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Os relatos de medo, dor e surpresa em Brumadinho

Os relatos de medo, dor e surpresa em Brumadinho

Moradores dizem que sirenes de alerta não tocaram

Publicado em 26 de janeiro de 2019 às 02:57

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Equipe dos Bombeiros de Minas socorre vítima do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho . (Reprodução | TV Record)

Para quem mora em Brumadinho (MG), na Região Metropolitana de Belo Horizonte, a última sexta-feira (25) do mês de janeiro trouxe uma tragédia que pode superar em número de vítimas o desastre de Mariana , na região central do estado, há três anos. Testemunhas descrevem o momento do rompimento da Barragem 01, da Mina do Feijão , falam do medo de não rever familiares e conhecidos, e dizem que as sirenes de alerta não tocaram no momento da ruptura da barragem.

O técnico de eletromecânica Maicon Vitor, de 22 anos, viu a destruição chegar assim que saiu do refeitório da empresa. Ele havia acabado de almoçar e seguia para o vestiário quando ouviu a barragem romper.

"Desceu arrastando oficinas, escritórios, o refeitório tudo que estava na frente foi embora", disse ele, que deixou para trás 14 amigos e a mãe, motorista da mina.

Maicon contou como escapou para a rota de fuga — estabelecida pela Vale e ensinada em treinamentos — com outros cerca de 40 funcionários.

"Depois que a barragem desceu, eu e mais dois voltamos para ajudar no resgate", disse ele.

Além de auxiliar no salvamento de duas mulheres, eles também retiraram dos escombros o corpo de um motorista da empresa.

O bombeiro civil D. resume como um “cenário de completa destruição” o que encontrou ao chegar no local. Ele, que preferiu não se identificar, diz que foi uma das primeiras pessoas a acessar a área da mineradora.

"Não ouvi a sirene tocar. Logo que cheguei, sabia que havia muitos mortos. Conseguia ver partes dos corpos. Havia poucas pessoas no local e logo o resgate começou a chegar. Era um completo caos. Desde o início eu sabia que sobreviventes seriam poucos", relatou D.

A falha no equipamento de segurança também foi relatada por Maicon Vitor, que ouviu o barulho da tragédia, mas garante o silêncio das sirenes. Mesmo atônito com a situação, ele permaneceu no local para auxiliar nas buscas.

"Todo mundo que não foi soterrado permaneceu aqui. Estamos esperando informações", disse ele.

CLIMA NA CIDADE

Coordenadora executiva da Defesa Civil de Brumadinho, Gislene Zuza confirmou o silêncio das sirenes.

"Elas foram instaladas no início de dezembro, todos os testes foram feitos e os simulados tiveram 95% de aproveitamento",  afirmou Gislene

Enquanto familiares e funcionários permaneceram durante todo o dia no local do acidente, na cidade as pessoas estavam todas nas ruas. Em uma das pontes por onde passa o córrego do Feijão, dezenas de pessoas aguardavam a chegada da lama. A pacata Brumadinho deu lugar a viaturas de polícia, carros de bombeiros e ambulâncias.

"O rio estava turvo, baixou mais de um metro e meio e o cheiro era algo que nunca vimos antes por aqui", disse o mecânico Adilson Fernandes.

Para quem mora na região, além da incerteza, do medo de não rever familiares e conhecidos, a tragédia também já mostra rastros de destruição ambiental. Produtores rurais que vivem próximo ao córrego já relatam que os peixes estão morrendo.

"No quintal da minha casa, dava dó de ver os peixes. Eram grandes, fortes e todos mortos. E se a lama chegar até a minha terra, perco todo o meu trabalho", lamentou o produtor rural Geraldo de Oliveira.

Geraldo acompanhava o amigo Odilon Paraguai, que procurava notícia de uma prima de 36 anos que, segundo ele, estava no local na hora do acidente.

"A família inteira está mobilizada, cada um em um ponto de resgate. Montamos um ponto de apoio na casa da mãe dela. O filho dela ainda não sabe. No domingo, é aniversário dele de 11 anos", disse Paraguai.

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Ao fim do dia, as pessoas começavam a deixar os pontos de resgate com o encerramento das buscas, mas com a certeza de que a tragédia mudará drasticamente a rotina da cidade e a vida de todos eles. Nos próximos dias, a mobilização será toda em torno de confirmar mortes e buscar pelos desaparecidos.

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