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Exército liberou armas para mais de 5.000 condenados por crimes

Exército liberou armas para mais de 5.000 condenados por crimes

Relatório do TCU, que apontou falhas da Força na fiscalização do setor, inclui levantamento sobre antecedentes criminais de CACs

Publicado em 4 de março de 2024 às 18:57

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MARCELO ROCHA E RAQUEL LOPES

Os 5.200 condenados pela Justiça que conseguiram obter, renovar ou manter o registro de CAC (caçador, atirador e colecionador) junto ao Exército entre 2019 e 2022 respondiam principalmente a acusações por porte ou posse ilegal de armas, lesão corporal e tráfico de drogas.

Homem dispara arma em clube de tiro em São Paulo
Homem dispara arma em clube de tiro em São Paulo. (Carla Carniel/Reuters)

Levantamento com informações dos antecedentes criminais dos CACs consta de relatório produzido pelo TCU (Tribunal de Contas da União) sobre a atuação dos militares no controle de armas durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

De acordo com a auditoria, o Exército também liberou armas de fogo para 2.690 pessoas com mandados de prisão em aberto. A informação foi divulgada inicialmente pelo jornal O Estado de S. Paulo, e a reportagem também teve acesso ao documento.

Os técnicos da corte de contas concluíram que o Exército falhou em suas atribuições ao apontar "sérias fragilidades" na fase de comprovação da idoneidade de quem obteve ou renovou o registro de CAC.

Faltou também, segundo os auditores, "rotina regular de monitoramento periódico" para identificar irregularidades nos registros em vigor.

Para ter acesso a arma de fogo de uso permitido, o interessado deverá, segundo o Estatuto do Desarmamento (lei nº 10.826, de 2003), apresentar certidões negativas de antecedentes criminais e atestar não estar respondendo a inquérito policial ou a processo criminal, além de documento comprobatório de ocupação lícita, de residência certa e de filiação a entidade de tiro ou caça.

As fragilidades identificadas pelos técnicos do TCU seriam decorrentes, de acordo com o relatório, da própria legislação -por não prever, por exemplo, a periodicidade com que a comprovação de idoneidade deve ser feita- ou da "não utilização pelo Exército de todas as ferramentas disponíveis à Administração e da falta de atuação conjunta de diferentes órgãos e entes federativos".

"A concessão, a revalidação e o não cancelamento de CRs [certificados de registro] vinculados a pessoas que não atendem aos critérios de idoneidade possibilita o acesso delas a armas de fogo e munições, representando um risco à segurança pública", disseram os auditores.

Por meio do Centro de Comunicação Social, o Exército afirmou que, após o relatório da auditoria do TCU, foram enviadas "considerações àquele Tribunal e vem adotando todas as medidas cabíveis para aperfeiçoar os processos de autorização e fiscalização dos CAC".

"Cabe ressaltar que ao tomar conhecimento de qualquer irregularidade, como perda de idoneidade ou falecimento, do CAC são adotadas, imediatamente, as providências necessárias, inclusive com a possível suspensão dos Certificado de Registro (CR)", afirmou a Força.

As acusações que levaram CACs aos bancos dos réus e à condenação somam 6.380 casos, com destaque para condutas previstas no Estatuto de Desarmamento.

Foram 2.115 registros (33,2% do total), incluindo "porte ilegal de arma de fogo de uso permitido", "posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito" ou "disparo de arma de fogo".

O crime de lesão corporal apareceu em segundo lugar no ranking, com 451 situações (7%), e o tráfico de drogas foi o terceiro tipo penal mais frequente, com 324 ocorrências (5%).

A listagem feita pelo TCU trouxe ainda os crimes de ameaça, com 267 registros (4,2%); de roubo, com 190 situações (3%), e de homicídio, com 180 casos (2,8%).

No levamento do tribunal foram cruzadas informações do Sigma (Sistema de Gerenciamento Militar de Armas de Fogo) com bases de dados da Justiça, como o Sistema Eletrônico de Execução Unificado e o Banco Nacional de Mandados de Prisão.

Em 2022, segundo mostra a Folha de S.Paulo, o Exército aprovou registro de CAC para um membro da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) a partir dos documentos apresentados por ele. Após esse processo, o suspeito teve autorização para comprar um fuzil.

Na ocasião, a Força disse, por meio de nota, que usou a autodeclaração de idoneidade e a certidão criminal do Tribunal de Justiça de Minas Gerais para a análise e que a responsabilidade pela documentação é do "interessado".

A equipe de auditoria do TCU destacou ainda no relatório a importância de se aprimorar os processos e os controles preventivos para que não seja demandado da administração pública "um esforço para localizar e apreender o acervo do indivíduo identificado inidôneo".

O controle prévio "mitiga esse esforço ao impedir que pessoas que não atendam aos critérios para comprovar sua idoneidade tenham acesso a novas armas", afirmaram.

No nota enviada à reportagem nesta segunda-feira, o Exército afirmou que pauta sua atuação dentro da legalidade e transparência sempre atendendo as solicitações de esclarecimentos, além respeitar todas as imposições de sigilo impostas por outros órgãos.

Toda a responsabilidade por CACs, clubes de tiro e lojas de armas está em processo de transferência do Exército à Polícia Federal, previsto para ser concluído em 1º de janeiro.

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) concluiu que houve falha dos militares em suas atribuições relacionadas e decidiu promover a migração.

Setor da PF que assumirá o serviço vê a atual estrutura da corporação como insuficiente para o volume de trabalho que surgirá com a atribuição de fiscalizar os CACs.

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