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Estado de SP foi de plano para reabertura a possível lockdown em um mês

Estado de SP foi de plano para reabertura a possível lockdown em um mês

A notícia da reabertura da economia tinha sido revelada dois dias antes e àquela altura a estratégia carecia de metas claras e de informações que explicassem como se daria o tal processo gradual, regionalizado e setorizado

Publicado em 22 de maio de 2020 às 17:30

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Banhistas na praia da Baleia, em São Sebastião, no litoral norte de São Paulo
Banhistas na praia da Baleia, em São Sebastião, no litoral norte de São Paulo. (Folhapress)

Há um mês, no dia 22 de abril, o governador de São Paulo João Doria (PSDB) apresentou, ao lado de sua equipe, um plano de afrouxamento da quarentena no estado em meio à pandemia de coronavírus.

A notícia da reabertura da economia tinha sido revelada dois dias antes e àquela altura a estratégia carecia de metas claras e de informações que explicassem como se daria o tal processo gradual, regionalizado e setorizado.

Aos poucos, os índices mínimos para o início do afrouxamento foram revelados, ao mesmo tempo que a realidade se afastava deles: taxa de isolamento superior a 55%, redução sustentada no número de novos casos por 14 dias e ocupação dos leitos de UTI inferior a 60% (como mostrou apresentação da equipe no dia inicialmente previsto para o começo da reabertura).

Quando o governo fez a apresentação para anunciar seu plano, o estado de São Paulo havia marcado 57% de taxa de isolamento, tinha tido 805 novos casos de coronavírus e apresentava 55,3% de ocupação dos leitos de UTI de tratamento da Covid-19.

Já em 20 de maio, 71,7% dos leitos de UTI estão ocupados; essa taxa não fica abaixo dos 60% desde o final de abril --antes, nunca havia ultrapassado essa marca, registrando maior alta de 58,2%. O número de novos casos disparou e o máximo de dias seguidos com diminuição de casos foi de quatro.

A média de novos registros por dia, que era de 481,4 no mês anterior ao anúncio, quase triplicou depois dele, subindo a 1.878,4.

A taxa de isolamento caiu quase 10 pontos percentuais já no dia da coletiva do governo e apenas em três ocasiões esteve acima do mínimo necessário estipulado pela equipe depois dela.

São Paulo não chegou perto de alcançar os índices para o afrouxamento da quarentena desde a divulgação do plano.

O mais próximo foi no dia 26 de abril, quando o estado registrou isolamento de 58%, UTIs com 58,9% de ocupação e diminuição no número de novos casos com relação ao dia imediatamente anterior --lembrando que era necessária uma redução sustentada por 14 dias, ou seja, que se registrasse uma curva constante e decrescente no índice, e não apenas a variação entre alguns dias.

Quando do anúncio, Doria afirmou à Folha que se tratava apenas de uma apresentação inicial e que no dia 8 de maio seriam revelados os detalhes do processo, previsto para começar no dia 11.

Na data em que seria feito o detalhamento o que se viu, na verdade, foi a prorrogação da quarentena.

Na quarta-feira (20), o governador chegou a ameaçar o "lockdown" se os indicadores piorarem e afirmou já ter o protocolo de trancamento pronto e embaixo do braço para usar em caso de necessidade.

São Pauo está em quarentena desde 24 de março. O estado é o principal polo da pandemia no país. Registrou, até esta quinta-feira (21), 73,7 mil casos confirmados e 5.558 mil óbitos.

Situação mais grave ainda vive a capital, epicentro do coronavírus no Brasil.

O anúncio de Doria produziu reflexo no isolamento tanto no estado quanto na capital, que teve taxa maior que 55% apenas em quatro ocasiões desde o dia 22 de abril.

Os novos casos só caíram por um máximo de quatro dias consecutivos no período e a ocupação dos leitos de terapia intensiva da Grande SP cresceu de 73,7% para 87,9% --chegou a alcançar 92,2% no dia 17 de maio e em nenhum momento ficou abaixo dos 60% necessários.

De 1º de abril até o dia em que foi feito o anúncio do afrouxamento da quarentena, a média de isolamento do estado de São Paulo foi de 53%, mas em quase metade dos dias houve índice superior ao necessário.

No mesmo período, em 14 de 22 ocasiões o número de novos casos do dia foi inferior ao do dia anterior, o que chegou a acontecer cinco vezes seguidas entre 1º e 5 do mês.

Todos os números são disponibilizados pelo Ministério da Saúde e pelo governo de São Paulo.

Segundo a professora Paula Peron, da psicologia da PUC-SP, é possível imaginar que o simples anúncio da reabertura possa ter afetado o comportamento da população, relaxando indiretamente a quarentena.

Isso acontece, explica, porque psicologicamente, em momentos de maior desamparo, tendemos a buscar direcionamento de líderes ou figuras públicas. Soma-se a isso o fato do isolamento ser desprazeroso à maioria, que busca formas de contorná-lo.

"Assim, quando há um aceno para a reabertura, queremos logo aderir a isso para nos livrarmos dessas restrições, perdas e limites. Também temos que considerar os aspectos econômicos, já que grande parte de nossa população não pode ficar sem o salário do mês, tem que sair para trabalhar e vive as aflições da crise econômica", afirma.

Tramita na Câmara dos Vereadores de São Paulo um projeto de lei que propõe a reabertura do comércio na cidade.

A proposta não estipula data para que o afrouxamento da quarentena comece, mas coloca parâmetros para que ele seja possível e determina que seja feito por setor da economia e região.

O texto, que ainda será debatido pelos vereadores e pode mudar, cria uma combinação entre índices de contágio (como número de novos casos) e de capacidade do sistema de saúde (ocupação de UTI, por exemplo) que resulta em um número.

Tal valor determina uma bandeira, a ser atribuída a cada subprefeitura da cidade. É esta bandeira (preta, vermelha, laranja ou amarela) que diz o que pode reabrir e quando.

Pela minuta inicial, comércio atacadista e varejo seriam os primeiros a ter autorização para funcionar, e shoppings e centros comerciais, os últimos. O projeto deve ser votado nas próximas duas semanas, segundo o presidente da casa Eduardo Tuma (PSDB), que é quem determina o andamento das pautas.

É importante ressaltar que, caso a lei seja aprovada e sancionada pelo prefeito Bruno Covas (PSDB), ela não permite que o processo de reabertura da economia comece imediatamente, mas sim na medida que forem atingidos os requisitos estipulados.

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