
O governo federal divulgou nesta última semana os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de março, que vieram acompanhados de uma certa frustração, já que o mês trouxe números negativos tanto para mercado de trabalho do país, que fechou mais de 43 mil empregos, quanto para o do Espírito Santo, que perdeu 843.
Em 2019, até então, o saldo – que é a diferença entre os contratados e os demitidos – de cada mês era positivo, dando sinais de que a economia começava a reagir, ainda que lentamente. Os números, porém, chegaram para lembrar que o desafio do crescimento permanece latente e que o mercado de trabalho segue extremamente fragilizado com os seus 13 milhões de desempregados.
No Espírito Santo, que tem 220 mil profissionais nesta situação, março foi mais cruel com Guarapari que, entre as cidades capixabas, apresentou a maior perda de postos com carteira assinada. Foram fechadas 488 vagas, mais do que o dobro da segunda colocada, Vitória, que no mesmo período teve um saldo de -232.
O resultado negativo de março para a Cidade Saúde, entretanto, não chega a ser uma grande surpresa, já que tradicionalmente o município efetua muitos desligamentos nesta época do ano, após o fim da alta temporada, quando muitos profissionais são contratados para atender aos milhares de turistas de todo o Brasil que lotam as praias do balneário. Mas preocupa o fato de 2019 ter registrado o pior terceiro mês do ano desde 2004.
Outro fato que chama a atenção é que, pela série histórica, em todos os meses de março dos últimos 15 anos, o saldo de empregos de Guarapari foi negativo. Aliás, comportamento único entre as 78 cidades do Espírito Santo. Nem mesmo outros lugares que têm a vocação turística, com maior movimentação no verão, como é o caso de São Mateus, registraram algo parecido ao longo deste período.
A questão é que Guarapari não tem apresentado um fraco desempenho apenas na época pós-veraneio. A cidade vem amargando nos últimos anos dados ruins em relação ao seu mercado de trabalho. Desde que a crise econômica se agravou, em 2015, a Cidade Saúde figura entre os seis municípios do Estado que mais fecharam postos formais, o saldo de janeiro de 2015 a março deste ano é de -3.400 empregos.
Se o volume de vagas já acende um sinal de alerta, quando olhamos o estoque de empregos, ou seja, a quantidade de postos que foram fechados em relação ao tamanho do mercado de trabalho do pré-crise, Guarapari encontra-se em uma situação ainda mais dramática. Da Região Metropolitana, é ela que tem o pior diagnóstico, com uma perda de quase 17% do seu estoque de emprego. Enquanto isso, Vitória, Vila Velha, Serra, Cariacica e Viana perderam em média de 8,7%.
O que os números revelam só reforçam o que quem vive ou tem atividades econômicas na cidade já sente nos últimos quatro anos. Os setores de comércio e serviços amargam uma tremenda paradeira. Muitas lojas fecharam as portas ou sobrevivem aos trancos e barrancos. A quantidade de placas de aluga-se ou vende-se em imóveis pelo balneário é imensa. O dinheiro não circula na cidade, que além de conviver com uma crise comum a todos os municípios, ainda sofre diretamente com o baque da paralisação da Samarco, que desde novembro de 2015 não opera na vizinha Anchieta.
Todo esse quadro revela o quanto Guarapari não foi capaz ao longo das últimas décadas de diversificar sua economia ou mesmo de aproveitar as suas potencialidades. A cidade não tem muitas grandes empresas e indústrias e nem parece ter trabalhado para atraí-las. Tanto é que a arrecadação por pessoa da Cidade Saúde é de R$ 2,2 mil, o que a coloca na 60ª posição entre todos os municípios do Estado.
E o seu principal trunfo, a vocação turística, é menosprezado. Guarapari deposita todas as suas fichas em um turismo sazonal, mas que já não tem sido mais capaz de suprir as demandas da cidade ao longo do ano. Aliás, também não supre com excelência as expectativas de quem passeia pela cidade.
A prefeitura, assim como outros entes públicos, as associações de moradores e comerciantes e a iniciativa privada precisam buscar saídas para Guarapari. A cidade é linda, melhorou sua infraestrutura nas últimas décadas, mas ainda desenvolve um turismo amador. Isso faz com que a atividade econômica tenha fôlego basicamente três meses por ano. Fora da temporada e dos feriados, é como se a Cidade Saúde estivesse agonizando na UTI.
Terra à vista
Com a inclusão de campos petrolíferos terrestres do Norte capixaba na oferta permanente da Agência Nacional do Petróleo (ANP), após a Petrobras se desfazer de alguns contratos, empresas que atuam no segmento onshore já começam a demonstrar interesse em adquirir áreas. Entre as que estão avaliando as oportunidades estão Vipetro, Imetame e Bertek.
Interesse conjunto
Além da exploração e produção terrestre, cresce a expectativa para que outras etapas da atividade petrolífera sejam desenvolvidas no Estado. Um movimento que está sendo estruturado e estudado entre entidades e o setor privado é para a construção de uma minirrefinaria. “Há interesse de montar algo em conjunto. Há grupos nacionais e internacionais sondando para investir aqui”, disse uma fonte.
Reforço para desestatizar
O economista Carlos Yoshio Motoki, 69 anos, que participou do processo de privatização da antiga Escelsa – hoje EDP – passou a integrar a equipe da Codesa. Ele, que também tem passagem pela Arsp e Enersul, vai atuar como assessor direto da presidência e irá tratar principalmente dos assuntos ligados à desestatização da Codesa.
Mais transparência
O currículo de Motoki, assim como de todos os comissionados da companhia docas capixaba, vai passar a ficar disponível no site da Codesa. Alguns já podem ser consultados.
É sério isso?!
O ES vez ou outra é lembrado por não ser uma referência no trato com o consumidor. Tanto é que já virou piada essa relação, com a criação do chamado PAC: padrão de atendimento capixaba. Mas tem hora que fica até difícil defender nosso Estado. Um exemplo foi o que passou um leitor da coluna. Ao ir a uma famosa oficina mecânica de Vitória para resolver um problema no carro, ele ouviu do atendente: “não temos mecânico”. Não é que ele não estava, simplesmente não existia este profissional na empresa.
Troca-troca
Usuários de telefonia móvel e fixa no Espírito Santo já fizeram mais de 800 mil trocas de operadoras em uma década. De acordo com dados da ABR Telecom (Associação Brasileira de Recursos em Telecomunicações), das 870,38 mil ações de portabilidade numérica no Estado, 398,95 mil (46%) solicitações foram feitas por quem usa a telefonia fixa e 471,43 mil (54%) pelos usuários de celulares. Se o troca-troca já acontece em um mercado de pouca concorrência, imagina se tivéssemos muitas opções no mercado.