Publicado em 1 de junho de 2025 às 07:49
A formalização neste domingo (1º) da troca de comando no centro-esquerdista PSB --sai Carlos Siqueira, 70, entra João Campos, 31-- carrega à primeira vista um mero sinal de troca de bastão entre gerações, mas ocorre em um cenário de dificuldade de renovação na esquerda.>
Apesar da pouca idade para um político com projeção nacional, Campos integra família que atua na política há mais de 70 anos, desde os anos 1940.>
O prefeito do Recife é filho do ex-governador e ex-presidenciável Eduardo Campos, morto em 2014 em um acidente aéreo, e bisneto do ex-governador Miguel Arraes, um das figuras históricas da esquerda, morto em 2005.>
"Você é um 'broto' [gíria do século passado que significa pessoa jovem], Carlos Siqueira", brincou o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), 72, na abertura da convenção do partido para a confirmação da troca de comando, nesta sexta-feira (30).>
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A dificuldade da ascensão de novos quadros e a questão do "familismo" na política perpassa todos os campos políticos, mas os números no Congresso e a lista de cotados a herdar os capitais políticos de Lula (PT), 79, e de Jair Bolsonaro (PL), 70, indicam haver neste momento uma dificuldade maior na esquerda.>
São desse campo, por exemplo, os três partidos da Câmara dos Deputados com parlamentares com maior média de idade: PC do B (61), PT (58) e PDT (56).>
Na disputa presidencial, Bolsonaro está inelegível e tem ao seu redor uma fileira de sucessores cogitados dentro da própria família e no grupo de governadores de centro e de direita.>
À exceção de Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), 75, que já disputou a Presidência mais de três décadas atrás, todos os outros são nomes de recente ascensão na política --os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), prestes a completar 50 anos, Eduardo Leite (PSD-RS), 40, Ratinho Jr. (PSD-PR), 44, e Romeu Zema (Novo-MG), 60, além de Michelle, 43, Eduardo, 40, e Flávio Bolsonaro, 44.>
Todos esses, claro, com chance de serem competitivos caso contem com o apoio explícito de Bolsonaro.>
Fora da lista de presidenciáveis, novos nomes da direita também aparecem em maior volume devido ao relativamente recente fenômeno bolsonarista, que varreu as eleições municipais de 2018 e se mantém forte até o momento --um dos destaques, por exemplo, é o deputado federal mais votado do país em 2022, Nikolas Ferreira (PL-MG), que completou 29 anos nesta sexta-feira (30).>
Lula é hoje o nome absoluto e incontestável da esquerda e a lista de possíveis herdeiros tem sido magra, até porque por ora ele manifesta o desejo de concorrer a um quarto mandato em 2026, o que elimina qualquer concorrência em seu campo.>
Nos bastidores, vários nomes da esquerda são comentados, em especial no PT, mas todos mais ou menos embolados. Os ministros Fernando Haddad (Fazenda), 62, e Camilo Santana (Educação), 56, embora o primeiro passe atualmente por um desgaste interno agravado pela crise do aumento do IOF, além de figuras hoje fora do PT, como Guilherme Boulos (PSOL), 42, e o ex-ministro Flávio Dino, 57, integrante do Supremo Tribunal Federal.>
Assim como o PSB, o PT, o maior partido desse estrato ideológico, está para renovar seu comando, com eleição marcada para 6 de julho.>
A escolha para a vaga de Gleisi Hoffmann, que foi para a articulação política de Lula, tem como candidato favorito o ex-ministro e ex-prefeito de Araraquara Edinho Silva, 59, com o ex-presidente da sigla e deputado federal Rui Falcão, 81, correndo por fora.>
"Você precisa renovar mais é as ideias das pessoas. Precisa fazer as duas coisas. Agora, você renova também não fazendo mandatos perpétuos. E não pode confundir renovação com etarismo", disse Falcão.>
Presente no início da convenção de troca do comando do PSB, o ex-ministro José Dirceu, figura histórica do PT, reconheceu haver dificuldade de renovação na esquerda, mas disse que esse quadro começou a mudar um pouco nas eleições municipais de 2024.>
Dirceu, que foi um dos principais alvos dos escândalos do mensalão e da Lava Jato, diz avaliar voltar à política eleitoral, se candidatando a deputado federal por São Paulo em 2026.>
Ele afirma esperar haver uma nova safra de petistas disputando cargos de deputados estaduais em 2026. Aos 79 anos, reconhece, porém, que a tarefa de renovação será mais difícil na Câmara dos Deputados.>
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