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Aridelmo quer ser prefeito de Vitória pelo Novo

Empresário e professor da Fucape já tem a primeira proposta: cortar o número de secretarias municipais de 18 para apenas sete

Publicado em 09/09/2019 às 17h53
Atualizado em 29/09/2019 às 14h15
Coluna Vitor Vogas - 10/09/2019. Crédito: Amarildo
Coluna Vitor Vogas - 10/09/2019. Crédito: Amarildo

Após figurar na eleição a governador em 2018 pelo PTB, o empresário e professor da Fucape Arildemo Teixeira está engajado no partido Novo e determinado a ser candidato a prefeito de Vitória em 2020. Uma de suas propostas, antecipada por ele à coluna, chama a atenção pela ousadia: enxugar drasticamente o número de secretarias municipais.

Após reformas administrativas, o prefeito Luciano Rezende (PPS) reduziu o número de secretarias de 25 para as atuais 18. Aridelmo quer diminuir esse número para somente sete pastas.

Entretanto, para poder colocar em prática qualquer uma de suas ideias – aliás, para poder se tornar mesmo candidato e apresentar essas ideias na campanha –, Aridelmo precisa primeiro garantir a legenda para entrar nessa disputa. Pelo regulamento interno do Novo, para representar o partido na eleição municipal, o “candidato a candidato” precisa vencer todas as etapas de uma exigente seleção interna. Ou seja, antes do processo eletivo, ele precisa superar um processo seletivo. Não basta querer nem ser abençoado pela cúpula de dirigentes da agremiação.

Como explica o próprio Aridelmo, essa seleção se divide em quatro etapas:

A 1ª fase, já superada por ele, é a da inscrição. Qualquer filiado ao Novo que queira ser candidato majoritário pode se inscrever no processo, desde que tenha pelo menos oito anos de experiência comprovada em gestão patrimonial, pública ou privada. Após o ato de inscrição, de cinco a oito outros filiados são consultados para verificar se existe algo que desabone o pré-candidato. Se estiver tudo ok, ele avança para a segunda fase. E aí começa o funil.

Na 2ª etapa, o partido contrata duas empresas nacionais especializadas em seleção de pessoas (“headhunters”), para aferir o conhecimento técnico do postulante ao cargo majoritário, como se fossem contratar o CEO de uma grande empresa. Essa etapa inclui entrevista e até prova escrita, na qual os recrutadores avaliam se o pré-candidato mostra alinhamento com os valores do partido e conhecimentos sobre orçamento público, a legislação que rege a administração pública, entre outros pontos.

Muitos param aí. Hoje, segundo Aridelmo, a reprovação dos pré-candidatos a prefeito pelo Novo nessa segunda etapa está em 82% no Brasil inteiro. Aridelmo foi aprovado.

A 3ª fase consiste em uma videoconferência, na qual cinco entrevistadores de outras partes do país sabatinam o pré-candidato, para testar seus conhecimentos específicos sobre o município que ele quer governar: realidade econômica e orçamentária, saúde, segurança, educação, mobilidade, saneamento, por aí vai... Aridelmo ainda passará por essa etapa.

A última e decisiva etapa é a convenção municipal, que deve ocorrer em julho do ano que vem. Nela, todos os pré-candidatos habilitados nas fases anteriores disputarão o direito à candidatura, pelo voto direto dos filiados, seguindo o sistema “one man, one vote”. Se o Novo tiver mil filiados em Vitória, são esses mil filiados que escolherão o candidato que representará o partido na eleição a prefeito da cidade.

Ou seja, a palavra final é do militante. Os candidatos são escolhidos pelas bases, e não por acordos de cúpula. “Não adianta eu chegar lá e sentar na janelinha. Cada filiado tem um voto. O partido não tem caciques”, afirma Aridelmo.

Para garantir mais equidade de chances para todos, conta Aridelmo, os dirigentes partidários do Novo não podem ser candidatos. Se quiserem disputar algum mandato eletivo, precisam renunciar ao cargo de direção um ano antes do pleito. Isso até para evitar uma prática comum em muitas siglas: o cacique que favorece a si mesmo, inclusive na partilha de recursos. A propósito, o Novo, por princípio, recusa-se a usar recursos de fundos públicos. Para se manter, o partido cobra mensalidade de R$ 29,80 de cada filiado.

Para Aridelmo, os mecanismos internos do Novo propiciam, de fato, democracia interna e autonomia aos diretórios municipais, impedindo intervenções nacionais e decisões verticalizadas. “Isso não existe. Amoêdo não apita absolutamente nada.”

Se Aridelmo superar a etapa da sabatina, ele já estará, no mínimo, alçado à disputa na convenção, contra uma quantidade ainda indefinida de outros candidatos à vaga, dependendo de quantos se habilitarem para a etapa final do processo. Ele quer ter adversários internos.

“O mais importante é o projeto. Queremos chegar à convenção com quatro, cinco bons candidatos, todos afinados com o projeto do Novo. E aí quem estiver se comunicando melhor para representar o projeto é o que vai. Temos que chegar em julho de 2020 com pelo menos quatro nomes que trabalharam daqui até lá a construção do projeto. E lá, na convenção, os filiados decidem qual é o melhor.”

CASAMENTO COM O PTB NÃO FAZIA SENTIDO

Com apenas… dos votos, Aridelmo Teixeira concorreu ao Palácio Anchieta em 2018 pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). O partido escolhido pelo empresário para ingressar na política nunca foi algo fácil de entender. Aridelmo vestindo PTB parecia tão natural quanto Anitta vestida de freira ou o Príncipe Charles em trajes de surfista.

No campo ideológico, o liberalismo econômico do dono da Fucape não rima nem um pouco com o trabalhismo do antigo PTB de Vargas, João Goulart e Brizola. E o discurso adotado por Aridelmo, de renovação das práticas políticas, nascia impregnado de mofo por causa da própria legenda, envolvida, por exemplo, no mensalão em esquemas de corrupção no Ministério do Trabalho durante governos Lula e Dilma. Não casava, enfim.

A única explicação plausível, naquela conjuntura, é que Aridelmo escolheu o PTB porque o partido estava na base de Paulo Hartung e era o único onde ele tinha segurança de poder concorrer ao governo para defender o legado de Hartung.

Seja como for, aquela eleição acabou. E, tão logo acabou, Aridelmo apressou-se em trocar o PTB pelo Novo, como quem não vê a hora de despir-se de uma roupa que incomoda. Ao contrário do anterior, o casamento entre partido e candidato agora faz muito mais sentido.

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