Publicado em 15 de dezembro de 2021 às 09:55
Ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e advogados esperam André Mendonça alinhado à corrente lava-jatista da corte (com postura linha-dura em julgamentos criminais), pró-governo em temas econômicos e conservador nos costumes.>
As apostas sobre o novo integrante do STF se baseiam na trajetória profissional, com destaque para o combate à corrupção como principal bandeira, nos posicionamentos à frente da AGU (Advocacia-Geral da União) e na religiosidade.>
O próximo ministro da corte tomará posse nesta quinta-feira (16). A cerimônia será presencial e deve durar 15 minutos. Serão cerca de 60 convidados, entre eles o presidente Jair Bolsonaro (PL), além de presidentes de Câmara, Senado e tribunais.>
Procurado, Mendonça afirmou, por meio de assessoria de imprensa, que vai "cumprir os compromissos assumidos durante a sabatina".>
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A expectativa é que Mendonça e Kassio Nunes Marques, primeiro indicado por Bolsonaro, comecem a formar uma ala conservadora na corte, até então inexistente. Na relação com o Congresso, porém, Mendonça deve destoar do colega.>
O primeiro indicado de Bolsonaro chegou à corte com apoio de líderes do centrão e costuma ter postura de deferência ao Legislativo.>
Na maioria dos julgamentos que envolvem o Congresso, Kassio menciona a separação dos Poderes e afirma que não cabe intervenção do Judiciário na seara reservada a deputados e senadores.>
A leitura em relação a Mendonça é que ele chega ao STF sem amarras. O ex-AGU e ex-ministro da Justiça enfrentou uma espera de mais de quatro meses para ser sabatinado e foi quem teve a maior quantidade de votos contrários de senadores para ser aprovado à corte.>
A avaliação que já existia de que ele será um ministro linha-dura em julgamentos criminais que envolvam políticos foi ampliada e, por isso, poderá impor reveses ao Congresso.>
O histórico de Mendonça e as expectativas sobre o comportamento do novo integrante da corte são importantes para vislumbrar como ele se situará na geografia política interna da corte.>
Na área criminal, por exemplo, há dois núcleos que, de forma resumida, se dividem entre favoráveis ou contrários aos métodos de investigação da Lava Jato.>
De um lado, os ministros Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski votam em praticamente todos os casos contra os interesses da operação. Do outro, que pode passar a ter Mendonça como membro, estão Luís Roberto Barroso, Luiz Fux e Edson Fachin.>
Os demais ministros costumam oscilar e determinar para qual dos lados o tribunal formará maioria.>
O temor da ala garantista do STF é que Fux, presidente da corte, aproveite a chegada de Mendonça para recuperar pautas lava-jatistas que estão paradas. Isso porque a maioria dos julgamentos importantes relacionados à corrupção acaba com placar apertado contra a Lava Jato.>
São os casos da discussão sobre prisão após condenação em segunda instância e da decisão de enviar investigações de caixa 2 ligadas a outros crimes para a Justiça Eleitoral.>
Na análise dos dois temas, o tribunal deu decisões contrárias aos interesses da Lava Jato por 6 a 5 e com o voto do ministro Marco Aurélio Mello, que se aposentou abrindo a vaga para Mendonça.>
No primeiro caso, o então ministro vetou a execução antecipada de pena e, no segundo, retirou da Justiça Federal, onde tramita a Lava Jato, diversas apurações.>
Com a entrada de Mendonça, o placar pode ser revertido. Com isso, Fux conseguiria dar tração à intenção de não deixar a Lava Jato ser enterrada de vez.>
Na área tributária, por sua vez, a divisão é outra. Gilmar, Toffoli e Alexandre de Moraes costumam pender às causas do Estado, enquanto Fachin e Fux são mais favoráveis aos contribuintes.>
Nesse campo, o histórico de Mendonça indica que ele seguirá o primeiro grupo.>
É comum que advogados da União de carreira, como é o caso do novo ministro, tenham visão mais próxima aos interesses do governo, uma vez que na AGU geralmente precisam atuar em defesa do Estado.>
Em relação a temas de impacto econômico, o novo ministro deve se alinhar à visão liberal do governo Bolsonaro. Como chefe da AGU, ele defendeu inúmeras medidas do Executivo e, agora, deve manter a coerência e seguir essa linha.>
Na discussão sobre o marco temporal para demarcação de terras indígenas, por exemplo, acompanhada de perto pelo agronegócio, Bolsonaro já chegou a afirmar que Mendonça votará alinhado ao interesse dos produtores rurais.>
"Já sabemos que o André vai ser um voto para o nosso lado. Isso não é tráfico de influência, é que nós sabemos, dado o comportamento dele", disse o presidente.>
Segundo Bolsonaro, sobre "pautas conservadoras" ele nem precisa conversar com o ex-auxiliar.>
É nessa área que Mendonça e Kassio devem formar uma corrente destoante. O STF tem uma maioria sólida com visão mais progressista. Não à toa, a corte decidiu em 2019 criminalizar a homofobia e a transfobia.>
A maneira como Mendonça foi indicado por Bolsonaro ao STF e a agenda que tem cumprido após a aprovação pelo Senado reforçam a tese de que fará jus à fama de "terrivelmente evangélico" que o levou a ser escolhido.>
Apesar de afirmar que se pautará pela Constituição e não deixará a religião - ele é pastor presbiteriano- influenciar em julgamentos, Mendonça mudou de tom rapidamente.>
O novo ministro passou a citar mais o vínculo com a igreja evangélica já na primeira entrevista após receber o aval do Senado.>
Há ações que são consideradas centrais para conservadores e poderão voltar à pauta do STF nos próximos anos. Entre elas estão as discussões sobre descriminalização do aborto e das drogas.>
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