Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

Filme de Notorious B.I.G. na Netflix é boa história de origem

Lançado pela Netflix, documentário "Notorious B.I.G.: A Lenda do Hip Hop" tem ótimo material de arquivo e reconta a história do rapper assassinado em 1997

Vitória
Publicado em 01/03/2021 às 23h02
Documentário
Documentário "Notorious B. I. G. : A Lenda do Hip Hop", da Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação

Em 2018, a Netflix lançou a série “Unsolved”, que acompanha um detetive voltando aos casos dos assassinatos dos rappers Tupac Shakur e Notorious B.I.G. - ainda sem soluções, acredita-se que os casos estejam conectados principalmente em função da rixa criada entre rappers de Los Angeles e Nova York nos anos 1990. Na série, Josh Duhamel vive o detetive Greg Kading, autor do livro “Murder Rap”, que mostra a visão da polícia acerca dos casos. A minissérie foi um sucesso e apresentou para muita gente um universo ainda desconhecido.

A Netflix agora volta ao universo do rap noventista com “Notorious B.I.G.: A Lenda do Hip Hop”, documentário que deixa um pouco de lado as investigações da morte de um dos rappers mais importantes da história e investe na transformação de Christopher Wallace na lenda que foi baleada em 9 de março de 1997, em Los Angeles.

Diretor de clipes de Weezer, Raconteurs, Vampire Weekend, entre outros, e de documentários sobre Jack White, Kevin Durant, Jack Johnson, o diretor Emmett Maloy tem experiência no estilo de filme que entrega. Com depoimentos de amigos de infância (os que sobreviveram…), da mãe e até da avó de Big, o filme da Netflix é totalmente centrado na transformação de seu biografado - de uma criança de escola católica no Brooklyn à traficante de crack. “Notorious B.I.G.”, o filme, dialoga bastante com o documentário “Crack: Cocaína, Corrupção e Conspiração”, também no catálogo da Netflix.

Partindo das entrevistas recentes e de material de arquivo de Big, o filme constrói a narrativa de um grupo de crianças atraídas pelo glamour do tráfico de drogas nos anos 1980. Assim, vamos conhecendo o rapper, sua família e seus amigos, além de entendermos um pouco como funcionava a Nova York, principalmente o Brooklyn, da época.

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Documentário "Notorious B. I. G. : A Lenda do Hip Hop", da Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação

Traçando um paralelo com outro documentário recém-lançado pela Netflix, “Pelé”, “Notorious B.I.G.: A Lenda do Hip Hop” é mais um filme feito para contar a história de um ícone para pessoas de fora daquele universo, ou seja, não vai realmente surpreender fãs do rapper pelas histórias contadas, que nunca se aprofundam muito além de uma ou outra fala mais íntima. Ainda assim, é interessante ver a quantidade de material de arquivo sobre o rapper e conhecê-lo pelo olhar de sua mãe e de pessoas próximas.

O filme, vale ressaltar, tem Sean Combs (ex-Puff Daddy) e Voletta Wallce, mãe de Biggie, como produtores. Combs é o sujeito que levou Biggie ao estrelato e que ainda hoje detém os direitos de suas músicas, então não há interesse algum em arranhar a imagem do rapper morto aos 24 anos - tudo é devidamente calculado. O roteiro não foge de assuntos que já são de conhecimento público, como o envolvimento de Biggie e seus amigos com o tráfico durante a adolescência, mas ameniza o tom e omite problemas legais e até prisões que ele teve quando já era famoso.

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Documentário "Notorious B. I. G. : A Lenda do Hip Hop", da Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação

É estranha, ainda, a omissão de praticamente toda a rixa entre Tupac e Biggie. O documentário coloca seu biografado como “santo” na história toda, mas como pode ser visto em diversos outros materiais sobre os dois, a rixa foi alimentada por ambos durante bastante tempo.

“Notorious B.I.G.: A Lenda do Hip Hop” é um filme agradável, cheio de boa música, com ótimas histórias sendo contadas e uma quantidade surpreendente de filmagens de arquivo pouco divulgadas. Emmett Malloy reconstrói bem o Brooklyn de Biggie durante as entrevistas e nos faz entender a ambientação mesmo sem nunca termos pisado em Nova York. A escolha de cenário para as entrevistas é ótima, passando por teatros, pequenas casas de show e até igrejas abandonadas.

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Documentário "Notorious B. I. G. : A Lenda do Hip Hop", da Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação

Como uma história de origem, o filme poderia explorar mais as idas do jovem Biggie à Jamaica, onde sua mãe nasceu, e a influência disso em sua carreira; há apenas um pequeno momento por lá e uma entrevista com um tio. O início da carreira do rapper também poderia ser mais bem trabalhado, antes e depois de Sean Combs entrar na história, pois a presença do ex-Puff Daddy e ex-P. Diddy é um catalisador na mudança de estilo de Biggie, que deixou um pouco a agressividade do gueto de lado para dar vida a canções mais dançantes e alegres. Combs tem boas falas, mesmo tentando amenizar a figura de Biggie.

Se você já conhece a história de transformação de Christopher Wallace, vale assistir pelo material de arquivo. Se você ainda não conhece, “Notorious B.I.G.: A Lenda do Hip Hop” oferece uma história de origem boa, mas um tanto rasa, para um dos nomes mais importantes da música pop, um dos caras que mudou o rap para sempre. De qualquer forma, há muito material disponível em filmes, documentários, séries e podcasts sobre Biggie Smalls, Notorious B.I.G., Big ou apenas Christopher Wallace.

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