
A debandada no Ministério da Economia intranquiliza o mercado. Não é normal. Causa incerteza, fator que trava decisões investimentos. A pasta pilotada por Paulo Guedes é o principal avião da esquadrilha administrativa, e ilustres tripulantes estão saltando da aeronave. O mercado vê isso como indicativo de alteração de roteiro no caminhar da pasta. A repercussão é péssima. Ocorre em meio a tempestade, com o PIB afundando ao nível de quase 6% ao ano.
O time de Paulo Guedes perdeu oito nomes importantes - revoada nunca antes vista. Agosto começou com os pedidos de demissão do secretário especial de Desestatização e Privatização, Salim Mattar, e do secretário de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, Paulo Uebel. No mês passado, foram três baixas: Mansueto Almeida (que havia se tornado referência no ministério) deixou a Secretaria do Tesouro Nacional; Rubem Novaes largou a presidência do Banco do Brasil; e Caio Megale pediu exoneração do cargo de diretor de programa da pasta.
Antes, havia saído o secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais, Marcos Troyjo (que foi para a presidência do New Development Bank). Também pediram o boné profissionais que integraram a equipe de transição do ministério: Marco Cintra, ex-chefe da Receita Federal, e Joaquim Levy, que ficou na presidência do BNDES até o ano passado.
O que mais tem causado perplexidade dentro e fora do país é a saída em bloco de cinco grandes nomes, em menos de um mês, de julho para agosto. Guedes confessa ter sido pego de surpresa. O que está por trás desse movimento não é nada oculto. O mercado começa a pensar que as estrelas pularam fora por causa do rumo que a gestão econômica está tomando. Em consequência, desconfia-se de que haverá novas baixas.
Forçosamente, o Ministério da Economia está em processo de reformulação do seu plantel. Haverá apenas substituição nos cargos ou mudança de estrutura? Por mais capacitados que sejam os que estão chegando, é fundamental corrigir defeitos no funcionamento da pasta, muito visíveis aos olhos de todos.
As privatizações estão emperradas. Temos como exemplo capixaba o caso da Codesa, que começou a ser preparada para transferência à iniciativa privada no governo Temer, mas ainda não saiu do papel. Já a reforma administrativa (essencial para melhorar a eficiência do setor público), teve estudos modificados, por determinação de Bolsonaro, mas está engavetada.
Em meio a incertezas, fala-se que o programa liberal de Guedes está virando fumaça. Não que falte consistência às diretrizes. Mas porque o capitão estaria querendo impor uma espécie de nacionalismo desenvolvimentista. Sua visão seria usar recursos do Tesouro para impulsionar a economia. Coisa parecida com época de Médici (a quem citou recentemente demonstrando admiração). O capitão não para de surpreender. No momento, parece dedicado a costurar um plano visando a reeleição.
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