Publicado em 27 de setembro de 2023 às 19:32
Na 12ª sessão de análise de tese do marco temporal, o Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu o julgamento e fixou um entendimento, com previsão de pagamento de indenização prévia a proprietários de terrenos em locais ocupados tradicionalmente por indígenas.>
Por 9 votos a 2, o Supremo já havia decidido, na última quinta-feira (21), que a tese era inconstitucional.>
Nesta quarta (27), os ministros definiram que, caso não haja ocupação tradicional indígena ou renitente esbulho (usurpação da posse) na data da promulgação da Constituição, em 1988, há "particular direito a justa e prévia indenização das benfeitorias necessárias e úteis pela União.">
Além disso, nesses casos, quando é inviável o reassentamento dos particulares, "caberá a eles a indenização com direito de regresso em face do ente federativo que titulou a área, correspondente ao valor da terra nua paga em dinheiro e títulos da dívida agrária, se for de interesse do beneficiário.">
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A possibilidade de indenização havia sido apresentada durante o voto do ministro Alexandre de Moraes em 7 de junho. Ele votou contra o marco, ou seja, foi contrário à tese que determinava que a demarcação dos territórios indígenas deve respeitar a área ocupada pelos povos até a promulgação da Constituição Federal, em outubro de 1988.>
O ministro, no entanto, levantou a possibilidade de indenização, afirmando que seu voto é para que não haja "nem oito, nem oitenta" em relação à disputa do marco temporal e para garantir "posse às comunidades tradicionais sem renegar totalmente às pessoas de boa-fé o ato jurídico perfeito.">
Assim como Moraes, Dias Toffoli votou para que, caso não haja ocupação tradicional indígena ou esbulho na data da promulgação da Constituição, deve haver indenização prévia pela União a proprietários particulares e colocou como critério a inviabilidade de reassentamento. >
A decisão terá repercussão geral, ou seja, valerá para casos semelhantes nas instâncias inferiores do Judiciário.>
A votação do Supremo já gerou reações do Congresso. Nesta quarta-feira, a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado aprovou o projeto de lei a favor do marco temporal.>
O projeto foi aprovado pela Câmara dos Deputados em maio com apoio da bancada ruralista e do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), como parte da ofensiva do Congresso contra o STF.>
Nesta quarta, a proposta foi aprovada pela CCJ por 16 votos a 10. O projeto de lei ainda precisa ser aprovado pelo plenário do Senado e sancionado pelo presidente Lula (PT).>
ENTENDA O JULGAMENTO DO MARCO TEMPORAL >
A tese do marco temporal apareceu inicialmente no julgamento da terra Raposa-Serra do Sol (Roraima), encerrado em 2009. De acordo com ela, os povos indígenas só teriam direito a territórios que estivessem ocupando na data em que a Constituição foi promulgada.>
Em 2013, ao esclarecer a decisão de 2009, o STF afirmou que o marco temporal tinha sido utilizado de maneira pontual para a Raposa-Serra do Sol. O julgamento encerrado agora, que analisava disputa em torno da terra onde está o povo xokleng em Santa Catarina, rejeitou o uso da tese.>
Foi o desfecho de uma controvérsia em torno da interpretação de artigo da Constituição que assegura aos povos indígenas os direitos sobre as terras que tradicionalmente ocupam. O resultado foi comemorado por lideranças indígenas e entidades e é uma derrota para ruralistas.>
O julgamento começou em 2021 e foi retomado em diferentes sessões desde junho deste ano. Na última quinta, votaram os ministros Luiz Fux, Cármen Lúcia, Gilmar Mendes e a presidente da corte, Rosa Weber. Eles acompanharam o relator do caso, Edson Fachin, contra a tese, assim como haviam feito Dias Toffoli, Luís Roberto Barroso, Cristiano Zanin e Alexandre de Moraes.>
Kassio Nunes Marques e André Mendonça foram os únicos ministros que votaram a favor do marco.>
O marco é criticado por advogados especializados em direitos dos povos indígenas, pois segundo eles validaria invasões e violências cometidas contra indígenas antes da Constituição. Já ruralistas defendem que tal determinação serviria para resolver disputas por terra e dar segurança jurídica e econômica.>
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