a sério demais justamente para não que o levemos a sério demais. O novo terror de James Wan tem boas reviravoltas, com pistas desde o início, e muito estilo, do design de produção, com um vilão fascinante e intimidador, um mix de CGI e efeitos práticos, às ambientações sempre em meia luz para criar um clima “suspeito”. “Maligno” é um terror com alguns poucos sustos, mas com ação que diverte e situações provocam a suspensão da descrença no espectador - é preciso abrir mão de algumas convenções para assistir ao filme, mas, quando isso acontece, o resultado é ótimo.

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