Crítico de cinema e colunista de cultura de A Gazeta

Gabi Melim: "Nossa positividade é genuína, não somos reféns dela"

Em entrevista para divulgar o recém-lançado EP "Eu Feat. Você", Gabi Melim fala sobre como a banda está mantendo seus funcionários mesmo durante o isolamento social e diz não se sentir refém da positividade que marca a carreira do trio de irmãos

Publicado em 17/05/2020 às 06h00
Atualizado em 17/05/2020 às 11h22
Banda Melim
Banda Melim. Crédito: Eduardo Orelha/Divulgação

Basta alguns minutos de conversa ao telefone com Gabi Melim ao telefone para perceber que ela realmente vive a positividade que canta do lado dos irmãos Rodrigo e Diogo. O trio Melim se destacou desde o momento em que subiu ao palco do “Superstar” e mesmo não tendo ganhado a edição, vencida por Fulô de Mandacaru, foi o nome que mais se destacou entre todas as concorrentes.

Logo, em 2018, a banda lançou o EP autointitulado e a música “Meu Abrigo” estourou. A partir daí se tornaram sinônimo de “good vibes” e positividade na música brasileira, com canções sempre animadas, falando de amor, paz e boas energias.

O trio agora está de volta com “Eu Feat. Você”, EP de oito músicas que na verdade faz parte de um disco dividido em duas partes. Gravado no Capitol Records Studios, em Los Angeles, nos EUA, o disco traz a banda com uma sonoridade um pouco mais voltada para a música pop, mas sem deixar de lado o reggae e a música brasileira. A música dos irmãos Melim ganha grandiosidade com naipe de metais, uma nova camada que não descaracteriza o som da banda e o deixa ainda mais "pra cima".

Todas as canções já foram devidamente já transformadas em clipes com as imagens da banda em Los Angeles. O disco tem participações de Rael, Lulu Santos e Saulo, todos selecionados por terem a mesma energia, como disse Gabi, em entrevista por telefone.

Na entrevista abaixo, falamos sobre as dificuldades do isolamento (a banda mantém todo seu quadro de funcionários mesmo com a agenda de shows paralisada), sobre a participação da banda no "Superstar", e sobre uma dúvida que pairava sob minha cabeça: a banda se sente refém de ser sempre positiva? Confira!

Como está sendo esse isolamento pra vocês? Como estão lidando com a falta de shows, a falta de contato direto com o público?

Acho que é o momento mais difícil pra gente, ainda mais vendo tudo pelo que as pessoas estão passando, isso mexeu muito comigo. Em contraponto, pessoalmente, eu consegui me organizar, compor com mais frequência, sabe? A gente tá trabalhando muito também, porque a gente tá conseguindo dar uma atenção a mais pras nossas redes sociais, então a gente não fica com tempo ocioso. Agora eu comecei a sentir falta da rotina de viajar todo dia, no início foi como um descanso, mas agora já tem dois meses. A gente obviamente está mantendo nossa equipe. Com a live que a gente fez, com os patrocínios, a gente conseguiu manter esse custo fixo que temos com nossos funcionários de estrada e de escritório.

A live ficou bem legal, foi uma super produção...

Ah, que legal! Acredita que eu não assisti à live até hoje? Tem muita coisa que eu gravo que eu não assisto. Rodrigo e Diogo já gostam de assistir a tudo, eu não.

Vocês têm um entrosamento muito legal, então pra fazer uma coisa mais íntima, tipo foi a live, funciona muito bem.

A gente pensou que, ao invés de colocar as bases das músicas, serie melhor fazer uma parada mais livre, tira um pouco o peso de um errar (risos), repetir o refrão duas vezes ou não, fica uma coisa bem natural, espontânea, sem aquela coisa de ter que lembrar, tão maquinal, o formato de cada música. Sei lá, a gente queria fazer igual faz som em casa, bem livre. Acho que de alguma forma acaba levando um respiro pro público também. Nossas músicas falam de coisas boas e, de alguma maneira, muda a energia. É muito legal saber que nossa música pode fazer isso.

Vocês foram pra Los Angeles gravar o disco. Quando foi isso?

Nossa... você escolheu dos três a pior com as datas (risos). Lembro que fomos pra lá numa segunda-feira (risos), mas acho que foi em maio do ano passado. É... faz um ano. Que doido, né? A gente fez uma pré-produção no Brasil e levou a maioria das vozes já gravadas. Fizemos também um esboço dos arranjos aqui. Chegamos lá e gravamos tudo à vera lá no Capitol com músicos do Brasil com quem a gente já tinha um contato, um carinho, a galera com quem a gente já tinha gravado o primeiro disco. A gente quis resgatar essa galera porque gostou muito do resultado do primeiro disco. Acho que a nossa relação com os músicos vai além também só da música. A gente gosta de pessioas que elevem nossas energias, que sejam legais, fáceis de lidar. São todos pessoas muito talentosas e também muito abertas a ouvir. A companhia de todos é muito leve, muito bacana.

Rodrigo, Gabi e Diogo em Los Angeles
Rodrigo, Gabi e Diogo em Los Angeles

O disco tem uma sonoridade mais pop, né? Foi algo pensado desde o início?

Essa primeira parte tá mais pop. No nosso primeiro disco... A gente acaba amadurecendo, né? De tudo por que a gente passa a gente tira um aprendizado. A gente ama o primeiro álbum, mas sentiu falta de alguns elementos que não fossem tão orgânicos.

Digo até de timbres, de camadas...

Esse lance das músicas, da mensagem de amor, de positividade, é uma coisa muito verdadeira da gente, muito genuína, então sempre vai prevalecer nas nossas composições. Mas existe essa diferença sonora, não sei se pela maturidade, mas um pouco por um fiapo de cabelo branco que surgiu na Melim (risos) nesse tempo que a gente tá viajando e fazendo show praticamente todos os dias. São mais ou menos 20 shows por mês, então a gente acaba fazendo muito mais música do que fazia antes. Acho que isso se reflete no álbum.

Vocês pensaram na mudança como uma saída pra não se repetir também?

Acho que a gente precisa se reinventar de alguma forma, né? Acho que esse é o maior desafio e o maior prazer de quem trabalha na música.

Você falou dessa coisa que é muito genuína, da positividade, do amor, da paz. Vocês se sentem um pouco reféns disso?

Acontece muito naturalmente porque a gente gosta. Realmente acreditamos que tudo o que falamos volta de alguma forma. A gente emana isso. É a mesma coisa que um caminho. Se você tá acostumado a virar o carro no mesmo lugar, a pegar o mesmo caminho, é comum que você faça isso várias vezes. Nosso pensamento é muito parecido. Se a gente pensa de uma forma negativa sobre uma coisa, é como se a gente estivesse clamando pra que aquilo acontecesse de novo, isso que é o significado da palavra reclamar, né? É clamar de novo. A gente não para pra analisar, né? Quando a gente tá reclamando muito de uma coisa parece que estamos trazendo aquilo de novo. Acredito que as palavras tenham muita força. Achei legal essa pergunta sobre nos sentirmos reféns porque eu sinto que as pessoas esperam isso da gente, sabe? O EP tem "Menina de Rua", que é um pouco mais engajada, um tema um pouco mais social, embora a gente trate dele com muita leveza, muita poesia. Se daqui a um tempo a gente quiser se engajar mais, não sei muito bem como o público vai responder, mas a gente vai sempre ser autêntico nas coisas que a gente acredita porque foi assim que nossa música chegou. Quando lançamos o primeiro álbum, as pessoas não achavam que "Meu Abrigo" fosse a música mais forte, mas a gente falou "tudo bem se não for a mais forte, tudo bem se não virar". É claro que a gente gosta do retorno do público, mas a gente achava que a música representaria bem a banda, era a música com mais vocais do nosso primeiro disco, e mostra muita essa unidade. A gente carrega muito isso, de fazer o que acredita. Foi a mesma coisa nesse segundo álbum, resolvemos fazer uma coisa que amamos, em que acreditamos, e se as pessoas gostarem vai ser lindo, mas não ficamos obcecados com o resultado. A gente dá o tiro, mas quem atira não é a gente. A resposta do público é sempre uma surpresa.

Por que dividir o álbum em dois EPs?

A gente percebeu no primeito álbum que muitas músicas de que a gente gosta muito, que tinham potencial de single, acabaram não sendo trabalhadas como single porque o disco tem um tempo de consumo que depois ele deixa de ser novidade. A gente pensou que lançando em duas partes a gente consegue trabalhar, aproveitar mais o álbum. Acho que dá uma lupa a mais pra cada música. Partiu da gente a decisão, mas a gravadora também foi super parceira e gostou muito da ideia. Acho que não fazia sentido sair lançando singles, que combina com alguns estilos e com algumas maneiras de projeção de carreira, mas como a gente é banda e fala de uma maneira mais completa de alguns assuntos, a gente precisa de um álbum pra poder passar as sensações.

Me fala um pouco das participações. Eu entrevistei o Rael no lançamento do "Capim Cidreira", do qual vocês participam, e ele falou que vocês já tinham ensaiado uma parceira, mas não tinha rolado, aí vocês gravaram com ele. Agora ele tá no disco com vocês. Como foram essas participações? Tem até Lulu Santos...

No nosso primeiro álbum a gente quis beijar o Rael, mas ele não quis beijar a gente (risos). O convidamos, mas ele tava vivendo um momento superdifícil de perda, se não me engano até do Miranda (Carlos Eduardo Miranda, produtor)...

Isso, eles já estavam até em estúdio dando início à produção do novo disco dele. Ele falou que precisou se isolar pra entender o que tinha acontecido. Ficou em casa, cuidando da hortinha...

Pois é, não foi um bom momento. É engraçado, a gente não tem muito essa coisa... Acho que todo artista, de alguma maneira, tem uma ligação com o ego de alguma forma porque estamos no palco, mostrando as músicas, e as pessoas aplaudem, isso já é uma ligação com o ego, mas a gente entendeu que era um momento diferente pra ele. Na época ele não falou o que tinha acontecido, mas a gente ficou super de boa pensando que quando rolasse seria lindo. No primeiro álbum a gente tentou algumas pariticpações que não aconteceram. Não foi o caso do Rael, mas acho que pode ter acontecido com outros artistas de ser o primeiro álbum de uma banda. Embora a galera curtisse o nosso som, ainda era muito novo.

Quando rolou o "Superstar" vocês tinham acabado de se juntar como banda mesmo, né? Mesmo que cada um já tocasse separado...

Sim, a gente tinha se juntado há uns dois meses (risos).

Acho uma pena não ter mais o programa...

Pois é, era um programa diferente. Você levava música autoral e isso era muito legal. Era banda mesmo. Isso é uma coisa que acontece muito em reality. As pessoas me perguntam "por que você acha que a galera que ganha o reality não segue com carreira forte?". Acho que as pessoas acreditam que alguém vai te colocar em algum lugar, que o programa vai te levar, e, na verdade, não é assim que acontece. Tudo vem pra somar, mas é a gente que cria o caminho. Mas voltando às participações, não fungindo da sua pergunta, porque eu começo a viajar...

Não, eu também sou terrível, começo a falar e de repente nem sei onde estou... (risos)...

Pois é... O Rael é incrível porque ele cantou a nossa letra. Normalmente a galera do rap costuma cantar o que escreve, mas achei super legal uma música nossa ganhando vida na voz do Rael. A gente escreveu pensando nele, não foi uma coisa aleatória. Ele é um amor, uma pessoa muito querida. Você já entrevistou ele e sabe disso.

Sim, ele é sempre muito legal.

Pois é, é um querido, uma pessoa muito fácil de trabalha com ele. É um artista que consegue ter o universo da genialidade do artista. Ele parece às vezes que tá em outro plano. Fiquei muito feliz de tê-lo no álbum porque ele influencia muito a gente. O Lulu (Santos) é uma coisa que até hoje não caiu a ficha. Eu postei um vídeo cantando uma música dele com o ukulele no meu Instagram e ele comentou, repostou e me mandou um direct. Aí eu tive um derrame com o qual estou tentando lidar até hoje (risos). Acho que o Lulu tá acima do bem e do mal na música pop brasileira. A contribuição dele é muito forte, então mesmo que uma pessoa não seja fã dele, muito do que a pessoa escuta foi influenciado pelo Lulu, sabe? Ele sempre foi muito autêntico no que ele faz, então tê-lo no nosso álbum é muito especial. A faixa de que ele participa, "Cabelo de Anjo", uma composição dos meninos, é muito especial pro Diogo porque é uma homenagem à filha dele e o Lulu tá lá dividindo isso. E ele é muito querido. Gravou praticamente a música toda no estúdio dele e falou pra gente selecionar a parte que encaixasse melhor. Na hora de gravar o vídeo também gravou da casa dele, com a gente dirigindo, e ele fez com o maior carinho.

E tem o Saulo também, né? Outro cara super "good vibes".

Sim, tem o Saulinho, pra matar a pau. Ele canta no "Cantando eu Vou". A gente se conheceu no "Música Boa", programa do Multishow, e ele é realmente essa figura espiritual. Se existisse um teatro dos sentimentos ele seria a personificação da paz. Ele é esse cara e ainda tem aquela musicalidade que eu amo demais. A gente já abriu show dele algumas vezes e eu já pude assistir ali do palco. Ele é um cara muito legal. Essa faixa que ele canta fala de tudo isso, amor, paz... Acho que é a música mais "good vibes", mais brasuca do álbum.

Os convidados têm muito a ver com a mensagem de vocês, né?

Têm muito! Eles carregam isso de falar de amor, de serem positivos, de serem pessoas iluminadas. Sempre que a gente esbarra com o saulo, conversa com ele, sempre tem algum ensinamento legal. Da última vez que estive com ele, me lembro dele falar "Pô... Eu sou artista eu gosto de gente. Acho estranho o artista que nao gosta de estar no povo". E é isso, parece que a pessoa escolheu a profissão errada (risos). Ele é um cara que acrescenta muito.

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