O vídeo no qual um segurança do Shopping da Bahia, em Salvador, impede um jovem de pagar um almoço para uma criança viralizou na segunda-feira (11) nas redes sociais. E, além do preconceito social expresso na atitude, especialistas ouvidos pelo GLOBO apontam que a postura do funcionário do shopping é um exemplo de racismo.
Na segunda, Kaique Sofredine discutiu com um segurança que tentou proibir um restaurante de vender a refeição que o jovem pagaria a um menino negro. No vídeo, gravado por uma pessoa que estava no local, o funcionário chega a pegar a criança pelo braço.
Na opinião do advogado Humberto Adaime, presidente licenciado da Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), trata-se também de um caso de filtragem racial, ou seja, quando uma pessoa é vista como suspeita apenas por causa da cor de sua pele.
"É um claro e evidente racismo pessoal e institucional. O agente do shopping não chamou a criança de "criolo" ou "neguinho", mas está claro que por ele ser um menino pobre, negro, e solto no shopping sofreu esse preconceito. O Shopping precisa de um reajustamento de conduta. Aliás, não só esse, mas muitos outros centros comerciais no Brasil. Esses lugares acabam sendo espaços onde a população negra de baixa renda não pode ficar circulando. Essa orientação não está só naquele segurança, é uma orientação coletiva", analisa Adaime.
Ainda que a Bahia seja um estado com maioria da população negra, a socióloga Edmeire Exaltação, coordenadora da Casa das Pretas, diz que isso não faz com que episódios racistas não sejam uma realidade.
"A Bahia é um dos estados com maior número de negros no Brasil, mas onde há casos de racismo frequentemente. Isso acontece por conta da existência de uma elite branca que não aceita a população negra, e em decorrência da segregação que existe nas cidades. Na nossa sociedade, os negros comumente estão em um lugar e os brancos em outro, isso faz com que haja estranhamento e reação quando diferentes classes sociais e etnias se encontram. Vivemos em um Estado fundamentalmente racista", diz.
Edmeire destaca ainda que, nesse contexto, é fundamental a atuação dos movimentos sociais para reduzir a ocorrência de casos de racismo.
"O movimento negro tem um papel importante de chamar atenção das empresas para que elas procurem assumir o compromisso de oferecer treinamento aos seus funcionários".
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