Publicado em 20 de maio de 2021 às 19:20
A sequência do depoimento do ex-ministro Eduardo Pazuello (Saúde) à CPI da Covid nesta quinta-feira (20) reforçou as acusações de omissão do governo federal para enfrentar o colapso do sistema de saúde em Manaus, durante a primeira e a segunda ondas da pandemia do novo coronavírus. >
Durante a sessão, o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), também solicitou que um relatório parcial das investigações seja concluído pelo relator, o senador Renan Calheiros (MDB-AL). >
No dia anterior, o general tentou blindar o presidente Jair Bolsonaro, reagiu algumas vezes a Renan e mentiu em ao menos quatro oportunidades sobre sua gestão na pandemia. >
Nesta quinta, o depoimento de Pazuello foi retomado, após ter sido suspenso no dia anterior para que fosse realizada sessão do Senado com votação de projetos. Estava inicialmente previsto que a reunião da CPI seria retomada no mesmo dia, mas Aziz avaliou que estava tarde e havia muitos inscritos. >
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Além disso, o ex-ministro Pazuello chegou a passar mal, sendo atendido pelo senador Otto Alencar (PSD-BA), integrante da comissão que é médico. Pazuello negou que estivesse passado mal a ponto de não poder continuar seu depoimento. >
Grande parte das questões abordadas na segunda etapa do depoimento foram referentes ao colapso do sistema de Saúde de Manaus. Pazuello afirmou, por exemplo, que a decisão de não intervir na saúde amazonense em abril do ano passado não foi dele, e sim tomada em uma reunião ministerial, com a presença de Bolsonaro.>
"Essa decisão não era minha. Ela foi levada ao conselho de ministros. O governador se apresentou ao conselho de ministros e se justificou. E foi decidido, nesse conselho, que não haveria [a intervenção]", disse. "Foi levado à reunião de ministros com o presidente. E o governador, presente, se explicou, apresentou suas observações. E foi decidido pela não intervenção. Foi dessa forma que aconteceu", completou.>
Em relação à crise posterior no Amazonas, em janeiro deste ano, Pazuello se eximiu de responsabilidades pelos problemas, principalmente pela falta de oxigênio, que resultou na morte de pessoas asfixiadas. O general disse que a responsabilidade pela aquisição dos insumos e suprimento dos cilindros era do governo local e também das empresa fornecedora.>
"No momento que a secretaria deixa de acompanhar o processo e se antecipar ao processo, a responsabilidade quanto a isso é clara no sistema: é da Secretaria de Saúde do Estado do Amazonas, ponto", afirmou. >
"Então, a empresa White Martins que é a grande fornecedora, associada também, somada à produção da Carbox, que é uma empresa menor, ela já vinha consumindo a sua reserva estratégica e não fez essa posição de uma forma clara desde o início. Começa aí a primeira posição de responsabilidade. Não tem como nós isentarmos essa primeira posição", completou. >
O ex-ministro também apresentou uma nova versão sobre uma conversa telefônica que manteve com autoridades do Amazonas a respeito da falta de oxigênio. Manteve que só ficou sabendo do problema na noite do dia 10 de janeiro. >
Ao ser confrontado com um documento oficial, encaminhado pelo Ministério da Saúde para a Câmara dos Deputados, de que teria tratado de oxigênio no dia 7 do mesmo mês, Pazuello afirmou que conversou sobre o tema, mas com uma perspectiva diferente. >
"Olha só, isso [documento] é o papel, escrevendo, agora eu estou falando pessoalmente aqui sobre esse assunto. O telefonema do secretário de Saúde para mim, no dia 7, à noite, foi exclusivamente para apoio logístico de transporte de tubos de oxigênio que iam para o interior do Amazonas, saindo de Belém para Manaus", afirmou, negando que tivesse tratado da falta de oxigênio. >
No dia anterior, havia afirmado que não tratou do assunto oxigênio. >
Durante a sessão, o relator Renan apontou mentiras no depoimento de Pazuello e pediu ao presidente da comissão, Omar Aziz, para contratar "um serviço para fazer uma procura online, uma varredura das mentiras ou verdades pronunciadas". >
"Já tivemos uma primeira amostragem das contradições. O depoente em 14 oportunidades mentiu flagrantemente", afirmou Renan. >
O ex-ministro da Saúde também afirmou que não procede a informação de que pretende ser candidato a governador ou senador pelo estado do Amazonas. "Ser governador é um caminho que deve ser construído", disse, ao justificar que não está pronto para ocupar esse cargo. >
Pazuello também afirmou que esse movimento de candidatura não partiu dele, apenas colocaram na internet, sem seu conhecimento e que é difícil identificar a origem. >
Em alguns momentos, o general tentou se descolar de Bolsonaro, afirmando que não concordar com algumas de suas posições, em especial em relação à hidroxicloroquina. >
Também acrescentou que as ações do presidente não mudaram a sua visão e nem suas ações a frente do ministério, embora reconheça que têm impacto imensurável. "A posição do presidente ou outros ministros são deles, é juízo de valor deles. Há impacto? Isso é imensurável, é incalculável", afirmou. >
"Na minha visão, as ações dele não mudaram a minha visão. Eu não fiz e não faria e não deixei fazer. Se aconteceu em outro nível do ministério, foi sem a minha autorização. Eu não concordo com isso. Eu não comprei nenhuma grama de hidroxicloroquina, não fomentei o uso", completou, afirmando que apenas distribuiu o medicamento que foi pedido. >
O ex-ministro da Saúde negou que a sua gestão tenha ignorado as ofertas de venda de vacinas da Pfizer, afirmando que manteve pressão sobre a empresa para que mudasse as cláusulas impostas. >
Pazuello repetiu diversas vezes em sua gestão que a Pfizer impôs cláusulas leoninas, como imunidade para eventuais efeitos colaterais da vacina, aceitar só ser julgada nos Estados Unidos e garantia de pagamento em instituições no exterior. >
"Foi constante a pressão para que se reduzisse as cláusulas", afirmou Pazuello, que completou que os brasileiros não são "caloteiros". "A minha posição com a Pfizer era que ela flexibilizasse para o Brasil, porque não tínhamos lei para isso", afirmou. >
O ex-ministro voltou a afirmar que havia proposto mudança na legislação, mas os departamentos jurídicos dos outros ministérios foram contrários, afirmando que a iniciativa deveria partir do Congresso. >
Pazuello então afirmou acreditar que uma proposta de medida provisória para alterar a legislação e permitir ao poder público assumir as responsabilidades impostas pelos laboratórios nem chegou à mesa do presidente Jair Bolsonaro. >
Ao longo da sessão, houve momentos tensos. Em um discurso duro, o senador Otto Alencar (PSD-BA) criticou duramente Pazuello, afirmando que ele não poderia ter sido titular da pasta, pois "não sabe nada sobre a doença". >
"Não sabe nada da doença, não poderia ser ministro da Saúde", disse Otto Alencar, após ter feito perguntas específicas sobre coronavírus. >
Otto Alencar também criticou falas anteriores do general contrárias à máscara e arrancou risos ao falar sobre a hidroxicloroquina. "Nem a ema quis tomar", disse, em referência a um episódio no qual Bolsonaro apontou a caixa da hidroxicloroquina para uma das emas do Palácio do Alvorada, que saiu correndo. >
Durante o depoimento, o senador governista Marcos Rogério (DEM-RO) mostrou um vídeo em que reúne falas de governadores e secretários estaduais defendem a hidroxicloroquina. >
Rogério afirmou que o intuito era mostrar que existe uma "sanha vingadora" contra o presidente Jair Bolsonaro, desviando o foco dos governadores. >
O vídeo mostra governadores oposicionistas ou aliados de membros da comissão, como Flávio Dino (Maranhão), Helder Barbalho (Pará) e o filho do relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), o governador Renan Filho (Alagoas). >
"Não estou expondo os governadores para os condenar, porque ainda hoje acho que estão corretos", afirmou o senador. >
Os senadores da comissão, no entanto, rebateram que o vídeo mostra falas do início da pandemia, quando havia ainda incerteza em relação ao tratamento da Covid-19. "Não vou admitir mentiras em relação ao meu estado", afirmou a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA). >
Outro assunto alvo da CPI foi o aplicativo criado pelo governo que receitava hidroxicloroquina até para bebês e é um dos pontos mais polêmicos da gestão Pazuello, sendo um dos motivos pelo qual ele é alvo de inquérito. >
Nesta quinta, o ex-ministro da Saúde afirmou que o aplicativo TrateCov foi divulgado ainda em fase de protótipo e que depois acabou hackeado, sendo colocado indevidamente no site do Ministério da Saúde. >
Pazuello explicou que um hacker roubou a plataforma e depois incluiu na rede digital do governo. A intenção, segundo o ex-ministro, era agilizar o processo de diagnóstico de casos de covid-19. "No dia que descobrimos que foi hackeado, eu mandei tirar do ar imediatamente", afirmou o ministro. >
"O hacker é tão bom que ele conseguiu colocar o aplicativo em uma matéria na TV Brasil", ironizou o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), citando o fato de que o aplicativo foi anunciado em evento oficial em Manaus."Tudo que poderia ter sido para usar o povo amazonense de cobaia foi feito", disse Omar. >
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