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Por mais incrível que possa parecer, a certeza da morte não existe

Não há aquele que não se espante diante da morte ou de sua notícia. Paira sempre a incerteza esperançosa

Publicado em 02/09/2019 às 13h12
Atualizado em 29/09/2019 às 15h47
Morte. Crédito: Divulgação
Morte. Crédito: Divulgação

Freud eternizou a ideia que introduz a lógica na relação com o inconsciente. A “Transferência”, onde nada ocorre por acaso. Nesse eixo, sustenta-se a interpretação realizada no espaço transicional, onde o acaso é transformado em um significante lógico, na trilha das interpretações.

Situado bem longe das ideias acadêmicas, acabo de ler “A lógica do Cisne Negro: o impacto do altamente improvável”. Trata do pensar do libanês Nassim Nicholas Taleb, de uma família greco-ortodoxa que chegou à decano da insólita “Ciência da Incerteza”, na Universidade de Massachusetts. Foi o Luiz Paulo Oliveira Santos que me indicou. Um cisne negro – diz – apresenta três características improváveis: o imprevisível, como o voo das borboletas, ocasiona resultados impactantes e após sua ocorrência tentamos explicar.

Taleb questiona a razão pela qual não reconhecemos o fenômeno antes que ocorra. Nós, os humanos, somos levados a conhecer os conteúdos específicos, e nunca os pertencentes a várias áreas do existir, do conhecimento. Também acho, e assim seria se não achasse.

Alguém imaginou que o Titanic iria a pique? Quando dois aviões grandões, voando entre edifícios de Nova York, destroem duas torres, bem dentro de Manhattan, na cidade mais importante do mundo, e por suposto protegida, um dos ápices da improbabilidade em toda a história da humanidade, o mundo parou.

Voltando ao gênio de Freud e sua “pulsão de morte”, que embora signifique os mirabolantes movimentos da sexualidade, não deixa de reconhecer a negação da morte do corpo. Respeitável público, por incrível que pareça, a certeza da morte não existe. Não há aquele que não se espante diante dela, ou de sua notícia. Paira sempre a incerteza esperançosa. Ela só se aproxima quando, por exemplo, por descuido da alma, nos deixamos cair em adinamias e desesperanças em relação aos objetos de desejo do cotidiano.

Todo santo dia, criam-se anedotas em busca de um autor. Este nunca apareceu. As anedotas seriam estímulos que operam em nosso modo de fazer cócegas no raciocínio dos outros. “Não tenho medo de morrer, só não quero estar presente” ou “envelhecer é ruim, mas a alternativa é péssima” ou “morreu? Antes ele do que eu”. Engraçado, não é?

Leva-se para o riso, a ironia e a projeção, o inexplicável pavor. Criam-se sistemas religiosos para aliar-se às autoridades do céu – e até do inferno. Uma prática que vem dos primórdios da humanidade.

Ontem, comemoramos os 70 anos do Guigui Lara, histórico amigo. E eu pensava que a gente não ia envelhecer além dos 25.

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