
Mais do que a disputa entre bolsonaristas e petistas – que extrapolou o período das eleições para se prolongar pelo mandato do novo presidente –, o país se divide entre os que defendem e os que desejam o fim da Operação Lava Jato.
> Afinal, as dez medidas contra a corrupção se tornaram um retrocesso?
Mesmo sendo reconhecida como a maior e mais bem-sucedida iniciativa de combate à corrupção no país – estancando um período de roubalheira “sistêmica e endêmica, um pacto de saque ao Estado”, como define o ministro Luis Roberto Barroso, do STF –, a Operação Lava Jato vem sendo torpedeada por forças poderosas que lutam pelo seu fim.
Mas quem deseja o fim da Operação Lava Jato? É possível identificar na campanha explícita contra a Lava Jato pelo menos três interesses. O mais evidente é o das pessoas ligadas direta ou indiretamente aos condenados pela Justiça em processos investigados pela força-tarefa da operação. Entre essas pessoas estão, naturalmente, os apaixonados pelo ex-presidente Lula, que sonham com a anulação de todos os processos e a abertura das portas das prisões. Os condenados não são poucos: 155 sentenciados a mais de 2 mil anos de penas em 242 condenações.
Um segundo grupo de interesses é formado por quem está sendo investigado. É um grupo relevante, estimado em 350 pessoas que têm alguma participação nos atos investigados que resultaram em mil mandados de busca e apreensão. O terceiro grupo que combate a Lava Jato é formado pelos saudosos dos tempos de corrupção e de impunidade em que enriqueciam com facilidade à custa do dinheiro público.
São forças poderosas que agem na sociedade e colocam em risco a Operação Lava Jato tal como aconteceu com a Operação Mãos Limpas que, na década de 1990, fez implodir o submundo da corrupção italiana. Basta constatar as ameaças reais gestadas nos Poderes Legislativo e Judiciário com o propósito de torpedear a Lava Jato e seus protagonistas.
Entre essas ameaças estão os processos disciplinares do Conselho Nacional do Ministério Público contra o procurador Deltan Dallagnol; o projeto – já aprovado pelo Senado e tramitando na Câmara dos Deputados – que institui a detenção de juízes e procuradores; a perspectiva de o STF impedir a prisão de condenados em segunda instância; a suspensão das investigações que tenham como base dados do Coaf e da Receita Federal; e a remessa, para a Justiça Eleitoral, dos processos sobre corrupção ligados à prática do caixa dois.
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Ao que tudo indica, estamos assistindo, infelizmente, aos preparativos do sepultamento da Lava Jato e do capítulo da nossa história em que tivemos a ilusão de que o Brasil estava deixando de ser o país da impunidade.
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