Com carreira consolidada no setor de mineração e logística, Fábio Brasileiro assumiu, na última semana, a presidência do Espírito Santo em Ação, instituição criada no início dos anos 2000 com objetivo de afastar do setor produtivo o ambiente de corrupção tão impregnado à época nas organizações. Passados quase 20 anos da concepção do movimento, Brasileiro diz que a missão da entidade se transformou e hoje tem o foco de tornar o Estado um bom lugar para se viver e empreender. Em entrevista à coluna, o ex-funcionário da Vale falou um pouco sobre economia e política. Para ele, o Estado tem boas perspectivas e esta é a hora de transformar as oportunidades em resultados.
O que mudou no Estado de 2003, quando o ES em Ação foi criado, para hoje?
Os desafios são muito diferentes. O ES em Ação nasceu em um momento de uma crise institucional e ética no Espírito Santo. Um grupo de empresários se revoltou com o Estado que afastava o desenvolvimento e o empreendedorismo e que cobrava pedágio. Naquela época, você tinha o Executivo, o Legislativo e o Judiciário atuando e competindo por propina e poder. Era um cenário muito nocivo. A partir do momento que esse problema foi estancado, o ES em Ação começou a pavimentar ambiência para o desenvolvimento e para a atração de negócios. Hoje, um dos pilares centrais da instituição é a educação.
Como é a relação da instituição com o poder público e outras entidades?
O fato de termos uma atuação muito transversal desde o início, ou seja, buscarmos um relacionamento ético e comprometido com todas as instituições, acabamos construindo um respeito muito grande junto ao poder público e outras esferas. Nós já passamos por várias gestões com visões diferentes de Estado e com ideologias distintas, e procuramos estar sempre trabalhando de forma transversal acima desses interesses. Queremos que o Estado dê certo e seja visto como um bom lugar para se viver e empreender. Então, é dessa ambiência que buscamos cuidar.
Você construiu a carreira no setor da mineração e logística e foi funcionário da Vale por mais de 30 anos. O que traz do setor privado para o ES em Ação?
Eu passei por várias áreas na Vale e uso sempre um pouquinho de cada coisa. Acho que essas grandes corporações são excelentes escolas para um profissional que chega muito novo, como foi o meu caso. Comecei como estagiário e alcancei a diretoria. Na área de desenvolvimento de projetos da Vale, aprendi muito a lidar com o poder público em ambiente hostil. Além disso, ao longo dos anos, passei por um processo de aprendizado cultural que foi somado à maturidade técnica. Acredito que, com as minhas experiências e com o que eu estou aprendendo aqui no ES em Ação, vamos avançar juntos.
Qual marca pretende deixar durante a sua gestão?
Estamos buscando nos encontrar dentro dessa disrupção que aconteceu no mundo com relação às redes sociais, à comunicação, à leitura de cenários e tendências. Então, gostaria muito de dar essa injeção de modernidade ao movimento. Seja na relação com stakeholders, com mantenedores ou na identificação de riscos e oportunidades. O ES em Ação se consolidou, e se a gente quer continuar pautando e ampliando essa rede, é fundamental que a gente saiba se comunicar melhor.
O que espera para a economia capixaba?
Acredito que a gente está entrando numa janela de oportunidades. É óbvio que toda janela traz riscos associados, mas acho que o ES está num momento positivo, na questão da estabilidade fiscal. A nota A traz um olhar diferente dos investidores nacionais e estrangeiros. A gente tem um estigma de ser um Estado com uma vocação fantástica, mas que não se consolida ou não se apropria e faz acontecer. Então, acho que a gente tem efetivamente que organizar a sociedade civil e o empresariado para desfrutar deste momento. Nós temos vantagens competitivas. É diferente dizer que isso aqui é um paraíso. Mas temos algumas vantagens em relação ao resto do país, e acho que a sociedade capixaba tem que se organizar para transformar essa janela em resultado, em realidade.
Como ficamos no contexto nacional?
Não somos uma ilha. Acho que a ambiência nacional e alguns movimentos, principalmente do Ministério da Economia e das secretarias que estão tratando da questão da desestatização, tendem a trazer leveza no cenário nacional, o que pode nos beneficiar. Avalio que vai ser um segundo semestre de notícias boas para o Estado. E acredito que o país tende a passar por esse momento de verificação dos erros e dos acertos da política. Espero que a economia seja o carro-chefe, mas será necessário superar esse momento político e confuso que a gente ainda vive.
Da forma como a política se apresenta, ela pode atrapalhar a economia?
Nós estamos passando por um momento de transição ideológica na política nacional. Durante a eleição se falou muito do extremismo. Posições muito extremadas levaram a um desgaste para o processo, e a impressão que fica é que isso ainda não acabou. Minha visão em relação à economia nacional é que o setor produtivo tem que se organizar e tentar blindar a economia dessas questões ideológicas, que acho que ainda vão render alguns embates. Aqui no Estado, pelo menos, não tem esse ponto ideológico atrapalhando. Existe continuidade. O Executivo entendeu o que vinha sendo feito de positivo e está dando segmento e até amplificando em algumas áreas.
Notas
Negociações
Cento e vinte pequenas empresas fornecedoras dos setores metalmecânico, de construção civil e petróleo e gás do Estado irão negociar com 24 potenciais compradores durante as Rodadas de Negócios do Sebrae ES que serão realizadas de terça a quinta durante a Mec Show. Ao todo são 360 reuniões pré-agendadas.
De tudo um pouco
Entre as demandas das grandes estão uniformes, brindes, consultorias ambientais, usinagem, engenharia, equipamentos, materiais para área industrial, blocos de concreto, granitos, madeiras, gesso, inox até portas e janelas em madeira, tintas industriais, máquinas e equipamentos de limpeza predial.
Nova empresa
A expectativa é que alguns anúncios sejam feitos durante o evento, como o da formação de uma nova companhia a partir da união de três empresas que hoje já são fortes no mercado capixaba.
Na Lata
Jogo rápido com quem faz a economia girar

Nome: Luiz Rigoni
Empresa: Móveis Rimo
No mercado: Faz 30 anos em setembro
Negócio: Indústria de móveis residenciais
Atuação: Todo o Brasil e exporta para os EUA
Funcionários: 300
Economia: Estou com a esperança que vai começar a melhorar.
Pedra no sapato: Competir com desigualdade, já que temos uma carga tributária muito alta.
Tenho vontade de fechar as portas quando: Todo dia quando vou embora da empresa (risos). Brincadeira. Nunca!
Solto fogos quando: A empresa vai bem e atendo o meu cliente cada vez melhor.
Se pudesse mudar algo no meu setor, mudaria...: Além da redução dos encargos trabalhistas, mudaria os custos de financiamento para a revenda ao consumidor.
Minha empresa precisa evoluir: Constantemente, ora em tecnologia, ora em treinamento de pessoal e ora em inovação da produção.
Se começasse um novo negócio seria...: Móveis novamente.
Futuro: Estou preparando meu filho para que ele dê continuidade ao negócio.
Uma pessoa no mundo dos negócios que admiro: Antônio Ermírio de Moraes, do Grupo Votorantim. Ele enxergava a área industrial de uma maneira muito correta e empreendedora.
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