Nessa coluna, Nanda Perim fala de sua experiência como psicóloga e educadora parental, dando seu parecer sobre questões atuais da educação infantil, trazendo dicas, humor e muita novidade boa!

Precisamos falar sobre abuso infantil!

Quando soube do aumento da violência contra a mulher durante a quarentena, a psicóloga Nanda Perim pensou imediatamente nas crianças que não  sabem como denunciar.  E há um agravante: as escolas, que são as grandes responsáveis por fazer as denúncias, estão fechadas

Publicado em 21/05/2020 às 11h36
Atualizado em 21/05/2020 às 11h37
As crianças não sabem e nem conseguem denunciar os abusos
As crianças não sabem e nem conseguem denunciar os abusos. Crédito: shutterstock

Segunda feira foi dia 18 de Maio, Dia Nacional de Enfrentamento ao Abuso Infantil, e precisamos falar sobre isso! Quando ouvi que durante o isolamento social aumentaram os casos de violência contra a mulher, imediatamente pensei nas crianças, que não sabem nem conseguem denunciar. Sabia que as escolas são responsáveis por grande parte das denúncias? Sim. E sem escolas? Fiquei pensando da importância  de ensinar nas escolas que existem regras para toques, de ensinar o que os adultos não podem fazer, e explicar que se fizerem o que é proibido a quem elas devem recorrer,  a polícia e o conselho tutelar. Dar alguma opção para essa criança ligar, pedir, gritar.

Mas além de ensinar sobre as partes do corpo e que existem toques que só a criança pode fazer em si mesma, também existem outras formas de prevenir o abuso sexual de nossas crianças, simplesmente mudando a forma de ver e agir sobre o corpinho delas. Primeiro de tudo, é entender que o filho é seu, mas o corpo é dele. E ressaltar que, por ser criança, não significa que seu corpo seja dos adultos. É uma forma de conscientização dizer para que o CORPO é DELA. É parar de fazer cosquinhas quando ela pedir. É não forçar beijos e abraços quando ela não quiser.

É ensinar que o corpinho dela é dela e que precisa ser RESPEITADO. É ensinar que NINGUÉM PODE PEDIR PRA ELA GUARDAR UM SEGREDO DE VOCÊ, que é o cuidador de maior confiança dela.

É uma forma de conscientização ter espaço aberto para a criança te contar absolutamente tudo o que ela precisa sem medo de ser punida nem retaliada, é não bater, é não falar de “culpa” e, ao invés disso,  focar na solução. Sabe por quê? Predadores adoram culpa. Adoram ameaçar que seus pais vão ficar bravos, vão bater e castigar a criança. Se sua criança tem certeza que pode te contar tudo, abusadores não têm isso para ameaçar.

É uma forma de conscientização respeitar os limites da criança e deixar ela “tímida” o tempo que precisar,  e que ela aprenda a se resguardar sempre que não estiver à vontade. Que aprenda a respeitar seu espaço sem se invadir para agradar o outro.

Que ter espaço invadido seja, sim, motivo de incômodo e que ela possa te falar que não gostou. Que isso seja acolhido. Que sua criança tenha seu corpinho tão respeitado no dia a dia que ela ESTRANHE sempre que for diferente disso!

É uma forma de conscientização ensinar que ela NÃO DEVE FAZER o que o adulto mandar fazer SE ISSO NÃO DEIXAR ELA À VONTADE. Não ensine a obediência cega. Isso só deixa ela mais vulnerável aos predadores.

E aqui vai um lembrete aos pais: nunca duvide da criança, se ela falar qualquer coisa que se assemelhe ao abuso. UMA PESSOA DE CONFIANÇA DELA não deve levantar suspeitas!

69,2% dos abusos acontecem dentro da casa que a criança mora, seja na classe social que for, e a maioria dos abusadores são homens e são parentes próximos. Amados pela criança. De confiança dos pais.

É uma forma de conscientização ensinar pra sua criança que o que ela fala será ouvido, será considerado, e que ela está falando a verdade até que se prove o contrário.

Crianças não mentem, mas quando o fazem precisamos analisar por que se desesperaram a ponto de chegar a mentir. Analise, repense, mude o que precisar. Mas SEMPRE acredite na criança! É uma forma de conscientização crianças serem acolhidas no medo, no sofrimento e na dor. Sem abusos de força e poder.

O aumento dos casos de abuso na infância durante isolamento social é um fato, e você pode ajudar! Nós adultos somos responsáveis por TODAS AS CRIANÇAS que passam por nós. Portanto, se você perceber algo estranho na vizinha, barulhos, gritos, qualquer coisa que faça uma luz vermelha acender em você, NÃO FAÇA VISTA GROSSA! Procure saber, procure se informar, não pense duas vezes antes de chamar o conselho tutelar. É melhor chamar e ser alarme falso DO QUE O CONTRÁRIO! Fiquem atentos, e não confiem em NENHUM ADULTO! Os predadores geralmente são DA FAMÍLIA, e de confiança.

Então, vamos redobrar atenção, vamos ficar de ouvidos atentos para as crianças vizinhas, sim! Vamos ENSINAR NOSSAS CRIANÇAS. A identificar, cair fora, nos avisar. E, acima de tudo, precisamos defender que isso seja ENSINANDO NAS ESCOLAS. Como fazer sua parte:

1) Ensine suas crianças sobre consentimento, sobre não guardar segredo, sobre respeito ao corpinho delas

2) Fique de olhos e ouvidos atentos às crianças da sua família e da vizinhança; denuncie se uma luz vermelha acender em você

3) Compartilhe essas informações para alcançar mais pessoas, divulgando essa coluna para mais pais e mães

4) Converse na escola da sua criança sobre a importância dessa educação de prevenção de abuso sexual! Se os abusadores moram com a criança, só a escola poderá ensinar que aquilo não pode e tem que parar!

O dia 18 se tornou um movimento nacional e começou com um caso aqui na cidade de Vitória, o de Araceli. Não podemos deixar que tenha sido em vão! Precisamos aproveitar o Maio Laranja e conscientizar o máximo de pessoas que pudermos! Me ajuda? Compartilhe essa coluna com, pelo menos, três mães ou pais! Grande beijo!

A Gazeta integra o

Saiba mais

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.