Publicado em 27 de setembro de 2023 às 08:59
O mundo pode ver um aumento de 31% nos casos de câncer em pacientes com menos de 50 anos até 2030, segundo dados apresentados por Nina Melo, coordenadora do Observatório de Oncologia, no 10º Congresso Todos Juntos Contra o Câncer, realizado nesta terça-feira (26), em São Paulo.>
Na mesa, moderada pelo jornalista César Cavalcanti, especialistas se reuniram para debater o aumento da incidência da doença sobre essa fatia da população, que não é considerada grupo de risco.>
Apesar de a enfermidade estar ligada ao envelhecimento, dados das últimas pesquisas apontam uma mudança no perfil dos pacientes.>
Em um estudo de 2016 promovido pelo próprio Observatório de Oncologia utilizando dados do Registro de Câncer de Base Populacional e do Atlas Online de Mortalidade, ambos do Inca (Instituto Nacional de Câncer), foi verificado um crescimento geral no número de pessoas com menos de 50 anos acometidos por tumores diferentes.>
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São expressivos, nessa faixa etária, os aumentos de casos de câncer de mama, do colo do útero, de tireoide e de próstata, que é prevenível e vem caindo entre os mais velhos.>
Os resultados levantados pelo Observatório de Oncologia estão em consonância com uma tendência observada mundialmente. Estudos científicos recentes mostram que houve um aumento de mais de 80% dos casos entre pacientes com menos de 50 anos nas últimas três décadas.>
Laura Cury, coordenadora do Projeto Álcool, da ONG ACT Promoção da Saúde, afirma que a expansão dos casos entre a população adulta é consequência da maior exposição da sociedade aos cinco principais fatores de risco da doença.>
São eles o tabagismo, a má alimentação, o uso de bebidas alcoólicas, a obesidade e exposição à poluição todos modificáveis, diz ela.>
"O controle do tabagismo é o caso de sucesso no qual a gente deve se inspirar para reduzir a prevalência de outros fatores de risco", afirma a especialista, ressaltando a existência de diversas políticas públicas, algumas até mesmo endossadas por entidades como a OMS (Organização Mundial da Saúde) e o Banco Mundial.>
Um dos exemplos citados é o da tributação. Usada no caso do tabaco, é considerada medida fundamental como política pública custo-efetiva.>
"Temos agora uma oportunidade imensa no contexto da reforma tributária para discutir essas questões. Existem formas de conseguir vincular recursos arrecadados com a tributação para política de prevenção e promoção da saúde", diz. A especialista ainda defende a tributação seletiva de produtos considerados danosos à saúde, caso dos alimentos ultraprocessados.>
Melo diz que existem conflitos de interesse que desafiam esse processo e chama a atenção para o veto de artigos relacionados à regulamentação e propaganda desses produtos no documento original da Política Nacional de Controle do Câncer, levado para apreciação do Congresso Nacional.>
Gustavo Fernandes, médico representante da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, acrescenta que uma alternativa possível é promover políticas de desoneração de alimentos saudáveis. O oncologista também ressalta a importância dos programas desenvolvidos nas escolas brasileiras.>
"A escola pública é uma unidade de atenção social também. A criança come, é educada, recebe abrigo contra a violência", diz. A exemplo de medidas adotadas no governo de Barack Obama, nos Estados Unidos, ele sugere a promoção de alimentação saudável, estímulo à atividade física, orientações sobre tabaco, álcool e comportamento sexual.>
Também destaca a importância de campanhas de vacinação, capazes de proteger os mais jovens de vírus como o HPV e o da hepatite B, que podem provocar, respectivamente, câncer do colo do útero e do fígado.>
Por outro lado, Fernandes diz que não existem evidências suficientes que justifiquem a ampliação de políticas de rastreio para essa parcela da população.>
Paulo Hoff, presidente da Oncologia DOr, segue na mesma linha. O especialista afirma que não é uma questão de custo, mas, sim, dos riscos de possíveis intervenções em pacientes mais novos.>
Nos casos do câncer de mama, a idade para promover o rastreio caiu de 50 para 40 anos. Já nos de intestino, passou para 45 anos. "Lembrando que isso se aplica a pessoas com risco normal. Quem tem histórico familiar deve começar a fazer o rastreamento mais jovem", acrescenta Hoff.>
Apesar dos desafios, os especialistas reunidos veem motivos para otimismo no futuro.>
"Sempre que falo do câncer no adulto jovem, acho extremamente desafiador. Acho que talvez seja a idade na qual qualquer doença grave seja mais dramática. São os casos que mais me fazem pensar, sofrer e sentir", afirma Fernandes.>
"Do ponto de vista do futuro, minha natureza é otimista. É lógico que podia melhorar mais, mas as coisas estão evoluindo".>
O 10º Congresso Todos Juntos Contra o Câncer acontece nos dias 26, 27 e 28 de setembro, em São Paulo, nas modalidades online e presencial. Serão, ao todo, cerca de 200 palestrantes, entre docentes, pacientes e autoridades.>
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