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Nostalgia liberal e peronista dão cara ao conflito ideológico argentino

Antes da globalização, a Argentina ficou à mercê de seus vendavais: a desindustrialização nos anos 1970, a crise da dívida nos anos 80 e o novo fluxo de capitais nos anos 90

Publicado em 23/08/2019 às 15h19
Atualizado em 29/09/2019 às 18h05
Eleições e crise na Argentina. Crédito: Divulgação
Eleições e crise na Argentina. Crédito: Divulgação

Entre as grandes dúvidas do presente em relação ao processo político em curso na Argentina encontra-se a incerteza sobre as reais possibilidades do próximo governo. Tendo vencido as eleições primárias, a chapa Alberto Fernández e Cristina Kirchner, peronista, provavelmente será eleita ainda neste ano. No livro “Entre la equidad y el crecimiento” (Siglo XXI Editores Argentina, 2004), Lucas Llach e Pablo Gerchunoff avaliam os problemas e as crises na economia argentina entre 1880 e 2002.

A partir de fatos estilizados, os autores buscam mostrar como a nostalgia liberal e a peronista caracterizam o principal conflito ideológico argentino. Os liberais desejam uma integração financeira internacional e a inserção comercial por vantagens comparativas naturais.

Peronistas, por sua vez, buscam um Estado intervencionista capaz de influenciar na distribuição da renda. Uma economia mais fechada favoreceu o processo de industrialização substitutiva de importações e proporcionou maiores possibilidades de distribuição de rendas, sendo que o câmbio também favoreceu ou não esse processo.

O governo Macri representa a nostalgia liberal e a chapa vitoriosa nas primárias representa a nostalgia peronista. Não há perspectiva de um aumento global nos preços das commodities e de valorização da moeda argentina no horizonte próximo. Nesse sentido, tanto a nostalgia liberal como a peronista são capazes de aumentar os endividamentos públicos e privados.

Desde a segunda metade da década de 1970, Llach e Gerchunoff apontam o processo de declínio argentino. Segundo os autores, “antes que a globalização tivesse nome, a Argentina ficou à mercê de seus vendavais: a desindustrialização pela concorrência externa no final da década de 1970, a crise da dívida nos anos 80, um novo fluxo e refluxo de capitais nos anos noventa”.

De acordo com os autores, “para o caso argentino, a relação entre abertura comercial e equidade foi determinada pelas características genéticas da estrutura econômica” porque “a dotação de fatores fazia da Argentina um país com vantagens comparativas na produção de alimentos e um importador líquido de produtos manufaturados”.

As dotações fatoriais do Brasil e do México foram mais favoráveis à industrialização, sendo que o tamanho do mercado interno foi um obstáculo à industrialização argentina. Considerou-se inclusive uma industrialização argentina impulsionada pelas exportações, porém os interesses ligados aos setores primário-exportadores se impuseram em vários momentos históricos.

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