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Dilemas dos cobradores de ônibus em meio ao exército de inúteis

Hoje, são inúmeras as profissões e habilidades de trabalho que praticamente desapareceram do mercado

Publicado em 14/08/2019 às 13h50
Atualizado em 11/12/2019 às 05h40
Ônibus sem cobradores. Crédito: Divulgação
Ônibus sem cobradores. Crédito: Divulgação

Eu fui do tempo em que diploma de datilografia era condição necessária e, em alguns casos, essencial para a maioria das atividades de serviços, como em bancos, para que um pretendente a um posto de trabalho pudesse ter êxito.

> Ônibus sem cobrador é modernização inevitável no transporte público

Hoje, são inúmeras as profissões, qualificações e certas habilidades de trabalho que praticamente desapareceram. Poucos se lembram da figura do ascensorista. Talvez somente o tenhamos em repartições públicas, e em maior número em Brasília. Infelizmente, para alguns, ou felizmente para outros, é o que tende a acontecer também com a profissão de cobrador no transporte público. Em algum momento vai desaparecer.

Em países mais desenvolvidos, especialmente os europeus, os sistemas de transporte público não contam mais com cobradores. Na maioria das cidades, nem o uso da moeda se faz. Usa-se cartões ou sistemas automatizados de bilhetagem e controle. Algumas cidades, inclusive, vêm gradualmente reduzindo o número de fiscais, chamados também de fiscais de linhas de ônibus, de trem e metrô, já que quase não existem mais catracas que impeçam a entrada de usuários. Provavelmente, chegaram à conclusão de que o custo da fiscalização acabava suplantando a potencial evasão de receita.

O dilema centrado na figura do cobrador, porém, não é restrito, pois tende a ampliar-se e aprofundar-se em praticamente todo o tecido produtivo, seja ele local ou nacional. Ele se apresenta em escala global. Estamos diante de transformações, tidas como inevitáveis e fortemente disruptivas, que direcionam, comandam e movimentam a economia em escala mundial.

E são transformações que do ponto de vista do mundo do trabalho se apresentam, pelo menos no estágio atual, como mais destrutivas do que construtivas, cujos reflexos podem ser atestados na massa crescente de desempregados.

O mundo do trabalho está sendo impactado pela utilização crescente de processos industriais automatizados, internet das coisas, algoritmos, inteligência artificial, blockchain e tantas outras novidades tecnológicas.

Na mesma toada caminham praticamente todos os demais setores da economia. É possível, portanto previsível, que nem tenhamos mais dinheiro – moeda – no formato que hoje conhecemos. Cartórios? Blockchain poderá substituí-lo. Advogado? Inteligência artificial reduzirá a sua demanda. Economista? Nem se fala. Será que ainda teremos agências bancárias e, com elas, bancários, num futuro nem tão longe?

A verdade é que estamos lidando com um dilema global que tende a migrar da categoria “emprego vs. desemprego” para “emprego vs. inutilidade”. O mundo poderá estar produzindo, pelo menos no estágio de transformações ao alcance de nossas vistas, um verdadeiro exército de “inúteis” ou “desencaixados” produtivamente. Como e quem dará conta desse espólio?

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