E jornalista e cronista

Barulhos irritantes do dia a dia testam a paciência de qualquer um

No celular, sujeito fala tão alto que se o Disk-Silêncio pintar na área vai lucrar uma baba pros cofres da prefeitura

Publicado em 12/09/2019 às 08h44
Atualizado em 13/09/2019 às 05h35
Barulho que incomoda. Crédito: Amarildo
Barulho que incomoda. Crédito: Amarildo

O planeta é um espaço redondo com recheio nada saboroso de irritações. Às mazelas do vasto mundo, escolhi, como o poeta, me chamar Raimundo. Não sou obrigado. Restou ao cronista as pequenas danações do cotidiano, os barulhinhos incômodos que, minúsculos, ganham dimensão se queremos nos concentrar em algo ou se na hora do descanso ele se refestelam no prazer de nos manter acordados. Gastura.

Agora mesmo, quando escrevo esta crônica, que se ocuparia da gritaria mundial, a obra no quintal vizinho me faz mudar o rumo da prosa. Deu ruim. A serra makita corta pedras na casa ao lado e ensurdece o que necessitava de calmaria e coração tranquilo pra eu continuar os parágrafos. As palavras se desajeitam com o barulho, a sintaxe coloca fones no ouvido, a gramática mede os decibéis da minha paciência.

Não há fluência que resista à agudez da serrinha maldita. Há outros barulhinhos a me tirar do sério. Quer melhor maneira de perder a noite de sono tentando estapear o pernilongo em serenata ao pé do ouvido? Me conta o amigo metido a entomologista que o zumbido do bicho vem das suas asas, que chegam a mil batidas por segundo. Vivendo, aprendendo e me irritando.

Sons excessivamente agudos serão sempre meus inimigos. Da voz de taquara rachada em dós de peito da cantora aos alarmes em geral. Fazendo par com a serrinha, o alarme da garagem do prédio ao lado alardeia exatos 20 toques à saída dos carros. O motorista está prestes a subir a Terceira Ponte e o apito vermelho continua o aviso gritante de que tem carro saindo. O morador já chegou em Vitória, avisalá, seu síndico.

O celular democratizou a gritaria. O sujeito atende a ligação e fala tão alto que se o Disk-Silêncio pintar na área, vai lucrar uma baba pros cofres da prefeitura. Pessoa que chupa os próprios dentes merece uma boca banguela. Ou o que fala tão perto do nosso ouvido em decibéis de trovoada seca. Irritantes barulhos dos senhores da algazarra. Acabo de ouvir um estrondo. O mármore que o vizinho cortava com a makita se espatifou no chão. Ô boca maldita, mas garanto que não foi praga de cronista. Deus me livre de fofoca!

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