Publicado em 8 de dezembro de 2022 às 18:10
O Ministério da Saúde incorporou o Zolgensma (onasemnogeno abeparvoveque), da Novartis Biociências S. A., para o tratamento de crianças com até seis meses diagnosticadas com Atrofia Muscular Espinhal (AME) tipo um, considerado o mais grave.>
O anúncio foi feito pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, nas redes sociais. A portaria (172 de 6 de dezembro de 2022) com a decisão foi publicada nesta quarta-feira (7) no Diário Oficial da União.>
O medicamento estará disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) em até 180 dias, prazo necessário para os trâmites operacionais de negociação de preço, compra, distribuição e elaboração de protocolo clínico para orientação sobre uso.>
O Zolgensma passou pela avaliação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologia no SUS (Conitec) e por consulta pública – mais de 1.200 participantes enviaram contribuições.>
>
A terapia foi aprovada em maio de 2019 pela Food and Drug Administration (FDA) – agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, e em agosto de 2020 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), com indicação para crianças de até dois anos com AME tipo um.>
A recomendação é que seja utilizado em paciente que esteja fora de ventilação não invasiva acima de 16 horas por dia.>
A AME afeta o neurônio motor espinhal e é causada por uma alteração do gene responsável por codificar a proteína necessária para o desenvolvimento adequado dos músculos. Rara, a doença provoca fraqueza, hipotonia, atrofia e paralisia muscular progressiva afetando a respiração, a deglutição, a fala e a capacidade de andar. O tipo um acomete de 45% a 60% do total de doentes com AME e pode levar à morte.>
O tratamento consiste na aplicação de dose única, em ambiente hospitalar. O preço máximo estipulado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos, órgão interministerial responsável pela definição dos preços máximos de comercialização de remédios no país, é de R$ 6,4 milhões.>
"Priorizando o compromisso de assegurar o acesso ao Zolgensma, a Novartis se alinhou às necessidades do país, Ministério da Saúde e dos pacientes para viabilizar a medicação de forma sustentável no SUS, através de uma proposta de valor que reflete seu caráter inovador e está adequada à realidade brasileira. As terapias gênicas representam um grande avanço, não só para pacientes e familiares, como também para todo o sistema de saúde, ciência e tecnologia", afirmou a Novartis, em nota.>
Em dezembro de 2020, a CMED havia definido que a dose única do Zolgensma não poderia custar mais que R$ 2,9 milhões no Brasil. A farmacêutica questionou esse valor sob argumento de que o medicamento é uma terapia gênica inovadora que apresenta resultados duradouros, enquanto o concorrente oferece um tratamento contínuo.>
Questionada se há um estudo sobre a produção necessária para atender o Ministério da Saúde, a farmacêutica disse apenas que "está seguramente estruturada para garantir o fornecimento integral".>
A reportagem da Agência Folhapress questionou o Ministério da Saúde sobre quantos bebês estão elegíveis para receber a terapia, qual será a periodicidade da compra, quanto custará ao ministério e como se dará a dispensação do Zolgensma para a aplicação, mas não recebeu resposta.>
Fátima Braga, presidente da Associação Brasileira de Amiotrofia Espinhal (Abrame), comemorou a incorporação do Zolgensma ao SUS. É o terceiro tratamento disponibilizado no país – atualmente, o Spinraza (nusinersena) e o Evrysdi (risdiplam) estão incorporados ao SUS para tratamento da AME. Ambos são de uso contínuo.>
Por outro lado, há questões que precisam ser ponderadas, segundo Braga. "Nem todas as crianças brasileiras têm acesso ao teste do pezinho no nascimento. Se temos a terapia gênica, deveríamos ter o diagnóstico precoce da AME, o que mudaria o rumo da doença", diz.>
A associação também questiona o critério de seis meses de vida. "Em algumas regiões do país, o diagnóstico é tardio, pode até passar de um ano. Ainda há história da ventilação mecânica. Muitas vezes, a criança com AME um ou zero não consegue respirar sozinha. Tem criança que passa 24 horas com o equipamento", diz a presidente da entidade.>
Ela também colocou como pontos obscuros o compartilhamento de risco – as associações não foram informadas sobre os critérios – e os custos para a aplicação.>
Segundo Braga, somente São Paulo e Rio Grande do Sul estão fazendo as aplicações. "O traslado deve ser feito em avião particular. A criança precisa ficar um mês em observação após a aplicação. Onde ficarão as famílias? Em hotel? Quem vai arcar com esses custos? No Ceará, duas pacientes que receberam a terapia tiveram que ir para o Albert Einstein", finalizou Braga.>
O Zolgensma também deverá ser incluído ao rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e ser coberto pelos planos de saúde em até 180 dias.>
Pela Lei 14.307/2022, que define regras para a incorporação de novos tratamentos pelos planos e seguros de saúde, todas as tecnologias avaliadas e recomendadas pela Conitec para o SUS também devem ser incorporadas na saúde suplementar no mesmo prazo.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta