Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Arnold", da Netflix, parece campanha política para Schwarzenegger

Documentário "Arnold" acompanha Arnold Schwarzenegger da infância pobre, na Áustria, ao posto de astro mundial, passando, claro, pela política e pelo fisiculturismo

Vitória
Publicado em 07/06/2023 às 20h06
Minissérie
Minissérie "Arnold", um documentário sobre Arnold Schwarzenegger. Crédito: Netflix/Divulgação

Arnold Schwarzenegger é uma lenda. Um dos fisiculturistas mais premiados da história que virou um dos maiores astros de cinema do mundo antes de entrar para política e se tornar governador da Califórnia. É óbvio que essa história renderia um documentário excelente, cheio de bastidores, da infância pobre na Áustria ao topo do mundo, mas o que a minissérie “Arnold”, da Netflix, faz é algo diferente.

Antes de continuar, é necessário ressaltar que Schwarzenegger atualmente ocupa o posto de Chief Action Officer da Netflix, o que talvez não signifique nada na prática além de emprestar seu nome e sua imagem à marca, mas que o torna parte da empresa. Além disso, sua primeira série “FUBAR”, lançada há cerca de duas semanas, é uma das mais vistas da plataforma desde então. Assim, “Arnold” funciona exclusivamente como um reforço da marca que é Arnold Schwarzenegger e da credibilidade cinematográfica que ele leva à gigante do streaming.

Em três episódios de mais ou menos uma hora cada, “Arnold” tem excelente início. O biografado fala sobre sua infância na pequena vila de Thal, na Áustria, e da admiração que tinha pelos soldados Aliados que derrotaram a Alemanha (que havia incorporado a Áustria) na Segunda Guerra. Com a imagem dos EUA como sinônimo de liberdade e heroísmo, aquela criança se transformou em um jovem que sonhava o sonho americano. É interessante imaginar como os rumos de Schwarzenegger talvez fossem diferentes se o resultado do conflito fosse outro.

O primeiro episódio é todo dedicado ao fisiculturismo e à dedicação de Arnold ao esporte que finalmente o levou aos EUA. A série impressiona pela quantidade de material de arquivo que mostram a transição do jovem interessado em esculpir seus músculos à máquina vencedora do Mr. Olympia, prêmio máximo do esporte, sete vezes. Em fotos e vídeos da época, é possível ver a transformação de Schwarzenegger, que via no esporte uma chance de sair da Áustria, o que de fato aconteceu.

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Minissérie "Arnold", um documentário sobre Arnold Schwarzenegger. Crédito: Netflix/Divulgação

A segunda parte mostra a carreira de Arnold como ator, dos primeiros passos, quando o achavam fisicamente “muito grande” para papéis, ao estrelato absoluto de filmes como “O Exterminador do Futuro 2” (1991) e “True Lies” (1994), ambos dirigidos por James Cameron, um dos entrevistados na série. “Arnold”, a série, é inteligente ao construir seu terceiro ato, a vida política do ator, desde sua chegada aos EUA como alguém disposto a viver o sonho americano.

O texto relaciona, por exemplo, a ascensão de astros de ação como Schwarzenegger e Stallone ao cenário político dos EUA nos anos 1980, o que não chega a ser um absurdo. Em um dos melhores momentos da série, ambos falam sobre a rivalidade entre eles durante os anos 1980, mas os depoimentos de Sly são curtos, funcionando apenas para reforçar Arnold como um sujeito competitivo, mas sempre leal. Toda essa narrativa é utilizada quando a minissérie parte para a política, de longe sua parte menos interessante como entretenimento.

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Sylvester Stallone na minissérie "Arnold", um documentário sobre Arnold Schwarzenegger. Crédito: Netflix/Divulgação

“Arnold” é mais um exemplo de obra que se aproveita do aspecto “jornalístico” do documentário para construir seu biografado como uma pessoa admirável – se está ali, deve ser verdade. Schwarzenegger é mostrado como um sujeito obstinado e carismático, algo que realmente é, mas se transforma quase em uma instituição quando todos seus erros são mostrados de forma “positiva”.

O roteiro usa um de seus fracassos nos cinemas, por exemplo, para justificar o sucesso seguinte; da mesma forma, seu comportamento passado com mulheres, algo explorado pelos rivais políticos, é transformado em uma capacidade de reconhecer seus erros e se tornar uma pessoa melhor a partir deles. Na vida política, eleito pelo conservador partido Republicado americano, se mostra disposto a dialogar com os Democratas, pois o objetivo é sempre o bem-estar do cidadão estadunidense.

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James Cameron na minissérie "Arnold", um documentário sobre Arnold Schwarzenegger. Crédito: Netflix/Divulgação

Mesmo com um terceiro episódio que quebra o ritmo da série, “Arnold” funciona por ter um grande trunfo: a simpatia e o carisma de Schwarzenegger. Sim, é tudo perfeitinho, parece uma peça de campanha política, uma narrativa realizada pela assessoria do ator, mas é impossível desgostar daquele senhor contando histórias, se emocionando e rindo com sua surpreendente vida.

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