Crítico de cinema e colunista de cultura de A Gazeta

Crítica: "Dolittle" tem clima de aventura oitentista superficial

Filme estrelado por Robert Downey Jr. se afasta da versão do veterinário que conversava com animais vivido por Eddie Murphy nos anos 1990 e cria uma aventura com clima de anos 80

Publicado em 20/02/2020 às 19h39
Filme Dolittle. Crédito: Universal
Filme Dolittle. Crédito: Universal

Quem entra no cinema para assistir a “Dolittle” logo se assusta. O filme estrelado por Robert Downey Jr. não é uma refilmagem daquele protagonizado por Eddie Murphy na década de 1990. Situado na Inglaterra vitoriana, trata-se de algo muito mais próximo de “O Fabuloso Doutor Dolittle” (1968), que, por sua vez, se baseia nas histórias infantis escritas por Hugh Lofting, escritor que criou o veterinário que conversa com animais.

No novo filme, o Dr. John Dolittle é o veterinário preferido da Rainha Victória, que deu a ele uma enorme propriedade dedicada inteiramente aos cuidados animais. Ao lado da esposa, Lily (Kasia Smutniak), John participou de diversas aventuras das quais sempre levava para casa um novo companheiro: de urso polar a papagaio. O problema é que Lily desapareceu após uma aventura e John entrou em depressão - ele fechou as portas de sua propriedade e, por sete anos, viveu somente com seus animais. Isso, claro, muda logo no início do filme.

Conhecemos Tommy Stubbins (Harry Collett), um jovem filho de caçadores e com problemas familiares por não querer caçar animais. Quando ele fere um esquilo, precisa levá-lo a única pessoa que pode salvar o pequeno animal: Dr. Dolittle. Chegando lá se depara com Lady Rose (Carmel Laniado), princesa que busca os serviços de John para salvar a rainha (Jessie Buckley), e com um lugar “mágico” em que humano e animais conversam. Após um pequeno processo de convencimento, a trupe (e todos os animais) parte para o palácio de Buckingham, de onde iniciam uma aventura pelos mares.

“Dolittle”, a princípio, chega a ser interessante. A interação entre o protagonista e os animais chama a atenção por não ser algo “mágico”, mas algo mais próximo a um sujeito poliglota - essa impressão, no entanto, é deixada um pouco de lado quando vemos que os animais também conversam entre si (enfim, não cabe tentar explicar um filme infantil). O primeiro ato do filme arranca boas risadas principalmente com o medroso gorila Chee-Chee (voz de Rami Malek).

Antagonistas

Outro mérito do filme dirigido por Stephen Gaghan (“Syriana”) são os antagonistas como o Dr. Blair Müdfly (Michael Sheen), um antigo rival de Dolittle que agora trabalha como médico da corte. O ator britânico encarna todos os trejeitos de um vilão oitentista, mas é alvo de uma piada recorrente sobre sua “falta de queixo”. A trama também abre espaço para Antonio Banderas como o Rei Rassouli, que tem algumas contas a acertar com o protagonista.

É interessante ter a percepção de que “Dolittle” é um filme infantil, no máximo pré-adolescente, e é conduzido como tal; não dá para cobrar muito drama ou uma trama complexa. O longa é bem fiel ao que se propõe a fazer, ou seja, uma comédia de aventura oitentista. Isso não o redime, porém, das falhas.

Filme Dolittle. Crédito: Universal
Filme Dolittle. Crédito: Universal

“Dolittle” é apressado e tudo acontece imediatamente - é como a última temporada de “Game of Thrones”, na qual se viajava longas distâncias num piscar de olhos. O filme também tem personagens demais e pouco prende qualquer um em busca de algo além de humor físico.

Robert Downey Jr. entrega uma atuação exagerada que convém à trama, mas não convence o público - seu longo luto tira o charme do ator e torna o personagem um pouco irritadiço. Além disso, em seu ato final, o roteiro embarca em uma aventura absurda a ponto do espectador se perguntar “como chegamos até aqui?”. Todas as resoluções são fáceis demais e causam pouco impacto (ainda que rendam risadas).

Era de se esperar, ainda, que um filme com pretensões de blockbuster cheio de efeitos especiais fosse um primor técnico, mas não é bem assim. Enquanto na maior parte do tempo os animais são convincentes, em algumas sequências os efeitos de computação são bem constrangedores. Em outros aspectos técnicos como montagem, o filme também decepciona com muita burocracia e pouca inovação estética ou de linguagem.

Como dito anteriormente, deve-se levar em consideração que “Dolittle” é um filme infantil. Assim, a aventura liderada por Robert Downey Jr. rende boas risadas com algumas piadas boas e uma boa dose de escatologia. Não é tão ruim quanto a crítica tem dito, mas tampouco é um filmaço; apenas uma boa opção para a criançada.

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