Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Desejo Fatal": Série erótica da Netflix não merece seu tempo

Com sexo, crime e traições, "Desejo Fatal" traz algumas boas questões, mas é tudo muito superficial. Série é remake de "Desejo Sombrio", também da Netflix

Vitória
Publicado em 08/07/2023 às 02h59
Série sul-africana
Série sul-africana "Desejo Fatal", da Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação

Em sua primeira cena, “Desejo Fatal” já se resume de forma bem completa. Com uma montagem rápida alternando cenas de sexo e violência, ouve-se uma voz feminina dizendo algo como “sexo, fornicação, transa… Como algo tão bom pode ser tão perigoso?”. O que se vê a seguir é um festival de clichês e, ironicamente, bem pouco sexo para uma série que se vende como erótica.

Desejo Fatal”, vale ressaltar, é um remake sul-africano do sucesso mexicano “Desejo Sombrio”, mas alivia alguns discursos, principalmente a violência contra a mulher, e enxuga alguns arcos. O resultado é uma série menor, com uma primeira temporada formada por sete episódios de cerca de 35 minutos cada, contra 18 episódios da série mexicana.

“Desejo Fatal” acompanha Nandi (Kgomotso Christopher), uma bem-sucedida advogada e professora, casada com um influente juiz, Leonard (Thapelo Mokoena), e com uma suspeita que ele a esteja traindo. Durante um final de semana, Nandi viaja para um paradisíaco balneário com a amiga Brenda (Lunathi Mampofu) e, por lá, conhece o jovem bonitão Jacob (Prince Grootboom), com quem tem uma tórrida noite de sexo. No dia seguinte, porém, Brenda aparece morta em uma banheira com indícios de suicídio, mas será que foi mesmo?

A série se desenvolve como um thriller policial e tenta convencer o espectador que há perigo no ar – há sempre alguém à espreita, tirando fotos ou observando em comportamento suspeito. Jacob deixa de ser apenas “o cara que Nandi conheceu na praia” e se torna alguém mais presente na vida da protagonista. As tramas vão se entrelaçando, mas, ao contrário da série original, há pouco tempo para desenvolvê-las. Vuyo (Nathaniel Ramabulana), por exemplo, personagem essencial ao texto, tem pouquíssima profundidade além de ter sido apaixonado por Nandi no passado. Da mesma forma, Ameera (Rizelle Januk) e sua amiga Laura (Frances Sholto-Douglas) têm pouco tempo de tela, apenas o suficiente para que a série trazer um superficial discurso de orientação sexual.

Série sul-africana
Série sul-africana "Desejo Fatal", da Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação

O texto busca o mistério e não nenhuma vergonha de forçar a barra. Aos poucos, com alguns flashbacks, já tendo a informação da cena de abertura, o espectador vai montando o quebra-cabeças e criando suas próprias teorias. Não que isso importe muito, pois “Desejo Fatal” gosta de manipular a expectativa do público, conduzindo para uma pista, um caminho, apenas para derrubá-lo em sequência com alguma informação nova apresentada de forma nada natural.

“Desejo Fatal” faz escolhas interessantes ao trabalhar o desejo e a sexualidade de mulheres maduras. Na maior parte das cenas, são as mulheres que comandam a ação, que demonstram vontade de ter relações sexuais. Essas cenas, no entanto, ficam muito mais no imaginário do que em tela, pois é tudo muito seguro, com mãos sempre impedindo atrizes e atores de mostrarem mais, além de montagens com cortes rápidos e às vezes pouco compreensíveis. É uma escolha estética que não chega a ser um problema, mas que acaba fazendo com que o filme não entregue o que promete.

Série sul-africana
Série sul-africana "Desejo Fatal", da Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação

Para quem gastou um bom tempo assistindo a “Desejo Sombrio”, “Desejo Fatal” é um grande desperdício e não há nada que faça valer a pena o tempo gasto. Para quem ficou com preguiça da grande quantidade de episódios da série mexicana, no entanto, a série sul-africana tem algo a oferecer – ela não é boa, recorrendo a clichês o tempo todo e optando por uma condução nem sempre funcional. O roteiro deixa tudo explicadinho, repetindo em diálogo o que acabou de ser mostrado e, ao final, é irônico constatar que todos os conflitos poderiam ser resolvidos com uma conversa de cinco minutos entre os envolvidos ou até mesmo um e-mail.

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