Ativista e Empreendedora Social, Priscila Gama coordena 12 Projetos de Ação Afirmativa e Impacto Social e é presidente do Instituto Das Pretas.Org e detentora de um ego leonino

Impacto hype: que tipo de colonizador é você?

O ano é de 2019 e parece que pessoas ainda insistem em colonizar pessoas

Publicado em 26/11/2019 às 15h59
É preciso falar sobre  políticas de diversidades. Crédito: Instagram/ Priscila Gama
É preciso falar sobre políticas de diversidades. Crédito: Instagram/ Priscila Gama

Venho falado sobre corpo e território todas as semanas e tô muito feliz que vocês estejam entendendo, absorvendo e gostando. Realmente acredito que ser colunista é exatamente pautar por essa troca, mas preciso garantir que um todo relacionado às questões de raça e gênero também sejam absorvidos.

E falando em raça e gênero, estava construindo um workshop sobre Políticas de Diversidade e pensando: “Meu Deus que coisa mais ultrapassada é uma humanidade que em 2019 pós-Cristo, precisamente 12.019 anos de existência comprovada, ter que pautar políticas públicas e institucionais que garantam que todos tenham direitos iguais de acesso, permanência... Meu Deus, como a gente não evoluiu”.

O problema é que agora estamos dialogando essas coisas como a salvação da humanidade. O Impacto Social hypado, aquele em que pessoas resolvem salvar o mundo sem saber nem por onde começar. Um monte de coisas no plano das ideias e a única certeza de que tá na moda, tá on, tá dando dinheiro. E assim vamos nessa de empreender no impacto social!

O problema é que temos construído esses diálogos de transformação e impacto social sem parar pra pensar como nós, individual e coletivamente, vamos fazer isso com as perspectivas que a nossa construção social - que é prioritariamente racista, depois machista, sexistas, misógina, homofóbica, transfóbica e “todas óbicas” – registraram na nossa forma de viver.

Como pensar em políticas de diversidades sem ressignificar o que está tatuado em nossas crenças sobre o que é humano, por exemplo? Como vamos impactar o mundo se ignoramos ou não admitimos o racismo latente, o apego ao privilégio e a patologia em separar coisas e pessoas em boas e ruins, aceitos e não permitidos, perfeitos e pecadores?

E na perspectiva de quem que essa transformação será feita? A serviço de quem?

Dia desses eu estava em um evento de impacto social e as pessoas estavam consternadas quando um homem de fora do estado ditava as regras sobre “quem faz impacto e quem não faz”. E mais, “que o Estado do Espírito Santo não tem muitas iniciativas de impacto social e que era por isso que eles estavam trazendo pessoas de fora, de um ecossistema mais evoluído”. As pessoas se olhavam e perguntavam em sussurros que tipo de papa era aquele que não sabe nada sobre o território, mas que tem certeza sobre o que ele precisa!

Enfim, sobre esses apontamentos papais eu tenho muitas considerações, mas a que importa aqui é sobre uma palavra que foi usada (e é muito usada) quando a gente fala de transformação que é o ecossistema.

Tenho pensado muito sobre como essa palavra se aplica efetivamente e me deparei a pouco com uma palavra que talvez, na prática, venha sendo mais aplicada que é o egossistema. O Egossistema é sobre um entorno circular cego, fechado, elitista que tem certezas absolutas sobre o que o todo de fora desse círculo (que é enorme, diga-se de passagem) precisa pra melhorar sem ouvir, sem escutar. Isso pelo hobby de sentirem-se salvadores de algo ou alguém, mesmo sem tá salvando nada e nem a si mesmo.

O ano é de 2019 e parece que pessoas ainda insistem em colonizar pessoas.

Que tipo de colonizador é você?

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