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'Onda azul' é vista no litoral de SP; entenda fenômeno da bioluminescência

'Onda azul' é vista no litoral de SP; entenda fenômeno da bioluminescência

Crescimento explosivo de microrganismos capazes de produzir luz chamou a atenção de banhistas e moradores da praia de Itamambuca

Publicado em 10 de março de 2025 às 06:37

Na noite da última sexta-feira (7), turistas e moradores da vila de Itamambuca, em Ubatuba, praia no litoral norte de São Paulo, presenciaram um fenômeno encantador na natureza: a formação de ondas luminosas no mar.

As imagens captadas por Leonardo Dantas, responsável pela conta no Instagram Vida Caiçara, mostram ondas de um azul brilhante quebrando na areia.

Registro de fenômeno de bioluminescência gerou 'mar azul' na última sexta-feira (7) na praia de Itamambuca, em Ubatuba (SP)
Registro de fenômeno de bioluminescência gerou 'mar azul' na última sexta-feira (7) na praia de Itamambuca, em Ubatuba (SP) Crédito: @vidacaicara.uba

O fenômeno, conhecido como bioluminescência, tem origem em organismos dinoflagelados do gênero Noctiluca, explica Áurea Maria Ciotti, coordenadora do Laboratório Aquarela do Cebimar (Centro de Estudos de Biologia Marinha) da USP e atualmente vice-diretora do centro.

Estes seres flutuantes fazem parte do plâncton marinho e possuem a substância luciferina, a mesma encontrada em alguns peixes e outros animais com bioluminescência, como o vaga-lume.

"Na zona de arrebentação das praias, quando observamos bioluminescência, ela está geralmente associada à presença de uma grande quantidade de organismos microscópicos do tipo Noctiluca. Esse acúmulo é resultado de um crescimento acelerado dos organismos e pela disponibilidade de alimentos", afirma.

A ação da enzima luciferase sobre o composto da luciferina, na presença de oxigênio, provoca a luminescência. A cor da luz emitida varia conforme os organismos, porque eles possuem tipos diferentes de luciferina, explica a bióloga, e a luminosidade tem a função de sinalização, tanto para atrair (por exemplo, parceiros sexuais, no caso dos vaga-lumes) quanto para afugentar.

"Acredito que a surpresa seja pela própria bioluminescência e pelo atrativo da observação do mar durante a noite", reflete a professora.

Por ser um organismo unicelular, a Noctiluca pode apresentar episódios de crescimento explosivo —conhecidos como floração—, muitas vezes influenciados pelo aumento da temperatura da água ou pelo acúmulo de nutrientes e de outros microrganismos, como as diatomáceas (microalgas).

No entanto, a sua ocorrência não é incomum e ocorre em toda a costa brasileira.

"A Noctiluca não é uma microalga, ela não é capaz de fazer fotossíntese, mas se alimenta de microalgas. Assim, se existem muitas microalgas, em função de haver mais nutrientes, elas podem crescer rapidamente [em qualquer praia]", explica Ciotti.

Em geral, a movimentação, seja pela passagem de um barco, ou pelo quebrar de ondas, pode desencadear a produção de luz.

"Uma forma de estimular a bioluminescência dos dinoflagelados é agitar a água, então ondas, movimentos de embarcações, ou até mesmo a natação podem promover rastros iluminados. A luz produzida é relativamente fraca, então só percebemos seu efeito nas praias durante a noite", diz.

Embora esse microrganismo em particular seja inofensivo aos seres humanos, o contato com a água na presença da bioluminescência deve ser evitado, uma vez que a sua ocorrência pode indicar a presença de outros dinoflagelados, incluindo algumas espécies que podem provocar diarreia e outros sintomas.

"O plâncton é uma comunidade muito diversa. Se existem condições para acúmulo de microrganismos que alteram a cor da água ou promovem bioluminescência, enquanto não houver uma análise da água para sabermos os demais organismos presentes, o recomendável é não entrar na água", diz.

Diversos estudos já associaram a presença de dinoflagelados na água com a poluição, principalmente em fenômenos conhecidos como "maré vermelha", onde o acúmulo de nutrientes oriundos do esgoto não tratado podem influenciar seu crescimento.

No caso do litoral norte paulista, a pesquisadora reforça ser uma área de risco devido ao aumento populacional recente, por conta da temporada de férias, e pelas temperaturas em ascensão.

"Além disso, a nossa costa recebe águas com muitos nutrientes em um processo conhecido como ressurgência costeira, que faz com que existam condições bem favoráveis de microalgas."

Segundo a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), a praia de Itamambuca está própria para banho, conforme boletim divulgado no último dia 4. Uma nova avaliação de balneabilidade será divulgada na quinta-feira (13).

Na visão do órgão, a ocorrência de Noctiluca não é tóxica e não traz risco aos banhistas.

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