Jornalista de A Gazeta. Há 10 anos acompanha a cobertura de Economia. É colunista desde 2018 e traz neste espaço informações e análises sobre a cena econômica.

"A fantástica fábrica de desinformação"

Não se trata de frases erroneamente atribuídas a ele, nem tiradas de contexto, tampouco de palavras incorretamente interpretadas

Publicado em 20/07/2019 às 21h12
Os pouco mais de 200 dias na Presidência do Brasil já estão sendo suficientes para Bolsonaro criar a sua “fábrica de desinformação”. Crédito: Alan Santos/PR
Os pouco mais de 200 dias na Presidência do Brasil já estão sendo suficientes para Bolsonaro criar a sua “fábrica de desinformação”. Crédito: Alan Santos/PR

Tal qual Willy Wonka nas clássicas adaptações cinematográficas do livro do britânico Road Dahl, Jair Bolsonaro (PSL) tem sua própria fábrica... Tão fantasiosa quanto, mas muito mais nociva do que aquela que fez sucesso com os filmes “A Fantástica Fábrica de Chocolates”, de 1971 e 2005.

Os pouco mais de 200 dias na Presidência do Brasil já estão sendo suficientes para Bolsonaro criar a sua “fábrica de desinformação”. Sim, em muitos dos casos, a produção é própria e intencional. Não se trata de frases erroneamente atribuídas a ele, nem tiradas de contexto, tampouco de palavras incorretamente interpretadas.

Dos temas sociais aos ambientais, o chefe máximo da nossa nação já foi capaz de disparar expressões que extrapolam qualquer briga partidária ou ideológica. Muitas das declarações que vêm sendo feitas afrontam a história, o povo brasileiro e dados que são levantados e analisados há anos por instituições respeitadas de pesquisa.

Somente na última sexta-feira, em entrevista a correspondentes estrangeiros, em Brasília, foram três exemplos que em nada se aproximam do discurso esperado de um chefe de Estado.

No mais surpreendente deles, Jair Bolsonaro afirmou que “passar fome no Brasil é uma grande mentira” e que “não se vê gente, mesmo pobre, pelas ruas, com físico esquelético”.

Como mostrou A GAZETA, em sua edição de ontem, no Brasil são 5,2 milhões de pessoas nessa condição de insegurança alimentar e, no Estado, há quase 75 mil que não têm o que comer, conforme dados da ONU (2018) e do IBGE (2013, é o último período em há levantamento), respectivamente. Portanto, dizer que não há fome no país é desprezar o problema e demonstrar desconhecimento sobre a realidade do Brasil.

O presidente, ainda durante o encontro com jornalistas, também classificou como mentirosos os dados oficiais divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que mostram que o desmatamento da Amazônia disparou na primeira metade de julho.

“A questão do Inpe, eu tenho a convicção que os dados são mentirosos”, afirmou. “Até mandei ver quem está à frente do Inpe para que venha a Brasília explicar esses dados passados para a imprensa. Nossa sensação é que isso não coincide com a verdade. Até parece que ele está a serviço de alguma ONG”, complementou.

A insistência do presidente de rechaçar as preocupações ambientais e os cuidados não só ligados à Amazônia, mas a toda diversidade ambiental do país, cresce dia após dia e é reforçada por meio de ataques como esses feitos ao levantamento produzido pelo próprio governo. A questão é que esse tipo de comportamento ameaça o meio ambiente, dissemina a dúvida sobre a credibilidade de órgãos de pesquisa e ainda pode atrapalhar os negócios do Brasil com outras nações. Afinal, já faz tempo que o cuidado com a natureza deixou de ser um ponto meramente ideológico.

A terceira circunstância foi a acusação que Bolsonaro fez à Míriam Leitão. Ele usou informações falsas para atacar a jornalista. Além de dizer que ela integrou a luta armada contra a ditadura em 1964, declarou aos estrangeiros que Míriam mente quando fala que sofreu abusos e foi torturada na prisão. “Ela estava indo para a guerrilha do Araguaia quando foi presa em Vitória. E depois conta um drama todo, mentiroso, que teria sido torturada , sofreu abuso etc. Mentira. Mentira”, disse.

Esse é mais um caso em que o presidente ignora a História e estimula a intolerância entre a sociedade, postura da qual um gestor que quer governar para todos deveria estar a anos-luz de distância.

Peço desculpas ao leitor por ter saído do tema do qual escrevo sempre neste espaço, mas há momentos em que a economia não pode ser o balizador de tudo. Respeito, valores e o compromisso com a verdade precisam passar na frente. Só é lamentável que o presidente esteja se distanciando tanto de princípios como esses.

Nova outorga, e agora?

Depois de a ANTT confirmar que o valor da outorga da Vitória a Minas será mudado e, tudo indica que para maior, especialistas e pessoas que acompanham o processo de renovação antecipada da ferrovia estão cobrando se a agência vai fazer novas audiências para mostrar os cálculos que vão ser levados em consideração. A pergunta foi feita à ANTT, mas o órgão nada respondeu.

Dívida do ministro

Ainda sobre a ferrovia, um leitor da coluna afirmou que o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, está em dívida com um pedido de desculpas para o ES. Segundo ele, na época das discussões do valor da outorga, Tarcísio criticou (e muito!) quem contestava os preços estipulados pela União. “O ministro deveria pedir desculpas por ter dito, de forma debochada, que quem pedia a revisão para mais dos valores da outorga merecia um Nobel da Economia”, esbravejou o empresário.

Fases a cumprir

 

O interesse de empresários e políticos do Norte do ES para que o Centro Portuário de São Mateus, projeto da Petrocity, saia do papel está cada dia mais intenso. Há quem jure de pés juntos que o porto tem tudo para se viabilizar em breve. Antes, porém, é preciso superar algumas etapas, como a das licenças. No Iema, o empreendedor já chegou a apresentar um Estudo de Impacto Ambiental e o respectivo Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA). Mas ele foi indeferido pelo órgão, que solicitou novo estudo e o mesmo está sendo analisado pelos técnicos.

NA LATA

Jogo rápido com quem faz a economia girar

Economia: Começamos a ver alguns sinais de recuperação e, se a agenda reformista do governo emplacar, podemos ter um bom ciclo pela frente.

Pedra no sapato: Excesso de burocracia do país.

Tenho vontade de fechar as portas quando: Não tenho não!

Solto fogos quando: Vejo as pessoas que trabalham com a gente e os nossos clientes satisfeitos e realizados.

Se pudesse mudar algo no meu setor, mudaria: A regulação. Por exemplo, fazendo com que o investidor tenha mais flexibilidade para fazer a portabilidade de investimentos.

Minha empresa precisa evoluir em: Inovação e na busca constante para encontrar pessoas alinhadas com a nossa cultura e valores.

Se começasse um novo negócio seria: O mesmo. Faria tudo de novo!

Futuro: Crescer! Temos o plano de estar com R$ 10 bilhões sob custódia até o final de 2020. Hoje, são R$ 3,5 bi.

Uma pessoa no mundo dos negócios que admiro: Guilherme Benchimol, fundador da XP. Além de inspirar o time com o qual trabalha, ele sonha grande e ao mesmo tempo tem simplicidade na forma de tocar os negócios.

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