Publicado em 25 de maio de 2020 às 11:21
Após a divulgação do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, parlamentares da oposição veem crimes cometidos pelo presidente Jair Bolsonaro, apontam que sua versão sobre a interferência na Polícia Federal está comprometida e pressionam pela abertura de uma CPI no Congresso para investigar o caso.>
A avaliação geral de líderes opositores é a de que elementos da gravação reforçam a denúncia do ex-ministro Sergio Moro de que Bolsonaro cobrou a troca do ex-diretor-geral da PF Maurício Valeixo.>
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) vê não só no vídeo, mas também na entrevista dada pelo presidente após a divulgação do material, na frente do Palácio da Alvorada, bases para que Bolsonaro seja investigado em CPI.>
Segundo ele, ao falar sobre um sistema de informações particular na reunião ministerial, Bolsonaro indica receber dados sobre investigações envolvendo sua família.>
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"Ele não sabe qual o papel da PF e da Presidência, desconhece os limites institucionais", critica o senador.>
"O que eu tenho defendido é que o Congresso acompanhe, investigue e apure os fatos por meio de uma CPI, e não somente se atendo ao debate do impeachment.">
A mudança de estratégia faz sentido em um momento em que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), já tem pelo menos 36 pedidos no colo para analisar, mas dá pouco sinal de que pretenda efetivamente abrir um processo.>
A argumentação oficial de Maia é que a prioridade do Congresso no momento tem que ser o combate à pandemia do novo coronavírus.>
Nos bastidores, no entanto, a avaliação é a de que não haveria o apoio mínimos de 342 deputados para levar o processo adiante, em especial após o centrão - bloco formado por PP, PL, Republicanos e outras siglas - ter migrado para a base do governo, em troca de cargos.>
Deputados já coletam assinaturas para abrir uma CPI. São necessárias ao menos 171.>
Valeixo foi exonerado no dia 24 de abril. Na manhã do dia anterior, Moro se reuniu com Bolsonaro, quando foi comunicado da saída do diretor-geral escolhido por ele. O ex-juiz então pediu demissão, conforme a Folha de S.Paulo revelou.>
Na troca de acusações que se seguiu à saída de Moro, o ex-ministro afirmou que o vídeo da reunião ministerial continha declarações que provavam que Bolsonaro havia tentado intervir na PF.>
Em sua defesa, o presidente argumentava que as críticas feitas no encontro se referiam à sua proteção pessoal, e não à PF. Ele, no entanto, promoveu um general responsável por sua segurança pessoal e de sua família.>
O vídeo divulgado na sexta-feira (22), pelo ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, levanta ainda mais dúvidas sobre a versão do presidente. Nele, Bolsonaro se queixa da falta de dados dos órgãos de inteligência e de uma suposta perseguição a irmãos.>
"Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro, oficialmente, e não consegui. E isso acabou", afirmou.>
O vídeo mostra o presidente olhando na direção em que estava sentado Moro na hora em que, exaltado, fala que não hesitaria em trocar subordinados e até um ministro.>
Para a oposição, as declarações e a linguagem corporal do presidente reforçam a necessidade de uma investigação no Congresso sobre a tentativa de interferência na PF.>
A deputada Fernanda Melchionna (RS), líder do PSOL na Câmara, afirma que o "show de horrores", como define o encontro, comprova as denúncias do ex-ministro.>
"Vários crimes foram cometidos, mas o que fica evidente é que, ao falar de proteção de filhos e de amigos, ao olhar para Moro, o presidente estava se referindo à Polícia Federal, e não ao GSI [Gabinete de Segurança Institucional, que cuida da segurança presidencial].">
A esse fato, disse, se somam as mensagens entre Bolsonaro e Moro horas antes da reunião de 22 de abril, nas quais o presidente havia cobrado a troca de chefia na PF.>
Alessandro Molon (RJ), líder do PSB na Câmara, vê chances de o impeachment avançar, assim que Maia "perceber que tem apoio" da sociedade.>
"Os pedidos refletem o anseio da população brasileira, que cresce a cada pesquisa de opinião. É um processo que vai se acumulando", afirmou.>
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