Publicado em 15 de junho de 2025 às 13:41
SÃO PAULO - Morreu, na noite de sábado (14), o músico e compositor Bira Presidente, aos 88 anos. A informação foi confirmada pelo Grêmio Recreativo Cacique de Ramos, que, em nota nas redes sociais, lamentou a morte do fundador 'em decorrência de complicações relacionadas ao câncer de próstata e ao Alzheimer'.">
Um nome que não deve ser lembrado apenas como integrante de um dos principais grupos de samba do país, o Fundo de Quintal, nem tampouco como liderança do emblemático bloco Cacique de Ramos. Ubirajara Félix do Nascimento, seu nome de batismo, foi, principalmente, uma das maiores referências do pandeiro na história da música.>
A história de Bira no samba começa para valer quando ele e os irmãos Ubirany e Ubiraci fundam juntos com outros moradores da zona norte do Rio de Janeiro, em 20 de janeiro de 1961, o bloco Cacique de Ramos.>
O primeiro presidente da agremiação foi indicado por ele e tratava-se de um amigo, o Valdir. Mas ele ficou apenas seis meses no cargo, sendo eleito então o Bira. Em pouco tempo, ganhou o título de Bira Presidente, permanecendo na função de forma vitalícia.>
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O Grêmio Recreativo Cacique de Ramos passou a desfilar no centro da cidade e cresceu tanto que gravou vários discos nos anos 1960 e 1970. Mas foi em 1972 que tudo mudou na história do Cacique, de Bira, do samba e da própria música brasileira.>
Ao ganhar um terreno com tamarineiras e mangueiras da prefeitura, na rua Uranos, em Ramos, o bloco passou a ter sede própria, e três anos depois criaria as rodas de samba de quarta-feira, que apresentaria ao país uma geração de sambistas supertalentosos.>
Beth Carvalho, que ficou encantada com a roda de samba, queria levar aquele ambiente para o seu novo disco, "De Pé no Chão", lançado em 1978. A batucada que fascinava a cantora executada por Sereno no tantã, o irmão de Bira, Ubirany, no repique de mão, e o próprio Bira, no pandeiro, era ainda amadora, mas foi ajudada no estúdio com petiscos e bebidas para recriar o clima do Cacique.>
Foi desse reconhecimento no disco da Beth que se formou profissionalmente o grupo Fundo de Quintal, com os seguintes integrantes – Bira Presidente (pandeiro), Ubirany (repique de mão), Sereno (tantã), Neoci (tantã), Jorge Aragão (violão), Almir Guineto (banjo) e Sombrinha (violão). O primeiro disco do grupo saiu em 1980, "Samba É no Fundo de Quintal".>
Foi após a profissionalização na carreira que Bira Presidente largou o emprego de servidor público para se dedicar exclusivamente à música.>
O Fundo de Quintal ganhou projeção rapidamente, lançou mais de 30 discos e ganhou diversos prêmios, como o Grammy Latino 2015, mas também foi marcado por mudanças de seus membros ao longo de mais de 45 anos de história. Bira e Sereno foram os únicos que permaneceram da formação original. O irmão Ubirany também se manteve no Fundo de Quintal até morrer de Covid-19 em 2020.>
Bira Presidente inovou a forma de tocar pandeiro de nylon no Fundo de Quintal, antes visto como instrumento de mero acompanhamento ou como um elemento performático do samba. O sambista estabeleceu diálogo do pandeiro com outros instrumentos do samba de forma mais harmoniosa, criando a chamada levada de samba do Cacique.>
A técnica teria mudado quando o grupo passou a contar com baterista, em meados dos anos 1980, atendendo uma demanda da indústria. Por conta disso, Bira passou a executar o pandeiro de forma mais sincopada, preenchendo a música com seu toque pessoal.>
Essa característica chamou a atenção e o fez acompanhar o primeiro time da música brasileira, de Emílio Santiago a Zeca Pagodinho, e também alguns grupos de pagode, seja em shows ou gravações de estúdio.>
Bira Presidente compôs poucas músicas. O Fundo de Quintal gravou "Andei, Andei" (1987), dele com Noca da Portela e Roberto Serrão, e Beth Carvalho registrou "Vem Sambar" (1996), dele com Adilson Gavião e Roberto Lopes.>
Era vaidoso e andava sempre alinhado, com roupas bem cortadas e sapato. No Rio, com status de presidente de uma das mais tradicionais agremiações carnavalescas da cidade e integrante do Fundo de Quintal, circulava entre os eventos das escolas de samba e na quadra do Cacique de Ramos como uma celebridade da música.>
Em 2019, ele havia se afastado do Fundo de Quintal para tratar de artrite nas mãos. No ano passado, se tornou público que Bira Presidente tinha Alzheimer, e estava morando com a filha Cristhian Kelly, diretora-geral do Cacique de Ramos agremiação. Karla Marcelly é a outra filha do pandeirista do casamento com Alice, já morta, e ocupa o cargo de vice-presidente da agremiação.>
A morte de Bira Presidente causou comoção no mundo do samba. >
"Bira construiu uma trajetória marcada pela firmeza, pela ética e pela contribuição inestimável ao samba e à cultura popular brasileira", disse o comunicado da sua morte, confirmada oficialmente por ambas as organizações. "Sua atuação no Cacique de Ramos moldou o bloco e o samba. No Fundo de Quintal, foi o ponto de partida de uma linguagem que redefiniu a roda de samba e inspirou gerações.">
A notícia desencadeou uma série de homenagens ao sambistas nas redes sociais, publicadas por colegas sambistas, políticos, artistas em geral e, é claro, o público.>
"Foi com imensa tristeza que recebi a notícia de que Ubirajara Félix do Nascimento, o Bira Presidente, fez sua passagem", publicou Leci Brandão. "Bira deixa um legado gigantesco para a música popular brasileira. O Samba está de luto.">
"Obrigado mestre, descanse em paz. Obrigado por tudo que você fez pela música brasileira", escreveu o rapper Marcelo D2.>
"Descanse em paz nosso Presida amado! Eterno Bira! Obrigado por tanto", disse o cantor Belo.>
Fluminense e presidente da Embratur, Marcelo Freiro também prestou suas condolências. "Perdemos hoje Bira Presidente, a pessoa que, com toda a elegância e jeito inconfundível de tocar seu pandeiro, fundou e comandou o Cacique de Ramos e o Fundo de Quintal. Valeu, Bira", disse ele.>
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