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Em debate, Casagrande fica refém de uma estratégia

Governador do Espírito Santo disputa contra o bolsonarista Manato num estado em que a maioria dos eleitores apoia o presidente da República. Veja a análise

Vitória
Publicado em 28/10/2022 às 11h53
Debate da TV Gazeta
O governador Renato Casagrande e o ex-deputado federal Carlos Manato durante debate realizado pela TV Gazeta no segundo turno das eleições pelo governo do Espírito Santo. Crédito: Carlos Alberto Silva

O governador Renato Casagrande (PSB) foi o mais votado no primeiro turno das eleições para o Palácio Anchieta, recebeu 46,94% dos votos, contra os 38,48% dados ao ex-deputado federal Carlos Manato (PL).

O candidato do PL, entretanto, saiu politicamente vitorioso, uma vez que a expectativa, indicada pelas pesquisas, era de que o socialista liquidasse a fatura de uma vez só.

Tanto Casagrande quanto Manato mudaram o rumo da campanha no segundo turno, o que é natural. 

O ex-deputado passou a se mostrar ainda mais próximo do presidente da República, Jair Bolsonaro (PL). Casagrande, ao contrário, afastou-se do ex-presidente Lula (PT), a quem havia declarado voto.

Na corrida pelo Palácio do Planalto, no Espírito Santo, Bolsonaro saiu na frente, com 52% dos votos.

Sendo maioria, os apoiadores do presidente da República são importantes para os dois candidatos ao governo estadual. Na campanha, surgiu até o incentivo ao voto CasaNaro.

No debate da TV Gazeta, realizado na noite desta quinta-feira (27), Casagrande adotou, mais uma vez, a estratégia de não "bater" em Bolsonaro, ainda que, para isso, tivesse que deixar de responder Manato à altura (ou à baixeza, dependendo do tema em questão).

O ex-deputado federal, por exemplo, chamou a pandemia de Covid-19 de "farsa". Mesmo sendo médico, ele negou a ciência e dados oficiais para se perfilar ao presidente da República.

O governador condenou o comportamento, mas sem jamais mencionar que, ao fazer isso, o adversário imitava o chefe do Executivo federal.

Casagrande também falou, diversas vezes, que tem compromisso com "valores da fé cristã, da família, da administração pública e da transparência".

Cristianismo e família são temas caros ao bolsonarismo, embora, via de regra, mais na teoria do que na prática.

O socialista frisou que gostaria de tratar apenas de propostas no debate. 

O primeiro a perguntar, por ordem de sorteio, foi Manato, que já começou chamando-o de "abortista".

O governador também atacou, repisando críticas feitas no horário eleitoral e em entrevistas: ligou Manato ao crime organizado, por este ter sido associado à Scuderie Le Cocq, um grupo de extermínio famoso na década de 1990.

O socialista insistiu: "O que você fazia nas reuniões da Le Cocq?". O adversário não respondeu, mas, em outras ocasiões, disse que, na entidade, fez apenas filantropia.

Nem todo mundo deve lembrar dessa história de Le Cocq. 

Então o governador trouxe um tema mais atual: a greve da PM de 2017, que ele afirma ter sido comandada por Manato.

Não é uma estratégia nova. O candidato do PL, por sua vez, inverteu a acusação e disse que aliados do socialista participaram do motim. Citou os coronéis Alexandre Quintino, depois eleito deputado estadual, e Carlos Foresti, que disputou as eleições, sem sucesso.

"Quem foi o principal beneficiado? Se não fosse a greve, você não teria sido eleito (governador)", indagou o candidato do PL.

Entre os suspeitos de participação no motim, além do próprio Manato, como incentivador, estão Capitão Assumção, que virou deputado estadual, e o ex-PM Walter Matias, ambos aliados do ex-deputado federal.

Casagrande deixou passar. 

Nos debates do primeiro turno, quem o auxiliava era o marqueteiro Diego Brandy. Desta vez, nos intervalos, no estúdio da TV Gazeta, o jornalista Vitor Carvalho exerceu essa função.

Outra mudança é que a superintendente estadual de Comunicação, Flávia Mignoni, em férias, passou a se dedicar mais à campanha do socialista.

Debate da TV Gazeta
Renato Casagrande e o jornalista Vitor Carvalho durante intervalo do debate da TV Gazeta. Crédito: Carlos Alberto Silva

Manato acusou Casagrande de corrupção na gestão estadual e mencionou que Lula é aliado dele. 

O governador se absteve de mencionar escândalos do governo Bolsonaro, mais uma vez preso a uma estratégia. 

E mesmo em relação aos temas locais, o socialista não deu respostas enfáticas quanto às suspeitas de malfeitos. 

Fugiu menos ao tema em relação à postura de adotou em outros debates, mas preferiu dar mais ênfase ao fato de estar sendo atacado.

Quando Manato citou situações pontuais, como a exoneração do então subsecretário de Agricultura Rodrigo Vaccari e a prisão do ex-secretário da Fazenda Rogelio Pegoretti, o governador ressaltou que, no caso de Pegoretti, foi o próprio governo estadual, por meio das Sefaz, que descobriu a suspeita e deflagrou a apuração.

O adversário chegou a questionar se Casagrande era membro de uma quadrilha, embora isso nem pese sobre o socialista por parte dos órgãos de investigação. Casagrande cobrou respeito.

Em contra-ataque, afirmou que Manato foi deputado federal por 16 anos, com baixa produtividade, "o deputado mais caro do Brasil". 

Educação, saúde e meio ambiente foram abordados, nas vezes em que propostas foram mencionadas. 

A segurança pública, tão presente em outros debates e entrevistas dos candidatos, passou ao largo.

Violência/tráfico de drogas era o primeiro assunto de uma lista apresentada pela TV Gazeta no início dos blocos com perguntas temáticas. Ninguém escolheu falar sobre isso.

Voltando à questão da estratégia da campanha de Casagrande, é mesmo uma sinuca de bico. Se melindrar os eleitores de Bolsonaro, pode apenas jogá-los no colo de Manato, ainda que o governador bata na tecla do que considera "despreparo" do adversário.

A eleição para a Câmara dos Deputados, por exemplo, mostrou que o voto ideológico é forte e, não necessariamente, acompanhado de argumentos racionais.

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