Crítico de cinema e colunista de cultura de A Gazeta

Crítica: "Projeto Gemini" tem Will Smith e cara de anos 1990

Filme que coloca Will Smith contra uma versão mais nova dele mesmo não se aprofunda na ação ou no thriller

Publicado em 10/10/2019 às 19h22

É Will Smith, mas poderia ser Harrison Ford, Mel Gibson, Clint Eastwood, Johnny Depp, Nicolas Cage, Sylvester Stalonne ou Arnold Schwarzenegger enfrentando sua versão mais jovem em "Projeto Gemini", um roteiro que roda os estúdios de Hollywood desde a década de 1990, quando a Disney produziria o filme. Tony Scott ("Chamas da Vingança") e Curtis Hanson ("Los Angeles: Cidade Proibida") estiveram envolvidos com a produção do filme em algum momento, mas o projeto sempre era abandonado por um simples motivo: a tecnologia não era avançada o suficiente.

Com direção de Ang Lee ("As Aventuras de Pí"), "Projeto Gemini" entrega um espetáculo técnico que impressiona o espectador durante duas horas de projeção. Com Will Smith no papel principal, o roteiro conta a história de Henry Brogan, um ex-soldado transformado no mais talentoso assassino do mundo. Decidido a se aposentar após descobrir que muito acontece por baixo dos panos, ele não terá vida fácil para se desligar de seus antigos e poderosos contratantes. Henry então busca o apoio de velhos e novos amigos - Baron (Benedict Wong) e Danny (Mary Elizabeth Winstead) - para conseguir sobreviver ao maior rival que já cruzou seu caminho: uma versão mais nova dele mesmo, com todas as habilidades, mas sem a carga emocional (eu sei que soa brega).

Anos 90

Não é à toa que "Projeto Gemini" é noventista do início ao fim. Além da concepção do filme ter origem em tal década, seu produtor, Jerry Bruckheimer, fez fama no mesmo período assinando obras como "Bad Boys" (1995), "A Rocha" (1996), "Con Air" (1997) e "Armageddon" (1998). À época ele era considerado uma estimada e valiosa grife em Hollywood, um Midas.

O filme é dividido em duas partes distintas. A primeira delas tem toques de espionagem, com Henry descobrindo as verdades sobre a organização paramilitar para qual trabalhava. Com texto simplório e datado, o filme pode agradecer sua dignidade ao trabalho de atores e diretor. O roteiro surpreende negativamente ao não fazer uso do que Will Smith tem de melhor, seu timing de humor e seu carisma - sorte que Benedict Wong funciona como bom alívio cômico. Já Mary Elizabeth Winstead surpreende com intensidade nas cenas de ação (uma boa notícia para quem espera muito de "Aves de Rapina"). Vale destacar também a entrega física do dublê/ator Victor Hugo, que é substituído pela versão rejuvenescida de Will Smith.

É quando a trama de espionagem é deixada de lado e o filme se dedica  à ação que ironicamente as coisas começam a desandar. Não que as cenas sejam ruins ou mal-feitas, pelo contrário, ele poderia é ter mais ação. Ang Lee sabe filmar e faz bom uso dos recursos oferecidos a ele - uma sequência de motocicletas chega a ser espetacular -, mas tem que fazer milagres com o texto que tem em mãos.

O roteiro não entrega quem é Henry, mas também não o cria como um sujeito misterioso. Apenas temos contato com o personagem quando ele decide se aposentar, não existe empatia. O mesmo acontece quando somos apresentados a Clay Varis (Clive Owen), um vilanesco e subdesenvolvido chefe da organização Gemini.

"Projeto Gemini" carece de identidade. Se tivesse sido produzido nos anos 1990, seria 100% focado na ação e teria funcionado bem. Tendo sido tirado do papel nos dias de hoje, esperava-se mais profundidade. O roteiro chega a levantar, por exemplo, o tema histórico de como negros são usados na linha de frente pelos EUA nas guerras, mas não leva a discussão à frente.

Como dito antes, a tecnologia utilizada impressiona. Ao contrário do que vemos em alguns "rejuvenescimentos" recentes, o de Will Smith não parece artificial, mesmo que não funcione o tempo todo. Outra novidade são os 120 quadros por segundo, o dobro de um filme "normal", algo que para o grande público não causa encanto, apenas estranheza de ter "algo diferente".

Ao fim, "Projeto Gemini" não é tão ruim quanto têm alardeado, mas tampouco é o que poderia ser. O filme de Ang Lee não se aprofunda quando tenta ser um thriller de espionagem sci-fi e tampouco entrega ação o suficiente quando promete fazê-lo. Com mais de duas décadas de produção, muitas mudanças e adaptações no roteiro, o filme é um retrato de sua história, uma obra sem personalidade que não entrega o que promete nem o que poderia vir a ser.

Nota: 6,5

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