> >
De 13 mortes de políticos no RJ, apenas três foram solucionadas

De 13 mortes de políticos no RJ, apenas três foram solucionadas

Ao todo, foram assassinados três vereadores, nove pré-candidatos e um assessor

Publicado em 27 de agosto de 2018 às 10:19

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Marielle Franco . (Reprodução/Instagram)

Entre 2015 e 2016, o Estado do Rio registrou uma série de assassinatos de vereadores e pré-candidatos na Baixada Fluminense. Foram 13 homicídios em nove meses. De lá para cá, somente três foram esclarecidos pela polícia. Assim como o caso da vereadora do PSOL Marielle Franco, assassinada há cinco meses, outros dez homicídios permanecem sem solução. Ao todo, foram mortos três vereadores, nove pré-candidatos e um assessor. O medo de testemunhas, que temem represálias e não confiam no programa de proteção do estado, é uma das principais dificuldades relatadas por investigadores.

A violência nas urnas preocupa as autoridades. O presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Rio, Carlos Eduardo da Fonseca Passos, já destacou que a ação de grupos criminosos será combatida inclusive com cassação de registros eleitorais. Também foi criada uma coalizão envolvendo a intervenção federal no Rio para coibir os crimes.

A execução da pré-candidata a vereadora Aga Pinheiro Lopes, à época filiada ao DEM, no dia 12 de julho de 2016, foi um dos casos solucionados pela Polícia Civil e revela o poder de quadrilhas, mesmo em cidades mais distantes da Região Metropolitana.

De acordo com as investigações, a vítima foi assassinada a tiros por traficantes em um bar na localidade da Barbuda, em Magé, a 60 quilômetros do Centro do Rio. Aga, que era presidente da associação de moradores do bairro, combatia o tráfico de drogas local e queria acabar com alguns pontos de vendas de entorpecentes. A vítima também atendia a várias reclamações e pedidos de moradores. Seu trabalho como líder comunitária a levou para a política local.

De acordo com testemunhas, a atuação de Aga incomodou os criminosos da Barbuda. O traficante Douglas Campos dos Santos Lopes, acusado de ser o chefe do tráfico na região, foi apontado pela polícia como um dos executores de Aga. Em abril deste ano, ele foi condenado a 13 anos e quatro meses de prisão por homicídio duplamente qualificado, no caso de Aga.

Para especialistas, a não solução para esses homicídios é um fato eleitoral grave.

—A falta de elucidação é o sinal da incapacidade de manter o Estado de Direito e a democracia com a dignidade que a população merece. A impunidade acaba por incentivar mais crimes — avalia o ex-chefe do Estado Maior da PM e pesquisador do Laboratório de Análise da Violência da UERJ, coronel Robson Rodrigues.

Outro caso na mesma região foi o de Geraldo Cardoso Gerpe (PSB), o Geraldão. Ele foi executado com dois tiros no estacionamento da Câmara de Vereadores de Magé, na noite do dia 13 de janeiro de 2016. Esse é um dos casos cuja motivação política é mais evidente. Apesar do local do crime, o homicídio ainda não foi esclarecido.

A principal linha de investigação da polícia aponta que uma disputa política no município estaria por trás do crime. O vereador, que havia sido secretário de Ordem Pública na gestão do prefeito Nestor Vidal (MDB), estava à frente de uma comissão que investigava irregularidades relativas à gestão do antigo aliado.

Em outros casos, há linhas de investigação diferentes, como crime passional e briga de trânsito.

MEDO DIFICULTA APURAÇÃO

Para o titular da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF), Daniel Rosa, parte da dificuldade nas investigações está relacionada ao receio de testemunhas. Ele cita problemas no programa de proteção do estado para essas pessoas:

— As testemunhas têm muito medo de colaborar por causa da ineficácia do programa. Sentem-se inseguras e ficam desguarnecidas. Todas essas investigações se tornam extremamente difíceis por isso.

Já em Duque de Caxias, as investigações apontam uma conexão entre três das 13 mortes. As vítimas — Leandro da Silva Lopes, o Leandrinho; Sérgio da Conceição de Almeida Junior, o Berém do Pilar; e Denivaldo Meireles da Silva — se conheciam e atuavam juntas. Os dois primeiros eram pré-candidatos a vereador, e o terceiro, contador, auxiliava ambos em suas pretensões políticas.

Os inquéritos ainda não foram concluídos, mas a linha mais forte da DHBF é a de que os crimes estejam ligados ao furto de combustível de dutos da Petrobras.

MORTE DE NADINHO FICA SEM CONCLUSÃO

No ano que vem, o assassinato do então ex-vereador do Rio Josinaldo Francisco da Cruz, o Nadinho, completa uma década. A investigação do caso permanece em andamento na Delegacia de Homicídios da capital. Até hoje, ninguém foi preso.

A ação dos criminosos foi flagrada por câmeras de segurança do condomínio onde Nadinho morava e foi executado, mas, mesmo assim, a polícia não chegou aos responsáveis pelo crime. Ele estava em frente ao seu prédio quando foi abordado e baleado pelos assassinos. Mesmo ferido, tentou fugir, mas acabou caindo no chão e foi novamente baleado.

Nadinho era suspeito de envolvimento com a milícia de Rio das Pedras, na Zona Oeste, e foi indiciado pela CPI das Milícias. Ele foi morto em meio a uma guerra pelo controle do grupo paramilitar.

Durante as investigações, dezenas de testemunhas foram ouvidas, e várias diligências foram feitas, mas a polícia não chegou aos responsáveis.

Este vídeo pode te interessar

O delegado titular da Delegacia de Homicídios da capital, Giniton Lages, afirma que as investigações serão retomadas. Ele assumiu o cargo em março, após a morte da vereadora Marielle Franco, caso que também está sob sua responsabilidade.

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais