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Viés de alta: a análise do Itaú sobre o cenário econômico brasileiro

Na avaliação dos economistas do maior banco do país, vários fatores, internos e externos, fizeram com que as perspectivas melhorassem nos últimos meses

Publicado em 29/06/2023 às 03h50
Dinheiro - mercado - dolar - real
Crédito: Carlos Alberto

É claro que nem tudo são flores, os desafios postos são grandes e que algumas interrogações ainda precisam ser dirimidas (a meta de inflação, por exemplo), mas quem participou do encontro do time de economistas do Itaú-Unibanco, nesta quarta-feira (28), com jornalistas de todo o país saiu com a sensação de que as coisas estão evoluindo. Não se trata de um milagre econômico - os investimentos, por exemplo, seguem tropeçando, um baita problema -, mas de uma melhora no cenário.

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, no primeiro trimestre, surpreendeu e a expectativa de crescimento para 2023, que no final de 2022 estava em 0,8%, já foi revisada pela maior instituição financeira do país para 2,3%. É possível que, no consolidado do ano, se aproxime dos 3%. Para o ano que vem, segue em 1,5% de alta, mas o número será revisitado ao longo dos próximos meses. O cenário externo, mesmo não sendo de bonança completa, também não é tóxico - China deve crescer 5,4% em 2023 e 4,3% em 2024 (lembrando que a segunda maior economia do mundo se aproxima dos US$ 18 trilhões).  

O dólar, que chegou a superar os R$ 5,50, deve, na avaliação da equipe comandada pelo economista-chefe do Itaú, Mario Mesquita, seguir perdendo valor em relação ao real até, pelo menos, o final de 2024. A inflação, caso o regime de metas não seja alterado de maneira desastrada (a reunião decisiva acontece nesta quinta-feira), e esta não é a aposta do banco, deve seguir em trajetória de desaceleração, fechando o ano em 5,4%. Para 2024, deve ficar em 4,4%.

O Conselho Monetário Nacional - formado por Fernando Haddad (Fazenda), Simone Tebet (Planejamento) e Roberto Campos Neto (presidente do Banco Central) - definirá as metas até 2026. Uma decisão que, se bem tomada, ajudará a ancorar as expectativas. "Trabalhamos com a hipótese de uma meta permanente de 3%, sem ampliação das bandas. Será uma boa notícia, caso seja confirmada, reforçando a ideia de que há uma aversão da sociedade brasileira à inflação. Uma meta permanente seria um avanço, estaria alinhado com as melhores práticas. É um acerto que ajudaria o Banco Central na redução da taxa de juros", assinalou o economista-chefe Mario Mesquita. O Itaú acredita que a Selic começará a cair em agosto, terminando o ano em 12,25%. Para 2024, o cenário de juros será revisto pela instituição.

A parte fiscal, na visão do Itaú, segue sendo o desafio mais relevante para o Brasil, apesar de o arcabouço fiscal ter reduzido as tensões - os preços dos ativos monitorados pelo banco, que se valorizaram nos últimos meses, evidenciam isso. "O governo tem um plano para segurar as despesas e está tomando medidas pelo lado das receitas, na questão dos benefícios fiscais, que podem surpreender. A meta é zerar o déficit fiscal no ano que vem, acreditamos em um déficit de 0,8% do PIB, mas, se a economia crescer mais e houver uma surpresa nas receitas, é possível. Não é o nosso cenário básico, mas pode acontecer", explicou Pedro Schneider, economista do Itaú.

Muito embora as expectativas em relação ao lado fiscal tenham dado uma melhorada, o país ainda está longe do cenário da época do grau de investimento - entre 2008 e 2015. No período, a dívida bruta como proporção do PIB estava pouco acima dos 50%. Hoje, vai além dos 70% (73,5%) e, mesmo com toda a nova estrutura fiscal dando certo, não deve baixar. Pelo contrário, a boa notícia do momento é não permitir que a dívida estoure. O Itaú acredita que a agência de risco S&P Global, que recentemente alterou a perspectiva de nota do Brasil de "estável" para "positiva", deve subir o rating do país até o primeiro trimestre do ano que vem, mas, daí a um grau de investimento, vai uma larga distância. "Ainda estamos longe de voltarmos ao grau de investimento. Precisamos que o fiscal funcione e/ou de mais reservas em dólar. Os números atuais de dívida estão muito distantes da época em que tínhamos a nota de crédito", afirmou Mesquita.

A taxa de desemprego, hoje em 8,8%, deve fechar o ano em 8% e ficar nesse patamar até o final de 2024. Com os preços mais controlados e menos gente disponível no mercado, os reajustes salariais devem voltar a superar a inflação. O agro deve seguir empurrando a economia, com uma ajuda maior da indústria e dos serviços no ano que vem. O aumento real da massa salarial ajudará.

Sobre os investimentos, fator fundamental para que uma economia cresça com força de maneira sustentada, os economistas do banco avaliam que as concessões de infraestrutura no país, as privatizações previstas pelo Estado de São Paulo e a reforma tributária podem ajudar. "De fato temos um problema nos investimentos, mas esses três fatores tendem a ajudar. A reforma tributária trará mais transparência e simplicidade a um sistema que é caótico, o ganho é brutal para a economia. O empreendedor enxerga rápido isso, a tendência é ajudar nos investimentos. Mesmo que saia nos termos atuais, a reforma é positiva", disse Schneider. 

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