Carlos Manato não quer disputar as eleições municipais de 2020. A informação é do próprio ex-deputado federal. Segundo Manato, o que realmente está nos seus planos é concorrer a um cargo majoritário em 2022.
Presidente estadual do PSL, Manato afirma que pode ser novamente candidato a governador, após quase chegar ao 2º turno contra Casagrande (PSB) em 2018, ou até ser candidato a senador, dependendo da composição que ele e seus aliados construírem. Em 2022, só haverá uma vaga no Senado em disputa, em cada Estado. No Espírito Santo, será a da senadora Rose de Freitas (Pode).
"No meu radar mesmo está 2022. Para eu vir candidato em 2020, só uma pressão partidária mesmo, uma pressão de conjuntura, caso não tenha outra solução e a gente fique sem candidato...", diz Manato.
No pleito de 2022, ele só não aceitará, de modo algum, voltar a concorrer a uma cadeira na Câmara Federal, onde já exerceu quatro mandatos seguidos, de 2003 a 2018. Após ter conseguido eleger Soraya Manato deputada federal pelo PSL-ES na eleição passada, Manato não abre mão de apoiar a reeleição de sua mulher. “Esse é o acordo familiar”, carimba.
Será esse, inclusive, o único ponto inegociável apresentado por ele aos aliados quando chegar o momento das definições de chapas e candidaturas, meses antes da campanha de 2022. Fora isso, Manato se diz flexível, mas trabalhando, repita-se, para ser candidato majoritário.
“A prioridade é preparar o partido para discutir a majoritária em 2022, formar um grupo forte, e o grupo é que vai decidir: quem está melhor posicionado para quê? Se o grupo decidir que o melhor posicionado para disputar o governo não é Manato, e sim João, então João vai ser o candidato a governador e Manato vai ser o candidato a senador”, explica.
Se o ex-deputado não for candidato ao Palácio Anchieta, mas ao Senado, apoiará um candidato a governador que, assim como ele, apoie incondicionalmente o presidente Jair Bolsonaro (PSL).
ETAPA PRELIMINAR
Antes de 2022, porém, há outra eleição no caminho: a do ano que vem, para prefeitos e vereadores. O sucesso almejado por Manato para ele e para o PSL em 2022 passa diretamente por um bom desempenho na próxima eleição municipal.
Para o PSL capixaba chegar forte a 2022, com boas chances de eleger governador e/ou senador, Manato trabalha com a meta - “audaciosa”, como o próprio admite - de eleger de 15 a 20 prefeitos pelo partido, além de pelo menos 100 vereadores por todo o Espírito Santo. Será um salto e tanto, visto que hoje o partido de Bolsonaro não tem nenhum prefeito e só sete vereadores em todo o território capixaba.
Para atingir a própria meta, Manato já está se articulando e percorrendo o Estado inteiro, já tendo assegurado, pelas suas contas, 29 pré-candidatos a prefeito. “E quero chegar a 40”.
Dentro da mesma lógica, é claro que eleger prefeitos em cidades polo do interior e principalmente na Grande Vitória tem importância estratégica ainda maior. Segundo Manato, o PSL já tem duas “candidaturas oficiais”, em Vila Velha e em Cariacica: respectivamente, o deputado estadual Danilo Bahiense e o Subtenente Assis (sem mandato).
Já na Serra, Manato quer filiar o vereador Cabo Porto - que tem perfil bem “bolsonarista”, mas, ironicamente, é filiado ao PSB de Casagrande. Porto pode ser lançado ou não a prefeito pelo PSL, a depender dos arranjos finais. Até porque a chapa do PSL na Serra dependerá de uma costura que passa por Vitória.
E aí chegamos ao município mais importante, sobre o qual ainda pairam muitas dúvidas. O próprio Manato, como vimos, prefere não ser candidato. Se isso se confirmar, o que o PSL fará na eleição a prefeito de Vitória?
EM VITÓRIA, AMARO OU PAZOLINI...
Anteriormente, o deputado estadual Torino Marques (PSL) chegou a ser lançado como balão de ensaio pelo presidente estadual do PSL. Mas agora Manato afirma que o próprio Torino não está a fim de entrar nessa. Assim, de modo mais factível, o PSL trabalha no momento com duas opções, nesta ordem de preferência: apoiar o deputado federal Amaro Neto (Republicanos, novo nome do PRB) ou filiar e apoiar o deputado estadual Lorenzo Pazolini.
Hoje, afirma Manato, o sonho do PSL é conseguir filiar Pazolini, sob a promessa de lançá-lo candidato à Prefeitura de Vitória.
"O meu radar, não tenho problema de falar e já falei lá também, é trazer o Pazolini. Pesquisas que já circulam por aí mostram que ele é competitivo", ratifica Manato.
Pazolini quer ser candidato a prefeito e, no momento sem partido, tem o passe atualmente disputado por alguns partidos. Manato cita o Republicanos (de Amaro), o PSDB e o próprio PSL, mas acha que essa disputa está mais entre as duas últimas siglas.
O dirigente do PSL enxerga em Pazolini o perfil do partido: “Liberal na área econômica e mais um pouco rigoroso nos costumes”. Acha que ele cairia como uma luva. Só tem um porém: e se Amaro também quiser ser candidato (de novo) a prefeito de Vitória?
Por ora, Amaro posterga essa decisão. Deve usar todo o seu tempo e deixar para anunciá-la no limite do calendário pré-eleitoral. Mas, se ele decidir entrar nessa disputa majoritária na Capital, Manato garante que o PSL sem sombra de dúvida apoiará a sua candidatura (em detrimento de Pazolini).
Nesse caso, Manato não pode fechar antes com Pazolini antes da definição de Amaro, pois corre o risco de não poder cumprir sua palavra, isto é, sua promessa de lhe dar legenda para disputar a sucessão do prefeito Luciano Rezende (PPS). Enquanto isso, o dirigente do PSL vai mantendo conversas paralelas com ambos os potenciais aliados.
"É por isso que temos que esperar clarear mais. Se o Amaro for candidato em Vitória, eu não vou trazer o Pazolini, porque aí eu não vou poder cumprir meu acordo com Pazolini de apoiá-lo. Vai ficar difícil. Vamos supor que eu feche com Pazolini antes e Amaro venha candidato a prefeito. Aí fica ruim. Eu vou ter que cumprir o acordo com Pazolini. Então é melhor a gente ir conversando mais, esperar algumas definições de Amaro, esperar para ver se o governo Bolsonaro vai deslanchar, para chegar para o Pazolini e fazer uma proposta", diz Manato.
Se Amaro vier mesmo em Vitória pelo PRB, Manato espera uma contrapartida do partido do deputado e apresentador na Serra: em troca do apoio a Amaro na Capital, o PRB terá que apoiar o candidato do PSL à sucessão do prefeito Audifax Barcelos (Rede).
Confira, abaixo, a entrevista completa de Carlos Manato à coluna:
O que está em seu radar, nas próximas eleições (2020 e 2022), para si mesmo e para o PSL?
No meu radar está uma candidatura majoritária na eleição de 2022. Quando você planeja uma eleição, você faz os planos pensando duas eleições à frente. Então eu quero chegar a 2022 com o PSL numa condição muito grande para se tornar um grande partido no Estado. Só que, para chegar a 2022, eu passo por 2020.
Então o que eu e nosso grupo estamos fazendo? Estamos andando e trazendo candidaturas a prefeito. Algumas não podemos falar, mas já estamos com pré-candidatos a prefeito em 29 municípios. E eu quero chegar a 40.
Voltando ao futuro: quando o senhor diz que, no seu radar, está ser candidato majoritário em 2022, isso quer dizer que o senhor será candidato a governador de novo, necessariamente, ou o senhor pode vir candidato a senador?
Poso vir a senador, numa composição.
Apoiando quem para governador?
Apoiando quem estiver com Bolsonaro.
Mas a sua prioridade é ser candidato novamente a governador?
Não. A prioridade é preparar o partido para discutir a majoritária, formar um grupo forte e o grupo decidir: quem está melhor posicionado para quê? Se o grupo decidir que o melhor posicionado não é Manato, é João. Então João vai ser o candidato a governador, Manato vai ser o candidato a senador.
Não, o grupo decidiu que Manato está bem posicionado e vai para o governo e João vai ficar para o Senado. Para mim não tem problema nenhum. Então, eu posso ser candidato a vice-governador. Posso ser candidato a presidente da República. Posso ser candidato a deputado estadual... Só não sou candidato a deputado federal.
Por quê?
A candidata a deputada federal do grupo é a Doutora Soraya, que está sendo uma surpresa muito forte no mundo político, pelo trabalho que ela tem feito.
Ela é sua candidata a deputada federal e disso o senhor não abre mão?
Não abro mão. “Manato, não vai dar para você ser candidato a nada.” Eu digo: “Tá bom, não vou ser candidato a nada. Mas federal eu não quero.” Eu não vou fazer isso com ela. Isso aí é papel de moleque. E eu não vou fazer isso com ela.
Então essa é uma condição da qual o senhor não abre mão, inclusive na composição com o seu grupo? Quando chegar a hora das definições de verdade, essa é a maior condição que o senhor vai colocar na mesa para seus aliados em 2022?
Exatamente. Só se, numa composição interessante, surgir alguma coisa para ela, e ela decidir. Mas eu não vou decidir por ela. Eu tenho um acordo com ela de eleição e reeleição. O acordo familiar é esse. Se, numa composição, o PSL ficar com a vice-governadoria, oferecerem para ela e ela disser “eu quero”, eu digo “então vai”.
O PSL hoje tem quantos prefeitos no Espírito Santo?
Nenhum. Tinha nove vereadores, dois eu expulsei, então agora temos sete.
E qual é a meta de desempenho para 2020?
A meta é eleger de 15 a 20 prefeitos, audaciosamente. E cem vereadores, no mínimo.
E na Grande Vitória, vocês pretendem lançar candidatos próprios em todos os maiores municípios?
Não, porque a gente tem que ter parceiros.
Como está o desenho hoje?
Já temos candidatura oficial em Vila Velha e Cariacica, respectivamente com Danilo Bahiense e Subtenente Assis. Estamos trabalhando e conversando com o vereador Cabo Porto na Serra.
Tentando convencê-lo a se filiar?
Sim. Temos uma conversa legal.
Mas, se ele vier, será para ser candidato a prefeito pelo PSL?
Sim, para ser candidato.
E em Vitória?
Aqui, tem uma pressão nacional do partido para termos candidaturas competitivas nas capitais e cidades acima de 200 mil habitantes. Tem. É natural isso, principalmente pensando em 2022. Então eles querem o meu nome. Eu estou convencendo eles de que eu não sou um bom nome.
Por quê?
Porque eu tenho uma missão, que é preparar o partido. A partir do momento que eu sou candidato em Vitória, quem vai coordenar os 78 municípios?
Então o senhor está disposto a se concentrar nessa tarefa de dirigente partidário e articulador?
É... é complicado, né? Seria um projeto muito pessoal.
Não daria para conciliar?
Eu acho muito difícil. Você não vai fazer uma das duas coisas bem.
E se o senhor for convencido pela direção nacional a entrar nessa disputa em Vitória?
Não está no meu radar. O meu radar, não tenho problema de falar e já falei lá também, é trazer o Pazolini. Pesquisas que já circulam por aí mostram que ele é competitivo. Agora, eu eu lanço Pazolini, e Amaro e Manato saem do jogo, por exemplo, aí ele está num bolo bom, criando um grupo para fortalecê-lo. Então, eu tenho conversado muito com ele. Ele tem o tempo dele, que a gente tem que respeitar.
E em que estágio está essa conversa?
Já conversamos três vezes. Ele quer esperar o governo Bolsonaro, ver como vai evoluir o governo, para ele tomar uma posição. Tem três partidos mais interessados nele: o PRB (agora Republicanos), o PSDB e o PSL. O PRB eu acho numa posição mais recuada.
A disputa pelo passe do Pazolini hoje estaria entre o PSL e o PSDB?
Eu acredito que sim, porque com isso a gente faz uma composição em Vitória a Serra.
Mas o seu sonho, digamos assim, hoje, é ter Lorenzo Pazolini candidato a prefeito de Vitória pelo PSL?
Tenho muita vontade, porque é o seguinte: o Torino está fazendo um trabalho na Assembleia, está feliz, assumiu a vice-presidência. A nossa opção em Vitória é ele, mais do que eu. Mas o Torino também, como é partidário, até entra nessa disputa, mas não é que ele queira isso, entendeu? Se o Pazolini vier, eu abro mão e ele abre mão.
Então o próprio Torino não estão tão a fim de ser candidato a prefeito quanto o Pazolini?
Não está tão a fim quanto o Pazolini. Ele quer curtir o mandato. Não quer interromper o mandato.
E o senhor acha que o Pazolini tem o perfil do PSL?
Eu acho que sim. Pelas posições dele que tenho visto na Assembleia, enxergo ele com o perfil do PSL: liberal na área econômica e mais um pouco rigoroso nos costumes.
E se o senhor, por alguma conjuntura, entrar nessa eleição em Vitória? Vamos supor que o senhor entre, ganhe, se torne prefeito... O senhor pode ser prefeito de Vitória em 2021 para deixar o mandato em 2022 e concorrer a governador ou senador?
É muito complicado, né? A gente sabe que as prefeituras estão no limiar. Você não consegue produzir muita coisa que te dê um cacife para você querer um voo mais alto, entendeu? Você não consegue. Você tem que ter prazo de quatro anos para poder botar os seus projetos em prática. Então, no meu radar mesmo está 2022.
Vir para 2020, só uma pressão partidária mesmo, uma pressão de conjuntura, caso não tenha outra solução, o Pazolini não venha e a gente fique sem candidato...
E o Amaro, onde é que entra nessa equação?
Temos conversado muito com o PRB. Temos muita vontade de marchar juntos. Temos que esperar também a posição dele. O Amaro está numa posição privilegiada: ele pode ser prefeito de Vitória e pode ser ser prefeito da Serra. O recall dele é muito alto nesses dois municípios. Amaro tem grupos que querem ele candidato a prefeito de Vitória, tem grupos que querem ele candidato a prefeito da Serra e tem grupos que querem ele candidato a nada.
O que o senhor acha que ele fará?
Rapaz, é ele que tem que decidir. Temos que respeitar, né?
E se ele for mesmo candidato a prefeito de Vitória, vocês poderiam apoiá-lo?
Queremos apoiá-lo.
Se Amaro for candidato a prefeito de Vitória e o PSL não fechar com Pazolini, o PSL apoia Amaro?
É por isso que temos que esperar clarear mais. Se o Amaro for candidato em Vitória, eu não vou trazer o Pazolini, porque aí eu não vou poder cumprir meu acordo com Pazolini de apoiá-lo. Vai ficar difícil. Vamos supor que eu feche com Pazolini antes e Amaro venha candidato a prefeito. Aí fica ruim. Eu vou ter que cumprir o acordo com Pazolini.
Então é melhor a gente ir conversando mais, esperar algumas definições de Amaro, esperar para ver se o governo Bolsonaro vai deslanchar, para chegar para o Pazolini e fazer uma proposta. O PSL hoje tem uma vantagem: nós temos tempo de televisão, temos recursos de fundo partidário. Então nós temos atrativos. E nós estamos no governo federal. Então esses atrativos fazem com que a gente não precise sair correndo.
Enquanto isso, estamos nos concentrando em preparar as nossas chapas de candidatos a vereador. A esta altura, já tem tanta gente interessada que já estamos precisando cortar candidatos na chapa. Já estamos com esse problema.
E, supondo que o Amaro seja mesmo candidato a prefeito de Vitória, contando com o apoio de vocês, haverá alguma contrapartida na Serra?
Sim. Aí esperamos o apoio do PRB ao candidato do PSL a prefeito da Serra. Logicamente que, se tiver alguma outra opção lá, a gente pode conversar. Mas vamos querer uma contrapartida.
Então não poderia haver uma candidatura de Xambinho a prefeito da Serra pelo PRB, por exemplo?
Não. Aí eu acho que nós vamos ter candidatura própria. Amaro é uma coisa. Outro dentro do PRB não tem o mesmo carinho que a gente tem com o Amaro.
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