A maioria dos governadores fez corpo mole no processo de aprovação da reforma da Previdência. Lembro-me de que, indagado sobre o que o Estado estava fazendo para reverter o crescente déficit da Previdência estadual, um secretário de Estado disse o governo iria aguardar o que aconteceria com a reforma federal.
Era uma atitude cômoda assumida pela maioria dos governadores. Afinal, os integrantes dos governos estaduais evitariam se confrontar com as corporações do funcionalismo público sempre atentas e atuantes em defesa dos privilégios que acumularam durante décadas – pode-se dizer séculos – de aposentadorias precoces, com valores maiores ou iguais aos que eram recebidos quando na ativa – a integralidade – e, ainda, com direito à paridade, ou seja, reajustes idênticos aos recebidos pelos servidores em atividade.
Alguns desses governadores, principalmente os filiados a partidos de oposição ao governo, combateram a proposta de reforma da Previdência, mesmo sabendo que, sem ela, os Estados que governam irão falir – se é que ainda não faliram. Foram atitudes assim, de governadores e deputados estaduais, que levaram a Câmara dos Deputados a retirar os Estados e municípios da proposta de reforma.
O raciocínio dos deputados federais foi meramente eleitoral: muitos deputados estaduais e alguns governadores deverão disputar o próximo pleito como candidatos ao Congresso. E usarão a reforma da Previdência para criticá-los junto aos servidores públicos. Se assim é, pensou a maioria dos deputados federais, eles que façam as reformas das previdências estaduais e municipais e tentem convencer as corporações dos servidores.
Agora que o Congresso aprovou em primeiro turno a reforma da Previdência excluindo os Estados e municípios, esses governadores e deputados estaduais estão de saia justíssima. Afinal, o déficit total das previdências estaduais e municipais é maior que o federal. Em outras palavras: a reforma da Previdência do jeito que está abre caminho para o saneamento das contas públicas federais, mas deixa os Estados e municípios com a corda no pescoço.
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É claro que há governadores conscientes dessa realidade que desde o início do debate sobre a reforma defenderam que ela deveria valer para todos. São esses que continuam a tentar que o Senado reinclua na reforma os Estados e municípios. Tomara que consigam o seu intento, apesar dos seus colegas que não são capazes de enxergar que a aprovação da reforma é a única alternativa que pode levar o país a ajustar as suas contas e retomar o caminho do desenvolvimento econômico e social.
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