Publicado em 6 de junho de 2020 às 13:36
Após dois dias seguidos com recorde de mortes e divulgação tardia dos números, o governo do presidente Jair Bolsonaro justificou a mudança na metodologia de divulgação sobre vítimas da Covid-19 - que pode significar, na prática, a divulgação de números de mortes menores.>
Em uma nota postada por Bolsonaro nas redes sociais, o Ministério da Saúde afirma que o formato usado desde o início da pandemia não oferece uma representação do "momento do país".>
Questionado sobre a mudança da metodologia na manhã deste sábado (6), durante uma visita que fez a Formosa (GO), Bolsonaro não quis responder.>
O novo modelo já começou a ser usado no boletim da noite desta sexta-feira (5), quando foi divulgado que o país registrou 1.005 óbitos nas últimas 24 horas. O boletim do Ministério da Saúde não informou o total de mortes e nem o total de casos confirmados de Covid-19 desde o início da pandemia.>
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A pasta também deixou de divulgar o total de casos em investigação para a doença, que até quinta-feira (4) era de 4.159. O portal do Ministério da Saúde com as informações consolidadas saiu do ar.>
As mudanças acontecem depois do país registrar dois dias seguidos com recorde de mortes em um intervalo de 24 horas. Na quarta-feira, foram 1.349 óbitos.>
No dia seguinte, quando o Brasil teve um novo recorde de mortes (1.473), atingindo a marca de um morto por minuto em decorrência da Covid-19.>
A nota do Ministério da Saúde indica que a pasta vai passar a divulgar apenas os números de mortes e casos de infecção pelo coronavírus registrados nas últimas 24 horas, o que resultaria em números muito inferiores aos atuais.>
Desde o início da pandemia, o Ministério vem divulgando com destaque os números de mortes e casos que foram confirmados para a Covid-19 nas últimas 24 horas, incluindo casos de mortes ocorridas em outras datas, mas cuja confirmação para o coronavírus tenha ocorrido no último dia.>
O modelo que será abandonado também é usado na divulgação dos dados por praticamente todos os países do mundo.>
O texto da nota argumenta que a divulgação dos dados de 24 horas permite acompanhar a realidade do país neste momento e definir as melhores estratégias para o atendimento da população.>
"A curva de casos mostra as situações como os cenários mais críticos, as reversões de quadros e a necessidade de preparação", informou o texto, que em seguida critica o modelo anterior de divulgação dos dados.>
"Ao acumular dados, além de não indicar que a maior parcela já não está com a doença, não retratam o momento do país. Outras ações estão em curso para melhorar a notificação dos casos e confirmação diagnóstica", afirma o texto da nota.>
O Ministério também defendeu a divulgação dos dados tarde da noite, após as 22h. Na nota postada por Bolsonaro, a pasta argumenta que havia o risco de subnotificação quando os boletins do coronavírus eram tornados públicos às 17h (durante a gestão do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta) e às 19h (gestão de Nelson Teich).>
Na primeira vez em que houve atraso na divulgação dos dados, na quarta-feira (3), o Ministério da Saúde havia informado que excepcionalmente os números seriam informados às 22h, devido a "problemas técnicos". Naquele dia, o país registrou um recorde de 1.349 mortes em 24 horas.>
No dia seguinte, quando o Brasil teve um novo recorde de mortes (1.473), atingindo a marca de um morto por minuto em decorrência da Covid-19, a pasta novamente divulgou o boletim após às 22h.>
O horário de divulgação, portanto, se dá após a conclusão dos principais jornais diários e também após a transmissão dos telejornais do período da noite.>
Ao comentar a questão, na sexta-feira (5), o presidente não confirmou ter dado a ordem para a mudança de horário e alegou que os números sairiam mais "consolidados" às 22h. Por outro lado, comentou que "acabou matéria no Jornal Nacional", em referência ao telejornal da Rede Globo.>
"Não interessa de quem partiu [a ordem para modificar o horário], é justo sair às 22h, é o dado completamente consolidado. Muito pelo contrário, não tem que correr para atender a Globo", disse.>
A nota postada por Bolsonaro também afirma que está havendo adequamento de rotinas e fluxos para melhorar extrair os dados diários, o que necessitaria, afirma o texto, aguardar os relatórios vindos das secretarias de saúde dos estados e chegarem os dados.>
"Para evitar subnotificação e inconsistências, o Ministério da Saúde optou pela divulgação às 22h, o que permite passar por esse processo completo. A divulgação entre 17h e 19h, ainda havia risco de subnotificação", afirma o texto.>
A mudança no horário de divulgação não foi a única mudança registrada após as sucessivas trocas de ministros da Saúde. Após a saída de Luiz Henrique Mandetta, por exemplo, as entrevistas coletivas para explicar os números e apresentar as medidas de combate à pandemia deixaram de serem diárias.>
O fluxo de entrevistas diminuiu ainda mais após a saída de Nelson Teich, que permaneceu menos de um mês no cargo. Teich deixou a pasta por divergência com o presidente a respeito do protocolo para a administração da cloroquina e hidroxicloroquina para pacientes que não estejam em estágio grave da Covid.>
Com o atual ministro interino, o general Eduardo Pazuello, as entrevistas coletivas passaram a contar apenas com técnicos da pasta de segundo escalão, como secretários substitutos. O formato também mudou. Os presentes deixaram de responder questões sobre a previsão de pico da pandemia no Brasil.>
O secretário substituto de vigilância em saúde, Eduardo Macário, também já havia criticado as perguntas sobre o atual estágio da pandemia no Brasil e criticou a imprensa por usar as expressões "recorde de mortes".>
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