Doutor em Doenças Infecciosas pela Ufes e professor da Emescam. Neste espaço, faz reflexões sobre saúde e qualidade de vida

Vacinação de crianças contra Covid: muito barulho por nada

A prestigiosa revista Jama, da Associação Médica Americana, destacou, no início do ano passado, que a Covid-19 matava mais crianças americanas que todas as outras doenças preveníveis por vacina

Publicado em 18/01/2024 às 01h35

O Programa Nacional de Imunizações, agora em 2024, passa a incluir, na rotina, as vacinas de Covid-19 para crianças a partir de seis meses de idade. O PNI segue uma praxe que sempre ocorreu com a incorporação de novas vacinas e que, aliás, está ocorrendo nos EUA, Europa e alhures.

Pois foi o bastante para o terror se instalar nas redes sociais. “Especialistas de aplicativos” têm torpedeado com violência a medida. Até o Conselho Federal de Medicina, fiel às confusas posturas que adotou na pandemia, iniciou uma esdrúxula pesquisa da opinião médica a respeito.

A tese que circula é que as vacinas são “experimentais e danosas” e que a Covid nunca mata crianças... Será? O Boletim Epidemiológico 135 do Ministério da Saúde sob o comando do ministro Marcelo Quiroga, ainda no governo anterior, divulgava que, até a semana epidemiológica 41 em outubro de 2022, foram registradas 12.634 hospitalizações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), decorrente de Covid-19 em crianças de até 5 anos de idade, sendo 6.381 em crianças menores de 1 ano e 6.253 em crianças de 1 a 5 anos. 

Já os óbitos notificados por Covid-19 foram 273 em crianças menores de um ano (comparados com 10 óbitos por gripe na mesma faixa etária) e 190 entre crianças de 1 a 5 anos de idade (contra 21 óbitos por gripe na mesma faixa etária). Esses são números de SRAG por Covid e óbitos de SRAG por Covid em 2022, que são mais elevados que por todos os outros vírus respiratórios juntos.

Os pediatras conhecem também a SIMP (Síndrome Inflamatória Multissistêmica) pelo coronavírus que, de acordo com o mesmo boletim, ocorreu em 1918 casos entre crianças e adolescentes, com 132 óbitos. O maior número de casos notificados por SIMP é entre crianças de 1 a 4 anos de idade. O CDC estima risco de um caso de SIMP a cada 3200 infecções por SARSCoV 2, com risco de admissão para UTI maior de 50% e mortalidade de 2%. Em 2023 ainda ocorreram 5.310 casos de SRAG por Covid entre crianças menores de 5 anos, com 135 mortes. Não há nenhum relato de morte de criança no Brasil por vacina de Covid-19 (dados do Ministério da Saúde do atual governo e do governo anterior).

A imunogenicidade, segurança e eficácia das vacinas de RNA mensageiro entre crianças foram confirmadas por estudos publicados nas melhores revistas cientificas. Aliás, seguindo os mesmos protocolos de todas as vacinas, com o mesmo rigor. O risco de miocardite após vacina de RNA é muito baixo e ocorre mais em jovens rapazes de 12 a 17 anos. É infinitamente inferior ao risco de miocardite causado pela doença na mesma faixa etária.

prestigiosa revista Jama, da Associação Médica Americana, destacava, no início do ano passado, que a Covid-19 matava mais crianças americanas que todas as outras doenças preveníveis por vacina, juntas. Recentemente, a Nature publicou um estudo mostrando benefícios adicionais da vacinação em crianças na prevenção da Covid longa. Mas nada disso chega às redes sociais.

Até médicos, pediatras inclusive, e muitas pessoas de boa-fé estão apavoradas com vacinação de Covid em crianças. Os achados da ciência existem para minorar a miséria da existência humana, mas lamentavelmente passaram a servir para disputa ideológica e desinformação. Tempos estranhos esses que estamos vivendo.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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