É psicólogo formado em Brasília, sexólogo e terapeuta de casais. É educador de sexualidade em escolas da rede pública e privada e pai da Stephenie

O virtual ainda é real pra mim

"Para mim é novidade ter intimidade sem olhar nos olhos"

Publicado em 04/07/2020 às 08h03
Mulher sorrindo, mexendo no computador
Mulher sorrindo, mexendo no computador. Crédito: Freepik

Conheci você no aplicativo de encontros. Eu dizia que queria um relacionamento, você também. Começamos a conversar (teclar), trocamos informações básicas. Você queria saber em que eu trabalhava, se era casado, se tinha filhos... Eu, assustado com tantas perguntas, formulei as mesmas. Parecia que estava em seleção de pessoal. Para mim é novidade ter intimidade sem olhar nos olhos. Uma treino curioso para um coroa. Sentia-me inferior, pois do outro lado tinha alguém mais jovem.

No outro dia, recebi um bom dia com uma carinha de beijos com coração. “Meus Deus! Já está apaixonada?”, pensei. Corri para os “universitários” e soube que esse emoji não representava isso. Terei que ter um decodificador para continuar conhecendo e buscando alguma intimidade via web.

Conversamos mais, o assunto fluiu. Já estava com expectativa de receber um “oi” no dia seguinte, mas acabei conseguindo convencer você em falar no áudio.

Certa noite, iniciamos nosso primeiro contato (tato?) erótico. Você me pediu um nudes. Fiquei a pensar por alguns segundos o que seria. Mas a resposta veio num clique. De repente lá estava a sua figura nua. Corei. Não pela nudez estampada, mas por pensar no “nudes” meu, que teria que ser mandado. Será que vai gostar? Eu me acho tão acabado? O rosto está legal, mas e o resto?

Como era aprendizagem e me propus a aprender a ser moderno, tirei a foto no espelho do banheiro. E nem olhei direito, mandei logo. Se olhasse mais uma vez não conseguiria rsrsrs.

Depois disso, a conversa começou a ficar mais erótica. Ambos induziam o outro à fantasia do toque, às falas maravilhosas de quem não vê. Tudo é permitido. Afinal, somos adultos, mas não nos olhamos. Parece que estávamos nos relacionando em segredo.

Eu insisti em ter uma visão real, comecei a perguntar sobre gostos em comum. Pedi outras fotos vestidas. Busquei no facebook e instagram, mas pelo nome e foto que tinha não achei. Questionei sobre isso e você disse que não gostava de exposição. Analisei sua resposta por alguns momentos e depois indaguei a mim mesmo: mas mostrou sua nudez com tanta facilidade?

As negativas de um encontro presencial era por causa do coronavírus. Não podia sair de casa, tinha medo de contaminação. Insisti. E disse que estaríamos distantes, seguros e que conversaríamos a 1,5 metros. Você acabou topando e meu coração batia acelerado. O desejo tomou conta do meu corpo quando você marcou o dia.

Fui. Não cabia expectativa. Na praça marcada, ambos estávamos de máscara e óculos escuros e a 1,5 metro de distância. Minhas lentes ficaram embaçadas tamanha a aceleração respiratória, mas deu pra ver claramente. A pessoa na minha frente não era quem eu conversava pela internet. Tiramos a máscara. Fui embora.

P.S: A confusão dominou o meu ser. O real e o virtual, que é real na minha cabeça, ainda me faz tremer.

A Gazeta integra o

Saiba mais
Fique bem opinião Sexo

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.