Publicado em 29 de julho de 2023 às 11:26
Edilson Alves da Silva, 62 anos, permanecia sentado em uma sala com um de seus olhos tampado por um curativo. Minutos antes, ele estava deitado em uma maca enquanto a oftalmologista Laryssa Ávila fazia o procedimento para tratar a catarata do paciente. Era a segunda vez que ele passava pela operação.>
"Fiquei feliz [com a cirurgia no primeiro olho]. Agora, vou ficar ainda mais feliz com esse outro lado", diz, com uma voz rouca que esconde parcialmente sua empolgação.>
Mas antes de realizar os procedimentos no Centro de Referência em Oftalmologia (Cerof), um hospital dedicado à saúde ocular localizado em Goiânia e vinculado a Universidade Federal de Goiás (UFG), Edilson aguardou pela cirurgia. Morador da cidade de Anápolis, a 52 km da capital do estado goiano, ele fez exames e foi acusado catarata.>
"Eu marquei pelo SUS e fiquei a vida inteira esperando", afirma ele. A cirurgia no Cerof veio depois de um vereador fazer uma campanha para viabilizar a realização das operações no centro de referência. Uma delas era a de Edilson.>
>
A catarata dificulta a visão do paciente e pode levar à cegueira reversível. A pessoa com a complicação sofre por ficar com a visão embasada, principalmente se estiver em estágios mais avançados - são quatro, no total.>
Para contornar a situação, a cirurgia é a forma mais recomendada. "A catarata ainda é a maior causa de cegueira no mundo, e o único tratamento é o cirúrgico", resume Marcos Ávila, professor de oftalmologia da UFG e fundador do Cerof.>
O dilema é que a fila é grande - a maior entre as cirurgias eletivas no país. Segundo dados do Ministério da Saúde divulgados no início de junho em meio a um programa de redução de filas de operações no SUS, eram 167 mil procedimentos de catarata no Brasil todo.>
O número alto de espera pode ter relação com vários fatores. A pandemia de Covid-19 é um deles. Indiretamente, a doença aumentou as filas de cirurgias eletivas, porque elas foram paralisadas durante a crise sanitária. O envelhecimento populacional também é uma explicação - o avanço da idade aumenta os riscos.>
"A grande fila é realmente de catarata", afirma Ávila, durante uma passagem no saguão onde pessoas aguardam serem chamadas para o primeiro atendimento no ambulatório. Alguns ainda esperavam, mas o número era visivelmente menor do que horas antes, quando a reportagem chegou ao centro.>
No ambulatório, ocorre o primeiro atendimento oftalmológico para investigar o que o paciente precisa. Se forem necessários óculos, por exemplo, a pessoa sai com uma receita. Mas se o caso for de uma cirurgia, como a de catarata, o paciente é submetido a exames pré-operatórios específicos. Caso esteja tudo em ordem, a cirurgia pode acontecer.>
Na data marcada, antes de deitar na mesa cirúrgica, a pessoa passa por etapas de monitoramento. "Isso daqui, o anestesista já bloqueou, estão medindo os sinais vitais e daqui já vão para cirurgia", conta Ávila, referindo-se a pacientes acomodados em macas prestes a passarem pela operação.>
Já dentro da sala, Laryssa Ávila, oftalmologista do Cerof, faz uma incisão no olho do paciente por meio de um microbisturi - o corte é minúsculo e não demanda ponto. O visco elástico, substância que mantém um espaço logo atrás da córnea, é injetado. Naturalmente, esse vão é preenchido por um líquido, mas, com a incisão, ele se esvai e por isso é necessário aplicar o visco para manter a anatomia do olho.>
Então, é inserida uma micropinça que vai abrir uma espécie de bolsa, o saco capsular, onde a catarata está. Depois disso, é o momento de quebrar essa catarata com o facoemulsificador. "Esse aparelho funciona como uma britadeira, mas por ultrassom", explica Raphael Remiggi, coordenador dos projetos de catarata do Cerof.>
Com o andar da cirurgia, os resíduos da catarata já deteriorada pelo equipamento são sugados. À medida que o procedimento é feito, uma manta acinzentada que dificultava a visualização do olho do paciente no início do procedimento passa a sumir, até desaparecer completamente.>
Depois que toda a catarata é retirada, implante-se uma lente. Remiggi explica que isso ocorre porque a catarata nada mais é que a opacificação do cristalino, a lente natural do olho. "Então toda cirurgia de catarata a gente coloca lentes, porque, se não colocar, ele vai ter que usar óculos de 20 graus", exemplifica.>
Com a lente colocada, um curativo é feito no paciente. Ele é levado para um espaço nas imediações da sala de cirurgia. Depois de um período de adaptação, a pessoa pode deixar o centro médico, mas precisa retornar ao hospital para o acompanhamento do pós-operatório.>
A cirurgia em si demora pouco mais de dez minutos. Mas um procedimento assim custa caro. Ávila diz que o valor começa em torno de R$ 6.000 no atendimento particular, que não é o caso do Cerof. Na tabela SUS, lista que define os valores pagos para serviços privados que colaboram com a saúde pública, o repasse feito é de R$ 651,60.>
Orgulhoso do centro que fundou, Ávila espera a finalização de uma reforma que irá aumentar a capacidade do hospital. Foram cerca de 5.000 cirurgias de catarata só no ano passado, número que deve subir para atender a necessidade da população para esse e outros procedimentos. A demanda, ressalta ele, é muito grande.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta