Priscila Gama é ativista e empreendedora social. Coordena 12 projetos de ação afirmativa e impacto social, é presidente do Instituto Das Pretas.Org e detentora de um ego leonino

Desumanidades exponenciais

Que horas decidimos que nos afastarmos da racionalidade seria exponencialmente evolutivo? E que horas a agente resolveu que tá tudo bem ser assim?

Publicado em 14/10/2019 às 20h26
É preciso ter conversa e praticar a humanidade. Crédito: Divulgação
É preciso ter conversa e praticar a humanidade. Crédito: Divulgação

Exponencial adjetivo

1. [ÁLGEBRA] que tem expoente variável ou indeterminado (diz-se de quantidade).

2. [ÁLGEBRA] relativo a expoente.

3. [MATEMÁTICA] em que uma variável independente aparece em um dos expoentes (diz-se de função matemática).

4. [POR EXTENSÃO] da maior importância, significação ou projeção. "o homenageado é uma figura e. da nossa literatura"

Quem nunca escutou um “Nossa! As coisas têm mudado cada vez mais rápido!”?

Pois bem, parece que isso tem funcionado para um monte de coisas sob o aspecto da evolução positiva e assim, coisas que antes eram de extrema importância pra nós, agora são absolutamente dispensáveis.

Considere que a humanidade já passou por marcos como a era do gelo, a era do fogo, variados e sucessivos processos e tentativas de dominação, guerras, colonização, apropriações indevidas, escravização, genocídios, revolução industrial, o bug do milênio, o Instagram e tantas outras. Agora me diga, porque em 2019 a gente parece não se apegar a evolução da nossa característica mais importante: a humanidade?

Em tempos de rapidez e passos exponenciais, me parece que é cada vez mais humano, não ser humano. Isso não te preocupa?

Bem, uma vez eu vi o seguinte ciclo pra justifica os nossos processos comportamentais:

artigo de Priscila Gama. Crédito: Divulgação
artigo de Priscila Gama. Crédito: Divulgação

Partindo desse ciclo que, me parece absurdamente óbvio – muito embora pouco valorizado, eu te pergunto: que horas NÓS começamos a normalizar o desumano? Que horas decidimos que nos afastarmos da racionalidade seria exponencialmente evolutivo? E que horas a agente resolveu que tá tudo bem ser assim?

Eu não sei como vocês acompanham as notícias, mas não tem te parecido que o casos de violência tem crescido ao passo de que as pessoas tem entendido e falado mais das coisas e das violências?

Nós mulheres, por exemplo, estamos cada vez mais independentes e autônomas. Feministas ou não, mulheres têm ocupado cada vez mais espaços, expõem cada vez mais seus desejos e objetivos pessoais e profissionais – eu sei que isso não é e nem pode ser generalizado, mas nunca antes o espaço esteve tão aberto pra diálogos ligados ao feminino e mesmo que em espaços considerados conservadores, podemos observar cada vez mais o protagonismo e a autonomia da mulher.

Em razão disso a legislação mudou, o senso crítico coletivo passou a absorver violências e ameaças contra a mulher, com a gravidade que deve ser considerada. No entanto, cada vez mais mulheres são vítimas de assédio e violência e ser feminista, virou sinônimo de chacota como se isso fosse uma bandeira desnecessária e partidária – e não um assunto comum e importante de ser discutido para e com todas as mulheres (outro dia eu volto a falar sobre feminismo).

Porque os índices de feminicídio o violabilidade aumentaram? Porque os agressores não tem medo, nem diante da exposição dos casos e condenação pública e muito menos diante do rigor da lei? Porque a gente normalizou as violências. Porque ser antimachista, antisexista, antimisógino, antirracista, anti-homofóbico, antitransfóbico, nunca foi pauta pra transformação social.

A gente sai por aí falando o que é, mas não ensina como não ser e assim, rápido como os radicalismos, não vem sendo o diálogo – porque pra ter diálogo, precisa de fundamento, pra ter fundamento, precisa ter conhecimento amplificado, pra ter conhecimento amplificado precisamos de ensinamentos e assim, no país mais incrível do mundo, a gente perde a incrível prática da humanidade como um simples calculo matemático que, infelizmente não é de somar, mas de subtrair.

Seguimos esperando o dia que os humilhados serão exaltados. Parece que é na próxima sexta.

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