Publicado em 18 de maio de 2020 às 14:44
O ex-governador de São Paulo, empresário e dirigente esportivo Laudo Natel morreu na manhã desta segunda-feira (18), aos 99 anos. A causa da morte não foi divulgada. >
O São Paulo Futebol Clube, que foi dirigido por Natel, comunicou o falecimento nas redes sociais e disse lamentar a partida de seu patrono.>
"Nosso eterno agradecimento a uma das figuras mais importantes da história de nosso clube pelas décadas de amor incondicional às nossas cores", afirmou. O clube decretou luto de três dias.>
Laudo Natel (1920-2020) governou São Paulo em duas gestões na ditadura militar (1964-1985), mas sua influência política desapareceu com a ascensão de seu ex-secretário Paulo Maluf -que o derrotou na convenção da Arena que indicou o candidato do partido a governador, em 1978.>
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Sua carreira política começou tarde e foi impulsionada, em grande parte, por seus êxitos nos negócios. Filho de um administrador de fazendas, Natel nasceu em São Manuel (SP), em 14 de setembro de 1920.>
Quando seu pai morreu, em 1937, ele desistiu de tentar estudar direito e começou a trabalhar como funcionário do Banco Noroeste, em Pirajuí (SP). Lá conheceu sua mulher, Maria Zilda -com quem teria dois filhos, Ivan e Maurício.>
No Noroeste ele se tornou amigo de Amador Aguiar, gerente da agência de Lins (SP), com o qual trabalhou como subcontador. Quando o Bradesco foi fundado, em 1943, na cidade de Marília (SP), Amador foi convidado para dirigir o banco, e convenceu Natel a acompanhá-lo.>
Mudou-se para São Paulo em 1945, quando a sede do Bradesco foi transferida para a capital e no ano seguinte tornou-se sócio do São Paulo Futebol Clube.>
Natel estudou economia na USP e, em 1950, tornou-se um dos diretores do Bradesco. Dois anos depois, assumiu também o Departamento de Finanças do São Paulo.>
Convenceu a diretoria do clube a vender seu terreno no Canindé para quitar suas dívidas e iniciar a construção do estádio do Morumbi, com projeto do arquiteto Vilanova Artigas.>
Segundo Natel, o Morumbi (que custou cerca de US$ 70 milhões) foi integralmente pago por meio de campanhas, sorteios, venda de cadeiras cativas e de títulos patrimoniais. Mas o clube também recebeu recursos da Prefeitura de São Paulo (em 1956) e do governo estadual (de 1956 a 1958), que somaram US$ 3 milhões.>
Em 1958, Natel foi eleito presidente do clube. Passou também a assumir diversos cargos em organismos empresariais -como diretor da Associação Comercial de São Paulo e do Sindicato dos Bancos de São Paulo.>
Em 1961 foi convidado para ser candidato a vice-governador, no ano seguinte. Na época as eleições para governador e vice eram separadas. O governador Carvalho Pinto (PDC) lançou seu ex-secretário José Bonifácio Coutinho Nogueira. Como candidato a vice, a coligação lançou Natel.>
A eleição ao governo se polarizou entre Jânio Quadros (PTN) e Adhemar de Barros (PSP), que venceu por pequena margem (1.249.414 votos a 1.125.941). Mas, para vice, Natel ganhou com 1.200.807 votos, contra 944.604 de Faria Lima (vice de Jânio) e 543.411 de Teotônio de Barros (vice de Adhemar).>
Após a posse, Natel se aproximou do governador -que apoiou abertamente a deposição do presidente João Goulart, em 1964. Em 1965, ainda como vice de Adhemar, Natel concorreu à Prefeitura de São Paulo pelo PR, mas perdeu para o janista Faria Lima: este teve 452.162 votos, contra 198.222 de Natel.>
Após vários desentendimentos com o governo federal, Adhemar teve seu mandato cassado em 5 de junho de 1966. O general Castello Branco permitiu a posse de Natel, com a condição de que este aceitasse os nomes indicados pelo Planalto para a Secretaria de Fazenda (Delfim Netto) e para o comando da Força Pública (João Baptista Figueiredo).>
Natel concordou e assumiu no dia 6 de junho. Ficou no cargo até 31 de janeiro de 1967. Nesse período, reuniu as 11 usinas hidrelétricas de São Paulo na Cesp (Companhia Energética de São Paulo) e melhorou as finanças estaduais.>
Findo seu mandato, Natel se preparou para disputar a próxima eleição para o cargo, intensificando suas idas ao interior. Mas as eleições para governador continuaram sendo feitas de forma indireta, e na prática a decisão cabia ao presidente.>
Em 1969, quando ainda presidia o São Paulo, ele convidou o general Costa e Silva para a inauguração do estádio do Morumbi, em 1970. Com a doença e morte do presidente, o general Emílio Médici assumiu o cargo.>
Laudo decidiu convidá-lo: "Eu fiquei até em dúvida se devia convidar o Médici, porque já tinha convidado o Costa. Depois eu raciocinei: não estou convidando propriamente a pessoa, estou convidando o presidente. Então ele veio".>
Segundo Natel, os assessores de Médici temiam que ele fosse vaiado: "O Morumbi estava lotado, e eu quis que ele entrasse comigo dentro do estádio. A segurança dele, o pessoal de assessoria temia que ele pudesse ser vaiado. Falei: 'Presidente, pode entrar tranquilamente porque eu não posso ser vaiado hoje, e o senhor vai entrar comigo'. Ele entrou e, para sua surpresa, foi uma ovação. Cento e dez mil pessoas de pé, aclamando".>
Na opinião de Natel, esse fato contribuiu para sua escolha como governador, em 1970: "Não sei se ele se impressionou também um pouco com isso, o fato é que um dia recebo um telefonema dele e dizia: 'Olha, eu tô lhe convidando pra ser governador de São Paulo e não quero que o senhor agradeça essa indicação porque eu cheguei ao seu nome, eu estou lhe convocando pra repartir comigo uma responsabilidade'. E assim me tornei governador".>
Na realidade, apesar de contar com a rejeição do governador Abreu Sodré, Natel tinha o apoio de dois antigos auxiliares, que estavam com Médici: Delfim, então ministro da Fazenda, e Figueiredo, que chefiava o Gabinete Militar.>
Natel deixou o cargo de diretor-gerente do Bradesco e assumiu o governo em 15 de março de 1971. Na sua segunda gestão, unificou a malha ferroviária paulista na Fepasa, criou a Sabesp, a Cetesb e a Unicamp, inaugurou as primeiras estações do Metrô de São Paulo e investiu na ampliação das rodovias -setor a cargo de seu então secretário de Transportes, Paulo Maluf.>
Tentou articular a prorrogação do mandato de Médici, mas fracassou. Com a posse de Ernesto Geisel na Presidência, em 1974, não teve nenhuma influência na escolha de novo governador -Paulo Egydio Martins.>
Em abril de 1978, porém, após a definição do general João Baptista Figueiredo como novo presidente, o presidente Ernesto Geisel permitiu que seu sucessor escolhesse o candidato do Planalto ao governo de São Paulo. Figueiredo indicou Natel. Contrariado, o governador Paulo Egydio não o apoiou.>
Confiante na indicação do Planalto, Natel praticamente não fez campanha: seus assessores logo recolheram um abaixo-assinado com o apoio de 876 convencionais.>
Enquanto isso, seu ex-secretário Paulo Maluf fez questão de visitar todos os delegados da Arena no Estado. Na convenção do partido, realizada em 4 de junho de 1978, Maluf derrotou Natel por 617 votos a 589.>
Natel recorreu à Justiça, alegando que Maluf era inelegível porque era acionista da Fiação e Tecelagem Lutfala, empresa que estava sob intervenção. Mas o recurso foi derrotado no Tribunal Superior Eleitoral por 4 votos a 2.>
Aliados de Natel acreditavam que Geisel poderia usar o AI-5, ainda em vigor, para cassar Maluf, mas o presidente nada fez -e Maluf foi eleito governador, indiretamente, em 1º de setembro de 1978.>
Em 1982, Natel ainda tentou ser indicado candidato a governador de São Paulo pelo PDS, mas foi derrotado na convenção do partido por Reynaldo de Barros, que tinha o apoio de Maluf.>
Depois disso, dedicou-se apenas a suas atividades no setor privado, como diretor da Companhia Sul-América de Seguros.>
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