Publicado em 10 de junho de 2020 às 19:53
Na impossibilidade de promover uma grande testagem, o Ministério da Saúde intensificou discussão com secretários estaduais e municipais para ampliar a forma de diagnosticar casos da Covid 19. Existe a possibilidade de adoção da chamada "vinculação epidemiológica".>
Por esse modelo, médicos e autoridades de saúde poderiam notificar o caso de infecção pelo novo coronavírus por meio do histórico de exposição ao vírus e da análise dos sintomas e com exames ambulatoriais, como radiografias e tomografias. Ou seja, não haveria aplicação de testes.>
A testagem, portanto, seria aplicada apenas para uma parcela dos brasileiros. Os profissionais da saúde e gestores definiriam, por amostragem, os grupos e casos que deveriam realizar os testes.>
Embora a proposta não seja nova, o assunto foi retomado recentemente, segundo informou um servidor do Ministério da Saúde. Os debates se intensificaram entre a pasta e o Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) e Conasems (Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde).>
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Na segunda-feira (15), haverá uma nova reunião entre as partes para discutir o assunto, ainda em fase de maturação. Caso haja entendimento nas próximas semanas, uma nota técnica com a nova diretriz será publicada em breve.>
Um secretário estadual de saúde, falando sob condição de anonimato, afirmou que uma nova diretriz nesse sentido seria benéfica, pois os gestores poderiam organizar um programa prioritário de testagem e diagnosticar os demais sem aplicação dos testes.>
No entanto, esse secretário manifesta receio de que a distribuição de testes seja abandonada ou reduzida, caso a nova diretriz entre em vigor.>
A proposta de adoção do vínculo epidemiológico chegou a ser defendida pelo ex-ministro Luiz Henrique Mandetta no início da pandemia, em março, antes do registro do primeiro óbito em decorrência da Covid.>
Mandetta questionou, na ocasião, o investimento em testes para detectar o vírus.>
"É igual falar assim: no começo passa um bicho e eu não sei o que é. Vou lá e colho, faço um DNA e falo que é um gato. Depois que passarem mil gatos, eu falo: 'Ele tem corpo de gato, rabo de gato, faz miau e tem bigode'. Eu presumo que é um gato, posso dizer que passou um gato e não preciso de teste de DNA", disse.>
Com o avanço da pandemia no Brasil e a orientação da OMS (Organização Mundial de Saúde) para promover uma grande testagem, a proposta foi para a gaveta.>
O governo Jair Bolsonaro prometeu, então, uma testagem massiva da população, mas ainda não conseguiu tirar os planos do papel.>
O ministério prometeu distribuir para os estados 24 milhões de testes do tipo RT-PCR, mais confiáveis na detecção da Covid. No entanto, até o fim da semana passada, apenas 3,129 milhões haviam chegado a estados e municípios, segundo informou a pasta em entrevista coletiva no Palácio do Planalto. Desse total distribuído, apenas 752.448 foram aplicados e as mostras encaminhadas para os laboratórios.>
Técnicos da pasta argumentam que a prática já é usada para outras doenças, como dengue e chikungunya, entre outras, e afirmam que seria uma forma de preencher a lacuna da subnotificação. Portanto, caso esse modelo seja adotado, deve haver uma forte alta no total de casos registrados.>
No caso da Covid-19, a análise dos sintomas, de possíveis contato com pessoas infectadas e alguns exames hospitalares seriam usados.>
Um técnico cita como exemplo um caso de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) que poderia ter sua infecção pelo vírus detectada por radiografia do pulmão.>
Uma aposta para colocar em prática essa nova diretriz são os centros de triagem. Na semana passada, o governo anunciou um programa de liberação de R$ 1,2 bilhão para que estados e municípios criem centros de triagem específicos para o coronavírus.>
Esses postos serviriam para detectar casos leves ou pacientes no estágio inicial da doença, evitando que aguardem o agravamento do quadro para buscar atendimento.>
Embora algumas unidades devam contar com testes, a análise por vínculo epidemiológico seria aplicada para detectar possíveis casos da Covid e assim adotar medidas, como tratamentos e isolamento do paciente.>
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