Acompanhe as informações em primeira mão de Leonel Ximenes, Vitor Vogas, Beatriz Seixas, Rafael Braz, Filipe Souza e as análises e opiniões de nosso time de colunistas.

Manato prepara o PSL-ES para não depender de Bolsonaro

"Vai ser uma incógnita. Se ele se consolidar bem, vamos ser altamente beneficiados. Se não, temos que estar preparados para uma eleição como todos os outros", diz presidente estadual do partido, pensando em 2020 e 2022

Publicado em 26/08/2019 às 15h54
Atualizado em 29/09/2019 às 17h27
Coluna Vitor Vogas - 27/08/2019. Crédito: Amarildo
Coluna Vitor Vogas - 27/08/2019. Crédito: Amarildo

O ex-deputado federal Carlos Manato está preparando o PSL no Espírito Santo para não depender mais do presidente Jair Bolsonaro. Presidente estadual do partido, Manato está organizando o PSL no Espírito Santo para as próximas duas eleições, em 2020 e em 2022, e já trabalha, pragmaticamente, com um cenário em que Bolsonaro e seu governo estejam mal avaliados.

“Eu estou preparando o partido para não depender de Bolsonaro. Porque vai ser uma incógnita lá. Se ele se consolidar bem, nós vamos ser altamente beneficiados. Se ele não se consolidar bem, temos que estar preparados para uma eleição como todos os outros, entendeu?”

Sim. E o que Manato, experimentado como é na política, também já entendeu é que há chances reais de o governo Bolsonaro “não se consolidar bem”. Realista, o presidente estadual do PSL trabalha hoje com três cenários:

“Nós temos que trabalhar agora para preparar o partido para o plano A e para o plano B. O plano A é com Bolsonaro bem. O plano B é o mais ou menos, dentro do limite do razoável. O outro é ele estar mal, sei lá, não ser candidato.”

Manato avalia que, se o governo e o presidente estiverem mal avaliados em 2022, o PSL no Espírito Santo pode compensar isso “se estiver bem organizado e se tiver feito muitos vereadores e prefeitos em 2020, com pessoas leais”.

Segundo a projeção do ex-deputado, as eleições municipais do ano que vem mudarão em pelo menos 70% os atores políticos em evidência no mundo político do Espírito Santo. E, se o PSL puder ter uma participação grande nessa mudança, tanto melhor para o partido.

Para o PSL não ficar tão subordinado em 2022 à imagem de Bolsonaro e ao eventual sucesso de sua administração, Manato quer eleger pelo menos 15 prefeitos e 100 vereadores no Estado em 2020.

Além disso, já tem um projeto desenhado e com data marcada para começar: a partir de março de 2021, passará a percorrer o Estado “mostrando qual é o papel da direita e a perspectiva com a direita governando o Estado”. Como vimos ontem, Manato quer ser candidato a senador ou a governador em 2022.

No ano passado, o ex-deputado saiu da eleição a governador com o capital político elevado e foi uma das maiores surpresas das urnas no Espírito Santo. Com mais de 500 mil votos, por muito pouco não chegou ao 2º turno contra Renato Casagrande.

Isso se deu, basicamente por sua ligação forte e pessoal com Bolsonaro: o “voto no 17”. Foi assim também com os muitos deputados, senadores e governadores eleitos pelo PSL, graças à “onda Bolsonaro” em 2018.

Velho de guerra na “política como ela é”, Manato pode até ser Bolsonaro de carteirinha, mas também sabe que seu próprio futuro e o da sua sigla no ES não podem ficar à mercê de uma transferência de carisma de Bolsonaro que pode não se repetir nos próximos pleitos, a depender da avaliação do desempenho do presidente (hoje não muito positiva) e de seu nível de popularidade (o qual, segundo a última pesquisa CNT/MDA, já sofreu queda acentuada desde o início do governo).

Confira, abaixo, na íntegra, a segunda parte da entrevista de Carlos Manato à coluna, na qual ele ainda desfia algumas críticas à atuação de Casagrande no governo do Estado:

O senhor, no ano passado, saiu da eleição a governador com o capital político elevado e talvez tenha sido a maior surpresa das urnas no Espírito Santo. Isso se deu muito por sua ligação forte e pessoal com Jair Bolsonaro. O senhor acha que isso vai se repetir em 2020/2022, ou o senhor não dependerá mais de uma transferência de força e carisma de Bolsonaro?

Eu estou preparando o partido para não depender de Bolsonaro. Porque vai ser uma incógnita lá. Se ele se consolidar bem, nós vamos ser altamente beneficiados. Se ele não se consolidar bem, nós temos que estar preparados para uma eleição como todos os outros, entendeu? O que aconteceu em 2018? Eu realmente ganhei musculatura, tudo isso que você falou é perfeito. Só que a gordura que ele poderia ter jogado em cima de mim, ele não jogou.

Como assim?

Qual era a gordura? Qual era o plus? Qual era a cereja do bolo? Era ele ter vindo aqui. E a vinda dele estava marcada para o dia 15 de setembro. Ele viria a Linhares, Vitória e Cachoeiro. Faria um de manhã, um de tarde e um de noite. E não veio por causa da facada. Ele, com aquele pós-operatório, não pôde gravar. E, com isso, eu não consegui atingir para a grande massa que eu era o candidato dele. Alguns eu atingi, outros não. Então, se tivesse um pouco mais de tempo, ou ele tivesse entrado na campanha… Ele ajudou? Ajudou. Alavancou? Alavancou. Fez muito? Fez. Mas faltou o fechamento, devido a esses fatores. Nós temos que trabalhar agora para preparar o partido para o plano A e para o plano B. O plano A é com Bolsonaro bem. O plano B é o mais ou menos, dentro do limite do razoável. O outro é ele estar mal, sei lá, não ser candidato.

Se o governo e o presidente estiverem mal avaliados em 2020 e, principalmente, em 2022, vocês acham que conseguem compensar isso se o partido estiver bem organizado?

Se o partido estiver bem organizado, se tiver feito muitos vereadores e prefeitos em 2020, com pessoas leais, o partido estará preparado…

Para bloquear um pouco a influência nacional?

Exatamente. E uma coisa que eu não tenho problema algum em falar: o mundo político do Espírito Santo muda todo em 2020. Muda tudo! Estou para te dizer que, se mudar pouco, muda 70%. Os atores serão outros: prefeitos e vereadores.

Se o PSL puder ter uma participação grande nessa mudança…

Melhor, exatamente. Então eu já tenho projeto para o PSL para março de 2021. O projeto é mostrar, em todo o Estado do Espírito Santo, qual é o papel da direita e a perspectiva futura com a direita governando o Estado.

E como o senhor pretende fazer isso?

Com duas pessoas à frente disso. A primeira é o professor Wellington Callegari, que assumiu agora a presidência do PSL em Cachoeiro. Ele é professor de História, é funcionário da Justiça e é o cara que mais entende de direita no Espírito Santo. O outro sou eu. Então, nós dois vamos rodar o Estado inteiro, passando nas Câmaras Municipais e outros espaços... É por isso que Brasília não está muito no meu radar. Vamos andar e mostrar isto: o papel da direita no Espírito Santo.

E, se o senhor se torna prefeito em 2020, esse plano fica comprometido…

Sim. Mas eu mando o Wellington ir e boto outro para ir. Eu posso ir menos. Eu convenci o Wellington a não ser candidato a prefeito de Cachoeiro e ser o presidente municipal do partido, com esse projeto, e ele aceitou.

Em Cachoeiro, vocês vão lançar o atual vice-prefeito, certo?

Sim, o Jonas Nogueira. Ele acaba de se filiar.

E em Colatina e Linhares?

Em Colatina é o Luciano Merlo. Em Linhares, é um empresário do setor moveleiro.

Voltando a Bolsonaro, o senhor acha que ainda há alguma chance de ele sair do PSL?

Não. Atualmente isso não está no radar dele. As conversas informais e de bastidores com ele são de que ele quer ficar no PSL.

Mas, se isso acontecer, o que o senhor faz?

Continuo no PSL. Se ele sair? Aí é uma questão de analisar conjuntura, porque, você preparar um partido todo e por causa dele sair? O PSL pode ser um aliado dele ali fora. Podemos marchar com ele, e o PSL ser parceiro dele.

O senhor então se mantém aliado dele, mas dentro do PSL?

Isso.

Que avaliação o senhor faz do governo Casagrande até este ponto?

O governo está fazendo o papel dele, né? Não tem dificuldade financeira. Está jorrando dinheiro. Não sei se precisa pegar dinheiro emprestado para fazer, e se endividar para o futuro, porque está entrando muito dinheiro. E acho que tinha que ter um pouco mais de critério nas indicações, mas a caneta é dele, ele faz o que quiser. Como aquele cara do Banestes que foi preso, como outro agora que está com mandado de prisão. E ele é de esquerda. Quem é de esquerda é contra o que o Bolsonaro prega. Ele é contra armar a área rural. Nós somos favoráveis. Ele, por exemplo, fala que tem que botar os radares nas rodovias. Mas quem é que tem mais acidentes? É a estrada federal ou a estadual? É a estrada estadual!

Então há, sim, divergências claras, e esse início de mandato tanto de Casagrande no Estado como de Bolsonaro no país tem servido para demarcar bem essas diferenças?

É, são polos diferentes. Por exemplo, tudo o que o Bolsonaro coloca em termos de segurança, ele se posiciona contra. Mas por quê? Porque ele tem aquela cultura socialista. E tem que se respeitar. Nós estamos numa democracia. Como é que não vamos respeitar?

Onde o senhor acha que ele está errando?

Eu, por exemplo, acho que eles falam algumas coisas e não cumprem. São dissimulados. É dissimulada a esquerda. Ele fala, por exemplo, aquele negócio de não ser candidato à reeleição. Como é que não é candidato se ele montou o seu staff com uma gama de pessoas que perderam a eleição?

O senhor não acredita?

Não. Você esquece. Isso é conversa para boi dormir.

Então, em 2022, nós podemos nos preparar para ver…

Lógico! Um embate…

Uma revanche, digamos?

Não, não vou falar em revanche porque pode não ser eu. Mas você pode acreditar que vai ter disputa, e mais acirrada do que foi essa de 2018. Nessa, quando eu lancei a minha campanha, eu tinha 3,8%, ele tinha 69%. Covardia. Eu não tinha fundo partidário, não tinha tempo de televisão, não tinha nada. Só tinha o partido.

Então, em 2022, a eleição será mais equilibrada?

Acho que vai ser mais equilibrada. As pessoas vão se preparar antes. Eu quero que o governo Casagrande seja o melhor da história do Espírito Santo, para o bem do Espírito Santo. Eu vou discutir eleição com ele em 2022. Em 2020, partidariamente, eles estão se mobilizando, estão se mexendo. Falar que não estão se mexendo é também acreditar em Papai Noel, porque os caras não fazem nada se ele [Casagrande] não mandar. E eu não acredito em Papai Noel, já passei dessa fase. Então, eles estão se mobilizando, como eu também estou. É direito de todo mundo. E, em 2022, nós vamos discutir, mas lá na frente. Então, nós somos diferentes. Eu, por exemplo, não estaria criticando tanto. Uma das coisas que eu acho: critica muito o governo [Bolsonaro]. Tudo o que o governo faz ele critica. Se é radar, se é a multa, se é aumentar os pontos para suspender carteira de habilitação, se é botar arma para o produtor rural… Tudo é motivo para ele criticar. Eles começaram a criticar a reforma da Previdência e depois mudaram o tom, porque viram que é importante para os Estados. Mas tem que se respeitar por quê? Porque eles são isso. Se fosse o inverso, eu ia dar pancada.

 

A Gazeta integra o

Saiba mais

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.