Médico, psiquiatra, psicanalista, escritor, jornalista e professor da Universidade Federal do Espírito Santo. E derradeiro torcedor do América do Rio

Onda mundial prega menos hospitalização, mais programas sociais

Vi-me no dever de ajudar, já que dirigi o então manicômio justo na época em que promovemos a reversão da tendência hospitalocêntrica

Publicado em 19/08/2019 às 14h53
Atualizado em 25/08/2019 às 02h48
Saúde mental. Crédito: Divulgação
Saúde mental. Crédito: Divulgação

Dia desses fui convidado pelo vereador Mazinho dos Anjos para um debate sobre a legalização da internação psiquiátrica contra a vontade. Ouvi a colega e brilhante ex-aluna Leticia Mameri mostrar a importância de enfrentar o problema de doentes mentais jogados à ermo, à miséria e ao crime.

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Pontuei o erro de ligar as psicopatologias à violência. Em mais de dez anos como diretor do então Hospital Psiquiátrico Adauto Botelho, 1.200 internos, jamais ocorreu um crime ou lesão grave. Nem antes. Letícia faz parte de um grupo que tenta criar Residência Médica ali.

Vi-me no dever de ajudar, já que dirigi o então manicômio justo na época em que promovemos a reversão da tendência hospitalocêntrica, com o apoio da velha guarda, como Cesar Mendonça e Alcides Silva. Da juventude que chegava, lembro de Guilherme Lara, Eliana Vicentini, Emília Silva, Ruy Perini, Luiz Puppin, Graça Ruy, Vanessa Torres e grande elenco.

Era uma onda mundial a desospitalização e a ideia de substituir o hospício por programas sociais. Trabalhava com Vitor Santos Neves e Rogerio Américo, que permitiram a inclusão de um serviço de atenção à saúde mental dentro do Pronto Socorro Geral, o São Lucas. Isso impedia a superlotação dos hospitais e clínicas especializadas. Um dia, o Pronto Socorro Psiquiátrico Integrado sumiu, como por encanto, depois de dez anos.

É sempre preciso tentar. Foi assim que o casal de funcionários José e Maria Periquito e eu fundamos o Hospital Dia, anexo ao Adauto, o Centro de Psiquiatria Comunitária. Além do mais, elaboramos um projeto que incluía um ambulatório triagem na Rua Sete com a missão de internar o absolutamente necessário, depois de intermináveis reuniões de planejamento, no ex-Edifício IAPI, sede do Inamps, a quem pertencíamos devidamente concursados. Dirigi este serviço também. Missão cumprida, já que a equipe ideológica e tecnicamente era pra lá de boa.

Impossível neste depoimento esquecer do serviço de Medicina Social para atendimento nas cercanias do Hospital das Clínicas, Ufes. Lá instrumentávamos professores do curso primário na lida psicológica com os pequeninos e realizávamos atendimento para a comunidade anexa ao hospital. Daí a participar da elaboração do Programa de Saúde da Família (PSF) foi um pulo. Luiz Buaiz, então secretário de Saúde, me designou para, em Brasília, representar a Sesa. Acumulei a representação da Ufes também.

Dedico este artigo à minha mãe, dona Mariucha, que previu: um dia você vai escrever que fez algo importante pelo próximo.

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