Publicado em 13 de junho de 2020 às 16:55
O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, disse neste sábado (13) à Folha de S.Paulo que as Forças Armadas "se mantêm firmemente disciplinadas" e que seu papel tem sido tratado de forma "preconceituosa" no noticiário. >
"Não existem militares fardados dando declarações políticas e participando de manifestações, ou seja, as Forças Armadas se mantêm firmemente disciplinadas", disse Mourão, que é general da reserva do Exército.>
Mourão respondeu por escrito a um questionamento da reportagem sobre o conteúdo de nota oficial assinada por ele, pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo ministro da Defesa, Fernando Azevedo, na noite de sexta-feira (12), afirmando que as Forças Armadas "não cumprem ordens absurdas" e não aceitam tentativas de tomada de poder decorrentes de "julgamentos políticos".>
A Folha de S.Paulo perguntou a Mourão qual a mensagem eles queriam passar ao citar "julgamentos políticos".>
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"Nas últimas semanas, o tema do papel das Forças Armadas surgiu no noticiário, tratado de forma até certo ponto preconceituosa e com os olhos postos em um passado que não volta mais. As Forças Armadas estão quietas, cumprindo sua missão constitucional, e neste exato momento temos gente defendendo a integridade do território e do patrimônio nacional nas fronteiras isoladas e na Operação Verde Brasil 2", disse o vice-presidente.>
"Temos outros cooperando com a paz social, distribuindo água no Nordeste e participando ativamente do combate à pandemia; os demais estão empenhados na manutenção de sua capacidade operacional", ressaltou.>
"Não existem militares fardados dando declarações políticas e participando de manifestações, ou seja, as Forças Armadas se mantêm firmemente disciplinadas, fiéis a seu juramento sagrado de respeitar as autoridades e defender a honra, a integridade e as instituições com o sacrifício da própria vida", concluiu o vice-presidente.>
Em entrevista à revista Veja, o general Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria de Governo, descartou a possibilidade de uma intervenção militar, criticou as acusações de fascismo feitas à administração, mas alertou a oposição: não "estica a corda".>
O general afirmou que pedirá para ser transferido para a reserva do Exército, para que suas decisões como ministro não sejam associadas às Forças Armadas.>
A nota do Planalto foi divulgada na sexta (12) à noite, após decisão do ministro Luiz Fux (STF), que, por meio de liminar, delimitou a interpretação da Constituição e da lei sobre a atuação das Forças Armadas, fixando que elas não são um poder moderador.>
Bolsonaro diz que Fux, em sua decisão, "bem reconhece o papel e a história das Forças Armadas sempre ao lado da democracia e da liberdade". Mas manda recados ao Judiciário.>
"As FFAA [Forças Armadas do Brasil] não cumprem ordens absurdas, como p. ex. a tomada de poder. Também não aceitam tentativas de tomada de poder por outro Poder da República, ao arrepio das leis, ou por conta de julgamentos políticos", afirma.>
Ao citar "julgamentos políticos", Bolsonaro faz referência velada a processos em análise no Supremo Tribunal Federal e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).>
Nesta sexta (12), o ministro Og Fernandes, do TSE, pediu para o ministro Alexandre de Moraes informar se as provas colhidas no inquérito das fake news, que corre no STF, têm relação com as ações que pedem a cassação da chapa de Bolsonaro e Mourão por crimes eleitorais.>
Na nota divulgada, Bolsonaro afirma que as Forças Armadas "estão sob a autoridade suprema do presidente da República, de acordo com o artigo 142 da Constituição Federal". "As mesmas destinam-se à defesa da pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem", acrescenta.>
Nesta sexta, Fux delimitou, em decisão judicial, a interpretação da Constituição e da lei que disciplina as Forças Armadas para esclarecer que elas não permitem a intervenção do Exército sobre o Legislativo, o Judiciário ou o Executivo nem dão aos militares a atribuição de poder moderador.>
Em resposta a uma ação apresentada pelo PDT contra "eventual intervenção militar", o magistrado deu uma decisão liminar (provisória) para estabelecer que a prerrogativa do presidente da República de autorizar emprego das Forças Armadas não pode ser exercida contra os outros dois Poderes.>
"A chefia das Forças Armadas é poder limitado, excluindo-se qualquer interpretação que permita sua utilização para indevidas intromissões no independente funcionamento dos outros Poderes, relacionando-se a autoridade sobre as Forças Armadas às competências materiais atribuídas pela Constituição ao presidente da República", afirmou o ministro, que assumirá em setembro deste ano a presidência do STF.>
A decisão representa mais uma reação do STF a movimentos ligados ao presidente Jair Bolsonaro que pedem o fechamento da corte e do Congresso. Apoiadores do chefe do Executivo alegam que o artigo 142 da Constituição prevê a possibilidade de intervenção militar.>
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