Publicado em 26 de abril de 2021 às 13:19
A um ano e meio das eleições, presidenciáveis em potencial despontam nacionalmente e, conforme o cerco se fecha, empurram nomes para a disputa pelo governo de São Paulo, como ocorreu com Fernando Haddad (PT) e Guilherme Boulos (PSOL) - que figuram ao lado de ao menos dez postulantes. >
O próprio governador João Doria (PSDB) já admitiu que pode concorrer à reeleição em 2022, e não ao Planalto, seu objetivo inicial, o que contribui para o congestionamento de candidatos para o Palácio dos Bandeirantes.>
A fala do tucano, contudo, é vista mais como um aceno para composições partidárias do que uma intenção de renovar o mandato. A prioridade de Doria continua ser candidato à Presidência e emplacar o atual vice, Rodrigo Garcia (DEM), em sua cadeira, de preferência filiado ao PSDB.>
Foi na esquerda que o xadrez paulista teve as principais mudanças, motivadas pela reabilitação eleitoral do ex-presidente Lula (PT), em março. A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) favorável ao petista empurrou Haddad, então tido como o candidato da legenda, para fora do rol de presidenciáveis.>
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De toda forma, Haddad tem trabalhado nas duas frentes - mantém o discurso nacional de oposição ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), enquanto amplia a agenda política no Estado.>
"É um desejo do PT que ele seja candidato a governador em São Paulo. Temos que construir uma frente democrática, reproduzir a aliança nacional", afirma Jilmar Tatto, secretário de comunicação do PT.>
Por enquanto, Haddad não tem dito se topa, mas o partido se animou com seu desempenho em pesquisas. "É precipitado lançar nomes", diz o ex-prefeito à reportagem.>
As agendas do petista em São Paulo estavam marcadas desde antes da decisão do STF que devolveu a Lula o direito de se candidatar e faziam parte de um giro pelo país que ele acabou interrompendo pelo agravamento da pandemia.>
Os compromissos pelo interior, no entanto, têm se intensificado. Haddad prega a necessidade de alternância de poder em São Paulo, Estado dominado pelo PSDB.>
O discurso de desgaste dos tucanos e cansaço dos eleitores com o partido também é usado por Boulos, que chegou ao segundo turno na eleição para a Prefeitura de São Paulo em 2020 e se cacifou para uma nova campanha à Presidência - a primeira foi em 2018.>
Neste mês, porém, ele anunciou em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo que está disposto a concorrer a governador. O psolista, que após a derrota no ano passado afirmou que iria trabalhar pela união da esquerda contra Bolsonaro, prefere evitar um enfrentamento com Lula, de quem é amigo.>
Alas do PSOL defendem, contudo, que o partido tenha candidato próprio ao Planalto, como faz desde 2004.>
"A eleição pode ser discutida, mas não pode ser prioridade agora, com milhares de mortes diárias e tantos desafios. O que fiz foi colocar meu nome à disposição, porque acredito que há uma janela de oportunidade para derrotar o 'Tucanistão', a hegemonia do PSDB no Estado", diz Boulos.>
O líder de movimentos de moradia afirma que tem costurado uma frente do campo progressista e vê na coalizão a única forma de fazer frente ao aparato tucano. Ele nega, no entanto, que sua pré-candidatura seja uma forma de pressionar por apoio do PT em troca do endosso do PSOL a Lula.>
"A relação política não se dá nesses termos. O que tenho dito é que a unidade exige gestos de parte a parte e reciprocidade, além de discussão programática e visão estratégica", afirma Boulos, que também tem estreitado laços com o interior do Estado.>
Membros do PT veem chance de aliança com o PSOL no Estado, embora uma chapa específica com Haddad e Boulos seja considerada improvável.>
Há rivalidade eleitoral entre partidos aliados também em relação a Doria e Garcia. O PSDB já convidou o vice a se filiar, e tucanos próximos do governador acreditam na migração. Por outro lado, Garcia é pressionado pelo DEM a ficar e pondera os efeitos da imagem desgastada do PSDB.>
A filiação resolveria a demanda dos tucanos por um candidato próprio no Estado que governam, com breves interrupções, desde 1995. Procurado pela reportagem, Garcia não se manifestou.>
"Rodrigo tem mais de 30 anos de trabalho junto com os governos do PSDB e é parte da nossa história, tem no seu DNA os nossos princípios e valores", afirma Marco Vinholi, presidente do PSDB paulista.>
O ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), porém, mantém conversas e giros pelo interior com a intenção de viabilizar sua candidatura ao Palácio dos Bandeirantes, que ocupou por cerca de 12 anos.>
No PSDB, porém, Alckmin poderia ter que brigar por espaço com Garcia - o grupo de Doria o quer como candidato ao Senado. A candidatura do ex-governador via PSDB está atrelada ao acerto nacional em torno de Doria e do DEM.>
Por isso, interlocutores de Alckmin já se movimentam em torno de um plano B, como a filiação dele ao PSL ou ao PSB, além de aproximação com o PSD, de Gilberto Kassab.>
"O PSDB é a prioridade tanto para o Geraldo quanto para o grupo dele. Pela história, porque ele foi fundador [da legenda]. Mas o Geraldo será candidato, seja pelo PSDB ou outro partido", diz o ex-deputado estadual Pedro Tobias, articulador de Alckmin.>
Segundo Tobias, a militância é que vai definir se há espaço para o ex-governador no PSDB. O ideal, para ele, seria repetir a chapa de 2014, com Márcio França (PSB) de vice. "A eleição estaria ganha", diz.>
França tem feito esforços para atrair Alckmin para o PSB e vê com entusiasmo a repetição da parceria. Ao mesmo tempo, ele --que chegou ao segundo turno contra Doria em 2018 e disputou a prefeitura da capital em 2020-- abriu um canal de diálogo com o PT.>
"Essa dobradinha com o Geraldo é muito competitiva. Sou forte na capital, Grande São Paulo, ABC e Baixada [Santista], e ele é querido no interior", valoriza França. "Qualquer decisão vai ser tomada em acordo com a orientação do meu partido no plano nacional", diz o dirigente do PSB.>
Alckmin não se manifestou.>
O PSL, que está disposto a acolher o tucano, tem afirmado que terá candidatura própria. O nome escolhido era o do senador Major Olímpio, que morreu de Covid-19 no mês passado. Agora, o partido considera mais viável a filiação de um novo quadro do que lançar um dos membros.>
Duas campeãs de votos da legenda em 2018, a deputada federal Joice Hasselmann perdeu força depois do desempenho fraco na eleição paulistana e a deputada estadual Janaina Paschoal mira o Senado.>
O presidente estadual do PSL, deputado federal Júnior Bozzella, afirma que as portas estão abertas para Alckmin e menciona também o deputado estadual Arthur do Val (Patriota), o Mamãe Falei.>
Representante da direita anti-Bolsonaro, Arthur afirma que, a princípio, ficará no Patriota, mas que busca alianças com partidos como PSL e Novo. "Vejo a candidatura ao governo como uma missão para a qual estou preparado. É uma eleição possível"", diz ele, que surpreendeu na eleição para prefeito da capital, alcançando quase 10% dos votos.>
No Novo, que fará processo seletivo para definir o postulante, o deputado federal Vinicius Poit já se apresentou como pré-candidato. "Estou montando um plano de governo. Precisamos de alguém que saiba dialogar, que lute por São Paulo. As pessoas não querem mais do mesmo", diz.>
Aliados de Bolsonaro também se movimentam em busca de um palanque para o presidente. Alguns nomes estudados são o do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, o do deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL) e o do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.>
Entre militantes bolsonaristas, a ideia é formar uma única chapa conservadora, para não dispersar votos. O deputado estadual Douglas Garcia (PTB) afirma que seu partido está aberto a abrigar a candidatura e considera Luiz Philippe e Weintraub "ótimas opções".>
O deputado disse estar disposto a concorrer. Aliados de Weintraub confirmam que o diretor-executivo do Banco Mundial cogita ser candidato. Salles respondeu à reportagem que não está tratando de eleições, "mas governador estaria de qualquer jeito fora de questão".>
O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf (MDB), também pode buscar o posto de candidato bolsonarista. Como o MDB tende a apoiar Garcia, o mais provável é que Skaf se filie ao mesmo partido no qual o presidente Bolsonaro deve ingressar.>
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