
"Terá início um grande ciclo de investimentos privados em ferrovias". O quê? Grande ciclo de investimentos? Há muitos anos não se ouvia um discurso nesse sentido no Brasil. É claro que a afirmação chama mais atenção neste momento em que a economia está se esfarelando, mas o fato é que a frase foi dita há dois dias pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas.
Testemunharam-na todos os presentes à solenidade que marcou a primeira renovação antecipada de concessão ferroviária, assinada entre a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e a empresa Rumo Malha Paulista. O contrato prevê investimentos de mais de R$ 6 bilhões (em trilhos, vagões etc), num sistema de linhas com 1.989 quilômetros de extensão. Também serão gerados diversos investimentos em mais de 40 municípios de São Paulo. A estimativa é de abertura de 7 mil empregos anuais nos dez primeiros anos.
O que o Espírito Santo tem a ver com isso? Tem a expectativa de também participar do "grande ciclo de investimentos privados em ferrovias". Estão na fila para renovar os seus contratos, entre outras, a Estrada de Ferro Vitória-Minas (895 quilômetros) da Vale. No âmbito dessa renovação, o Espírito Santo deve começar a se mexer visando a implantação da EF 118, ligando Vitória ao Rio Janeiro, projeto deixado em aberto no governo Temer, por falta de credibilidade e de fôlego político - já que na época a questão descambou para esse lado, apesar de ser estritamente técnica.
Trata-se de obra muito importante para a economia capixaba. Possibilitará a conexão dos Portos de Tubarão, Ubu e Central, em Presidente Kennedy. Em todo cenário logístico, é fundamental a sinergia ferrovia/porto. Por mais razão no Espírito Santo, dada a dependência da economia local com o comércio exterior. A renovação antecipada de concessão ferroviária para a empresa Rumo Malha Paulista beneficia o Porto de Santos. Para o Espírito Santo, é imprescindível que o Porto Central, em Presidente Kennedy , localizado em região estratégica, tenha alimentação ferroviária.
Em 2018, a implantação da EF 118 teve custo estimado em torno de R$ 3 bilhões, e previsão de movimentação de quase 300 milhões de toneladas por ano no Estado pelo transporte ferroviário, considerado seguro, eficiente, barato e (ecológico) menos poluente.
No auge da campanha para o Planalto, o candidato Bolsonaro postou em rede social: “Brasil sem ferrovias. Isso vai mudar”. Precisa mesmo. Para impulsionar o crescimento e a competitividade. Durante décadas, os governantes priorizaram investimentos em rodovias - tradicional vitrine político-eleitoral -, em detrimento de ferrovias. Essa mentalidade vem de longe. Remonta dos anos 1920 e se intensificou no forte estatismo dos governos Getúlio Vargas (1930-1945 e 1951-1954) e Juscelino Kubitschek (1956-1961).
Segundo dados da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), o número de vagões hoje em trânsito, de aproximadamente 103 mil unidades, corresponde a 3,7% da frota de caminhões, com 2,8 milhões de veículos.
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